Governo cede, aceita mudar decreto sobre armas de fogo; Senado desiste de derrubar medida de Lula

Governo cede, aceita mudar decreto sobre armas de fogo; Senado desiste de derrubar medida de Lula


Jaques Wagner, líder do governo no Senado, disse que o novo decreto manterá a proibição de clubes de tiro próximos às escolas. (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)

O governo federal e o Senado chegaram a um entendimento a respeito de um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que regulamenta o acesso a armas de fogo. Após o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), anunciar que o Palácio do Planalto irá editar um novo decreto, desta vez menos restritivo em relação às armas, a Casa Legislativa desistiu de votar um projeto de decreto legislativo (PDL ) que derrubaria a medida do governo.

O PDL, de autoria do deputado Ismael (PSD-GO) e reportado pelo senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), quer derrubar a proibição de clubes de tiro a um quilômetro ou menos das escolas. O Ministério da Justiça e Segurança Pública vai preparar agora um texto que permite o funcionamento de estabelecimentos já estabelecidos e proíbe aqueles que abrirão sob as novas regras.

Segundo Wagner, o novo decreto será publicado na próxima segunda-feira (2). O governo também concordou em retirar a exigência de que as armas dos colecionadores sejam avaliadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Há avaliação de que o Iphan não possui estrutura para realizar esse tipo de fiscalização.

Outra flexibilização do texto é a exigência de que os atiradores participem de treinamentos e competições a cada 12 meses. A previsão habitual mantém-se, mas com um número menor de treinos e competições.

“Saí há pouco do gabinete do Presidente da República. E fui conversar com ele e alguns conselheiros e ministros sobre esse tema. E o senador Vanderlan é testemunha de que só assumi o compromisso em consulta com o presidente, de que até sexta-feira, ou no máximo segunda-feira, teremos o que chamarei de decreto corretivo”, declarou Jaques Wagner.

“O problema desse tema, eu estava conversando com o senador Flávio (Bolsonaro) há um tempo, é o fato de que quando ficou muito polarizado, o meu grupo é a favor, o outro grupo é contra, aí você perdeu o espaço principal da democracia , que é negociação, bom senso e equilíbrio”, acrescentou o petista.

Rival do governo, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) elogiou o acordo articulado por Wagner e elogiou o parlamentar:

“Quero, primeiramente, parabenizar o relator, senador Vanderlan, o deputado Ismael Alexandrino também, de Goiás, e o líder do governo na pessoa do senador Jaques Wagner, porque foi exatamente isso que foi dito. Gente, acho que nem leram o que o PDL falou, e já virou fla-gripe, ou Vasco e Flamengo.”

​​As mudanças já vinham sendo tratadas internamente pela gestão do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.

O ministro entendeu que a restrição aos clubes de tiro só deverá valer a partir de agora e não poderá ser utilizada para fechar estabelecimentos regulamentados. O decreto definiu prazo de 18 meses para as empresas se “adaptarem”. Na visão do ministro, isso precisa ser mudado, caso contrário o governo federal terá que pagar milhões de indenizações aos empresários do setor.

O texto que busca derrubar a medida do governo já havia sido aprovado pela Câmara e pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado há duas semanas, mas sofreu sucessivos adiamentos no plenário do Senado.

No relatório do PDL, o senador do PSD criticou a medida do governo e avaliou que “a competência para regular a localização dos estabelecimentos é municipal”. Disse ainda que “a medida invade a competência municipal e prejudica a segurança jurídica dos entes já constituídos, impossibilitando a continuidade das suas atividades, além de não ter qualquer justificativa técnica para melhorar a segurança pública”.

O atual decreto de Lula, que impõe limites ao armamento, foi publicado no ano passado, durante a gestão de Flávio Dino no comando do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

A base governamental agiu no sentido de adiar a análise da iniciativa, que foi agendada duas vezes pelo plenário do Senado, mas sem que seu mérito fosse analisado.

O Instituto Igarapé, voltado para segurança pública, elaborou nota técnica contra o PDL. Segundo a nota, “as fiscalizações do Exército aos acervos do CAC, incluindo clubes e entidades de tiro, não atingiram 4%”. Dizem ainda que “muitos clubes de tiro continuam funcionando sem requisitos mínimos de segurança no país. A grande maioria destes clubes está perto de escolas”.

A medida do governo dificulta o registro, a posse e a venda de armas de fogo e munições. A iniciativa analisada pelo Congresso derruba dispositivos que retomaram a restrição do acesso civil a armas e munições de maior potencial ofensivo (calibres de uso restrito) e reduziram a quantidade de munições que podem ser adquiridas pelos cidadãos.

O decreto de Lula também retomou a restrição à venda de armas, como pistolas 9mm, .40, .45 ACP, apenas para forças de segurança. O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro havia autorizado a aquisição desses modelos pela população civil, o que fez com que a pistola .40 fosse a mais adquirida pelos CACs (caçadores, atiradores esportivos e colecionadores) nos últimos anos.