Ex-ministro de Lula, Flávio Dino avalia que o governo do qual participou demorou para perceber a gravidade das queimadas

Ex-ministro de Lula, Flávio Dino avalia que o governo do qual participou demorou para perceber a gravidade das queimadas


A decisão do ministro do STF de retirar as despesas com combate a incêndios do quadro fiscal ajudou o Executivo. (Foto: Gustavo Moreno/SCO/STF)

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino avalia que o governo Luiz Inácio Lula da Silva demorou para perceber a gravidade dos incêndios no país. Para o magistrado, porém, não seria necessário “grande esforço” para chegar à conclusão de que “se vive um dos maiores desastres ambientais dos últimos cem anos, devido à degradação acelerada das condições climáticas do nosso Planeta”.

O diagnóstico está contido em decisão proferida por Dino no domingo (15), quando autorizou o governo a abrir créditos extraordinários para combater as queimadas que se espalham pelo país, principalmente na Amazônia e no Pantanal.

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública já pretendia retirar as despesas de combate aos incêndios do limite de gastos do enquadramento e da meta fiscal e aguardava apenas uma petição da Advocacia-Geral da União (AGU) sobre o assunto.

Dino tem audiência nesta quinta-feira, 19, pela manhã, com representantes dos governos de dez Estados para verificar o cumprimento das medidas emergenciais determinadas pelo STF, em março, para combater o fogo que se espalha pelo país.

À tarde, os governadores do Pará, Goiás, Mato Grosso, Amazonas, Acre, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Roraima e Distrito Federal, além dos vice-governadores de Rondônia e Amapá, se reunirão com o Ministro-Chefe da Fazenda Civil Câmara, Rui Costa, para discutir um programa de resposta rápida a incêndios.

Lula enviou ao Congresso Medida Provisória para liberação de crédito extraordinário de R$ 514 milhões, valor destinado ao combate a incêndios. Nesta terça-feira, 17, em reunião com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do STF, Luís Roberto Barroso, também anunciou que encaminhará ao Legislativo uma proposta para aumentar as penas para quem colocar fogo em florestas.

Pesquisa realizada pelo Palácio do Planalto mostra que a imagem de Lula foi prejudicada por conta dos incêndios. Em Nova York, o presidente usará seu discurso de abertura da 79ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na próxima semana, para destacar a necessidade de proteger a Amazônia.

Embora a decisão de Dino sobre o crédito extraordinário tenha representado uma tábua de salvação fiscal para o Executivo, setores do governo têm reclamado do “ativismo” do magistrado na definição de políticas públicas. O ministro não responde às críticas.

Em conversas privadas, membros do primeiro escalão dizem, por exemplo, que nunca viram fotos coloridas numa decisão judicial. Tudo porque no domingo (15), Dino anexou à sua sentença imagens da tragédia no Pantanal e na Amazônia. Um deles mostrava as patas de uma onça pintadas em carne viva pelo fogo.

Assim que o ministro deu seu primeiro despacho, no qual estabeleceu o prazo de 15 dias para o Executivo intensificar o combate aos incêndios no Pantanal e na Amazônia e determinou o envio de agentes das Forças Armadas, da Polícia Federal, do A Polícia Rodoviária Federal e a Nacional da região, houve perplexidade na Esplanada.

A titular do Meio Ambiente, Marina Silva, ainda disse que o governo já trabalhava nesse sentido, com ações de prevenção desde 2023, mas a seca chegou mais cedo.

Marina observou, nos últimos dias, que as medidas são ajustadas “o tempo todo” e viu ações criminosas por trás dos incêndios. Para ela, existe “terrorismo climático” no Brasil. “Quando você tem uma situação em que sabe que atear fogo é como disparar um barril ou um paiol de pólvora, isso é intenção criminosa”, argumentou ela.

Na reunião desta terça, Lula disse ainda que “alguns setores” tentavam “criar confusão” no país, numa referência a aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Mesmo assim, admitiu que o Brasil não estava preparado para lidar com eventos climáticos extremos. “O que estamos percebendo, depois do Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, é que a natureza decidiu mostrar as garras”, afirmou Lula.