Investigações apontam que organizações criminosas tentam influenciar as eleições para favorecer sua atuação nas cidades. Veja o que o TSE tem feito para evitar isso

Investigações apontam que organizações criminosas tentam influenciar as eleições para favorecer sua atuação nas cidades. Veja o que o TSE tem feito para evitar isso


“Para mim, a democracia é como uma roseira: é preciso plantar e cultivar todos os dias. Agora, a erva daninha não escolhe o terreno.”(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A uma semana do primeiro turno, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia, diz que a tentativa do crime organizado de influenciar e infiltrar-se nas eleições municipais é “bastante grave” e “não pode ser subestimada”. Segundo ela, o Tribunal tem coordenado o cruzamento de dados para acompanhar o tema.

O ministro defende que o Estado “deve agir para reduzir a violência” na política e que os candidatos envolvidos em brigas durante os debates devem ser punidos. “Como pode alguém que se apresenta de forma agressiva ser um pacificador quando assume o cargo?” ela pergunta. “A democracia exige vigilância permanente”, reforça.

Para evitar que organizações criminosas tentem influenciar eleições para favorecer sua atuação nas cidades, Cármen Lúcia destaca que montou um grupo de especialistas do Ministério Público e da Polícia Federal para verificar, a partir de pedidos de registro de candidatura, se havia pessoas envolvidas em processos relacionados a organizações criminosas.

“Isso nunca foi feito antes, mas, diante da notícia de uma possível infiltração de organizações criminosas em órgãos estatais, a Justiça Eleitoral teve o cuidado de fazer essa verificação com a ajuda de especialistas. Por um lado, existe o direito de votar e de ser votado, sendo os casos de inelegibilidade definidos por lei. Porém, a Justiça Eleitoral não pode ignorar essas questões”, declarou.

O ministro afirma que o cenário é bastante grave, principalmente considerando a audácia do crime de querer ser o formulador de leis. “Existe um risco real de que esse comportamento se estenda aos níveis estadual e até nacional. Esta audácia criminosa é grave. Hoje (sexta-feira), por exemplo, às 6h30, recebi uma ligação do presidente de um tribunal regional eleitoral, manifestando preocupação com a segurança de um juiz que está sendo ameaçado”, explica.

O juiz reforça que as medidas necessárias estão sendo tomadas. “Tivemos um assassinato em João Dias, no Rio Grande do Norte, do prefeito que buscava a reeleição. Há indícios de envolvimento de facções criminosas. Tudo isto mostra que a questão não pode ser subestimada. Devemos adotar medidas imediatas, tanto para evitar que os criminosos atinjam os seus objetivos, como para evitar que algo que já começou em outros momentos se perpetue.”

Segundo Cármen Lúcia, foi preciso criar uma estratégia robusta para garantir a segurança das eleições, que envolva todas as polícias estaduais e federais. Haverá também apoio das Forças Armadas para os locais que o solicitarem. “Além disso, pela primeira vez determinei que haveria juiz em todos os municípios brasileiros no dia das eleições. Esta estratégia foi implementada para que os eleitores se sentissem seguros e protegidos, tanto física como legalmente, em todo o território nacional”, destaca.

Líderes assassinados

Entre janeiro e julho deste ano, 35 líderes políticos morreram, segundo o Observatório da Violência Política e Eleitoral no Brasil. Para o ministro, é preciso saber a causa. “É apenas eleitoral ou houve um aumento da violência na sociedade? Os números são alarmantes. Precisamos de uma resposta diferente, uma vez que as abordagens actuais se revelaram ineficientes. Esta situação exige reformulação institucional, procedimentos mais eficazes e alterações na legislação. O Estado deve agir para reduzir a violência, e isso deve ser comprovado estatisticamente. O que a sociedade realmente deseja é viver num ambiente seguro e pacífico.”

Sobre o questionamento do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre as urnas eletrônicas em 2022. Os questionamentos foram respondidos pelo TSE. “Era tudo mentira. E os brasileiros têm muito mais conhecimento do que algumas pessoas, que se acham conhecedoras, pensam que têm. O mesmo nível de confiança de antes foi recuperado. Simples assim. Foi mantida a confiabilidade da Justiça Eleitoral e do eleitorado, que vinha sendo questionado por interesses específicos.”

“A democracia exige vigilância permanente. Para mim, a democracia é como uma roseira: é preciso plantá-la e cultivá-la todos os dias. Agora, a erva daninha não escolhe o terreno. Portanto, a democracia é um cultivo permanente. Não tenho um minuto para me desligar disso”, finalizou. A informação é do jornal O Globo.