Frase de uma diretora do Banco Central dos Estados Unidos ajudou a empurrar o dólar para R$ 5,44; entenda

Frase de uma diretora do Banco Central dos Estados Unidos ajudou a empurrar o dólar para R$ 5,44; entenda


Diretora do Fed, Michelle Bowman. (Foto: Bloomberg)

Todas as atenções do mercado financeiro brasileiro nesta terça-feira estavam voltadas para a ata da última reunião do Copom —o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC), que na semana passada decidiu interromper a queda dos juros no Brasil, após sete cortes seguiu — e aos discursos de Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária do BC.

O dólar operava em leve alta, após ter fechado a véspera abaixo de R$ 5,40. Mas então, um discurso de um diretor do Federal Reserve (Fed, o Banco Central Americano) mudou o ânimo dos analistas e o dólar chegou a R$ 5,44.

Michelle Bowman, que no início de Maio tinha afirmado não ver espaço para cortes nas taxas de juro nos EUA este ano, afirmou agora, numa conversa com jornalistas após um evento em Londres, que não acredita numa redução das taxas de juro. taxas em “anos futuros”.

Questionada se continua a ver um cenário sem redução do custo do crédito este ano, Bowman respondeu que esta é a sua opinião. “Não incluí quaisquer novos cortes nas taxas na minha projecção económica para a maior parte deste ano”, disse ela, e depois acrescentou que tinha mudado “essa visão para cortes nos anos futuros nesta altura, com a incerteza das perspectivas económicas. ”

Logo após os discursos de Bowman, o dólar começou a subir com mais força, atingindo a máxima de R$ 5,4509.

As taxas de juros mais altas nos EUA atraem investimentos de todo o mundo para lá, reduzindo o fluxo de dólares para países emergentes, como o Brasil, e pressionando a taxa de câmbio do dólar em relação ao real. O cenário externo adverso foi um dos fatores citados pelo Banco Central do Brasil na ata de sua última reunião do Copom, divulgada nesta terça-feira.

Até ao início deste ano, a maioria dos analistas previa que a Fed começaria a reduzir a sua taxa de juro de referência em Março deste ano. Agora, o cenário básico é que a taxa se mantenha no patamar atual – entre 5,25% e 5,5% ao ano – pelo menos até o final de 2024. E agora, o diretor Bowman indicou que esse período pode ser ainda mais longo.

Manutenção de taxas

Aqui, na ata do Copom, o BC afirmou que manterá os juros em 10,5% ao ano por “tempo suficiente” para ancorar as expectativas de inflação:

“A política monetária deve permanecer contracionista durante um tempo suficiente, a um nível que consolide não só o processo de desinflação, mas também a ancoragem das expectativas em torno dos seus objetivos.”

O BC sinalizou ainda que a taxa de juros real (ou seja, os juros nominais descontados da inflação) considerada “neutra”, ou seja, que não acelera nem contém a alta dos preços, mudou diante do novo cenário econômico. Essa taxa passou agora de 4,5% ao ano para 4,75% ao ano.

Entre as mudanças de cenário destacadas pelo BC brasileiro estão a atividade econômica mais forte no Brasil e o cenário internacional adverso.

“O ambiente externo parece ser mais adverso, devido à elevada e persistente incerteza sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e à velocidade com que a inflação cairá de forma sustentada em vários países”, refere o comunicado. Portanto, afirma o BC, “a incerteza global sugere maior cautela na condução da política monetária doméstica”.

Mau humor no mercado

Gustavo Okuyama, gestor de carteiras da Porto Asset Management, explica que o dólar e os juros futuros reagiram positivamente à ata do Copom divulgada anteriormente, que foi bem recebida pelo mercado, mas os ativos começaram a ser contaminados pela piora do clima no exterior.

“Outros mercados emergentes também estão a sofrer com o dólar mais forte. Bowman é notadamente um dos diretores da ala mais hawkish (restritiva em relação ao controle da inflação) do Federal Reserve, e esse comentário no sentido de ser a favor de juros mais altos ou de não reduzir os juros acaba sendo mais uma força na mesma direção (de valorização do dólar)”.

Ele menciona ainda que, anteriormente, os dados de confiança do consumidor nos Estados Unidos caíram e a inflação no Canadá veio muito acima do esperado, contribuindo para contaminar o ânimo do mercado.