“Gêmeos digitais”: inteligência artificial já consegue replicar personalidades humanas com precisão de 85%

“Gêmeos digitais”: inteligência artificial já consegue replicar personalidades humanas com precisão de 85%


O experimento foi realizado por uma universidade norte-americana em parceria com o Google. (Foto: Freepik)

A inteligência artificial seria capaz de pensar exatamente como você? Um estudo desenvolvido pela Universidade de Stanford (Estados Unidos) em parceria com o Google criou algo como “gêmeos digitais”, após conversas de apenas duas horas com mil voluntários. A precisão é de 85%, um novo patamar científico em termos de duplicação da personalidade humana utilizando este tipo de sistema.

A pesquisa foi liderada pelo doutorando Joon Sung Park, cuja equipe selecionou indivíduos de diversos perfis demográficos norte-americanos. Eles foram entrevistados usando um software projetado para “incorporar” as atitudes e a personalidade de uma pessoa.

Segundo a revista científica “MIT Technology Review”, cada voluntário recebeu até 100 dólares (R$ 605) para participar da entrevista, na qual uma voz simpática os orientou por temas que vão desde a infância até suas opiniões sobre política.

A chave para o sucesso do estudo pode estar na metodologia. Em vez de utilizar questionários simples ou dados demográficos, os investigadores optaram por entrevistas qualitativas que lhes permitiram captar nuances pessoais únicas.

“Podemos criar um agente de uma pessoa – uma réplica de IA – que capte muitas das suas complexidades e naturezas idiossincráticas”, disse Joon Sung Park à revista científica “New Scientist”.

Para verificar a precisão das réplicas digitais, os pesquisadores submeteram os participantes e suas duplicatas virtuais a uma série de testes duas semanas depois.

Um detalhe revelador surgiu quando os humanos repetiram os mesmos testes: eles só acertaram as suas próprias respostas originais 81% das vezes, mostrando que as pessoas variam as suas respostas ao longo do tempo.

Por sua vez, tendo em conta esta variabilidade natural, os agentes de IA alcançaram uma precisão efectiva de 85% e, o que é ainda mais significativo, superaram em 14 pontos percentuais os modelos tradicionais de previsão demográfica utilizados até agora.

Park disse ao “MIT Technology Review” que chegou a esta metodologia de entrevista após sua própria experiência em podcasts. “Depois de uma entrevista de duas horas, pensei que agora as pessoas sabem muito sobre mim”, explicou.

Laboratório virtual

O principal objetivo desta tecnologia não é criar duplicatas digitais por diversão, mas sim facilitar a pesquisa em ciências sociais. Os pesquisadores propõem utilizar esses agentes para avaliar políticas públicas, estudar respostas a novos produtos ou analisar reações a eventos sociais significativos, que seriam muito caros ou eticamente complexos para serem estudados com pessoas reais.

No entanto, o estudo também reconhece algumas limitações importantes. Os agentes de IA apresentaram menor precisão em situações que exigem tomada de decisões econômicas ou que envolvem dinâmicas sociais complexas.

Além disso, os investigadores têm sido claros sobre os riscos potenciais destas tecnologias, particularmente no que diz respeito à sua potencial utilização indevida para manipular ou fazer-se passar por outras pessoas online.

Para proteger os participantes, a equipe estabeleceu algumas salvaguardas éticas. Park explicou à “New Scientist” que qualquer participante pode retirar os seus dados do estudo ou restringir o acesso ao seu “gémeo digital”, sendo a utilização destes agentes estritamente limitada a fins académicos.

Vislumbre do futuro

Embora ainda estejamos longe da adoção generalizada destas tecnologias, empresas como a Tavus já estão a experimentar gémeos digitais que requerem menos dados para replicar personalidades. O executivo da Tavus, Hassaan Raza, disse ao MIT Technology Review que a pesquisa abre caminho para métodos mais eficientes, como entrevistas curtas, para treinar modelos personalizados.

Em última análise, esta investigação representa um avanço significativo na compreensão do comportamento humano, mas também destaca a necessidade de equilibrar a inovação com a responsabilidade ética. Embora a IA possa replicar aspectos fundamentais da nossa personalidade, a riqueza e a complexidade da experiência humana continuam a ser um grande desafio para a tecnologia. (com informações da agência O Globo)