Faltam no Brasil profissionais de Ciências, Tecnologia e Engenharia

Faltam no Brasil profissionais de Ciências, Tecnologia e Engenharia


Pedagogia, Administração, Direito e Enfermagem são, há uma década, os cursos com maior número de matrículas no país. (Foto: Reprodução)

Dados do Censo 2022 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostram que Pedagogia, Administração, Direito e Enfermagem são, há uma década, os cursos com maior número de matrículas no país. De acordo com o último censo realizado pelo órgão, 27,4% dos estudantes que ingressaram na universidade em 2022 optaram por uma dessas licenciaturas. Isso significa que um em cada quatro calouros escolheu uma dessas quatro especialidades. Na outra ponta, as empresas têm dificuldade em contratar profissionais em áreas ligadas à sigla inglesa STEM: Science, Technology, Engineering and Mathematics.

Hoje, o conhecimento na área tecnológica, incluindo big data (área que estuda como tratar, analisar e obter informações de conjuntos de dados muito grandes) e inteligência artificial chamam a atenção dos empregadores. E quem busca cursos complementares nessas áreas aumenta suas chances de empregabilidade.

Análise do FGV-Ibre liderada por Janaina Feijó indica aumento de 10% ao ano na procura por profissionais de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) no país. É a categoria que está no topo das mais procuradas. Uma pesquisa do Google realizada com Abstartups e Box 1824 prevê um déficit de 530 mil profissionais de Tecnologia no Brasil até 2025.

“Há um desequilíbrio entre mão de obra e demanda no Brasil. O que vemos nos países desenvolvidos é que eles buscam trabalhar justamente na criação daquilo que o mercado busca”, afirma o pesquisador.

A CloudWalk, dona da máquina de pagamentos InfinitePay, conseguiu aumentar a equipe focada em inteligência artificial de 34 para 45 pessoas em um ano. Para isso, a empresa abriu o processo seletivo para candidatos de todo o mundo. A possibilidade de trabalho 100% remoto, neste caso, foi uma forma de encontrar profissionais mais qualificados, afirma Pedro Terra, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa:

“Queremos as melhores pessoas no time, e elas não necessariamente estarão no Brasil. Temos pessoas que vivem na África do Sul, Índia, Canadá e Bolívia.”

Mariana Rolim, diretora executiva da Brasscom, que reúne empresas de tecnologia, defende “ampla coordenação” entre governo, instituições de ensino e setor privado em favor de políticas de formação de pessoas mais qualificadas:

“Precisamos de mais profissionais. Essa demanda só vai aumentar.”

Estudos internacionais sobre o futuro do trabalho apontam tendências que favorecem a procura por profissionais nas áreas STEM em todo o mundo. O diagnóstico mais recente do Fórum Económico Mundial sobre o tema mostra que as funções que mais rapidamente irão gerar novos empregos nos próximos três anos estão ligadas à tecnologia e à digitalização. As vagas para especialistas em análise de dados (big data), inteligência artificial, machine learning (IA) e segurança cibernética crescerão 30% em todo o mundo até 2027, diz o estudo.

Salário

Fernando Veloso, pesquisador do FGV Ibre, acredita que esse descompasso entre formação e mercado de trabalho é um alerta preocupante.

“Isso indica algo mais profundo, que o mercado de trabalho não tem funcionado muito bem, seja porque a economia não está crescendo, seja porque as próprias universidades estão treinando em áreas que o mercado não está exigindo”, afirma. “O que surpreende é que essas pessoas com ensino superior deveriam ser mais procuradas em geral. Mas os seus próprios salários têm caído desde 2012.”

A última pesquisa sobre mercado de trabalho do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra aumento da massa salarial, mas concentrado em atividades menos qualificadas. Veloso é coautor de estudo do FGV Ibre que indica que a renda dos brasileiros instruídos encolheu 16,7% na última década, entre aqueles com 12 a 15 anos de estudo. Entre aqueles com 5 a 8 anos de escolaridade, a queda é de 2,9%.

A pesquisa compara o rendimento dessa parcela da população nos segundos trimestres de 2012 e 2023, com base em dados divulgados pelo IBGE.