Governo federal usará inteligência artificial para tentar reduzir impacto fiscal de perdas judiciais

Governo federal usará inteligência artificial para tentar reduzir impacto fiscal de perdas judiciais


Ministério do Planejamento liberou R$ 25 milhões em créditos complementares para a Advocacia-Geral da União

Foto: Divulgação/AGU

Ministério do Planejamento liberou R$ 25 milhões em créditos adicionais para a Advocacia Geral da União, destinados, entre outras coisas, à execução de projetos estratégicos de tecnologia da informação

O governo Luiz Inácio Lula da Silva contratou serviços da Microsoft e da OpenAI, criadora do ChatGPT, que será utilizado pela AGU (Procuradoria-Geral da República) para acelerar a análise de milhares de ações judiciais utilizando inteligência artificial, com foco em temas que geram impacto tributário .

O Ministério do Planejamento liberou R$ 25 milhões em créditos adicionais para a AGU, destinados, entre outras coisas, à execução de projetos estratégicos de tecnologia da informação.

Com a iniciativa, o governo busca domar a pesada conta da dívida judicial, que tem consumido parcela significativa do orçamento público. O Planejamento calculou que gastará R$ 70,7 bilhões em 2025 com essas decisões judiciais em que o governo acabou perdendo.

O número não inclui solicitações de pequeno valor (RPV), que historicamente giram em torno de R$ 30 bilhões. Ao todo, a cobrança projetada de mais de R$ 100 bilhões representa um salto em relação aos R$ 37,3 bilhões pagos em precatórios em 2015.

O número equivale a cerca de 1% do PIB (Produto Interno Bruto), superando em 15% o valor que o governo projeta pagar em seguro-desemprego e abono salarial no próximo ano.

Na tentativa de ter maior previsibilidade em relação a esses gastos, que são obrigatórios, o serviço de inteligência artificial buscará atuar nas ações judiciais enquanto ainda não há decisão final, mapeando tendências e possíveis frentes de atuação da AGU.

Um dos eixos do projeto prevê maior eficiência na triagem das ações para, segundo a AGU, identificar com mais rapidez as características de cada processo e permitir que as áreas jurídicas do governo recebam sugestões de modelos e teses que possam ser utilizadas em os tribunais.

O aplicativo robótico também produzirá estatísticas e análises sobre a coleta de processos para possibilitar “atuação estratégica de defesa e proposição de acordos, especialmente sobre temas de maior impacto fiscal”, segundo a agência.

Num terceiro eixo, a ferramenta auxiliará associados e funcionários da AGU na síntese de documentos e até na produção de declarações a serem apresentadas na tramitação de processos judiciais.

Segundo o governo, os textos serão produzidos adotando a base de conhecimento da AGU como contexto para manter o alinhamento com as teses e posicionamentos da instituição.

O uso da ferramenta pode facilitar a resolução de pequenas causas, que são difíceis de serem acompanhadas pelos advogados públicos devido ao grande volume de processos, apesar de gerarem custos tributários significativos.

AGU informou à Reuters que a Microsoft fornecerá uma ferramenta de inteligência artificial por meio da plataforma de computação em nuvem Azure, que presta o serviço da OpenAI, criadora do ChatGPT.

Somente nos precatórios previstos para 2025, 153 mil processos têm valor inferior a R$ 1 milhão cada, representando 98,3% do total de decisões contra o governo. Juntas, todas essas ações totalizam R$ 28,4 bilhões – valor que sobe para cerca de R$ 58 bilhões se considerados os RPVs.

A AGU afirmou que o projeto de inteligência artificial do órgão não substituirá “de forma alguma” o trabalho de associados e funcionários. Mas “ajudará a ganhar eficiência e assertividade, sendo uma atividade totalmente supervisionada por seres humanos”.