Ex-ministra da Agricultura de Bolsonaro reconhece que Lula mudou o tom com o setor, mas a proximidade com o MST e a postura hostil no debate ambiental ainda são obstáculos

Ex-ministra da Agricultura de Bolsonaro reconhece que Lula mudou o tom com o setor, mas a proximidade com o MST e a postura hostil no debate ambiental ainda são obstáculos


“Tenho esse perfil de equilíbrio, de diálogo. Quando vou ao ministro Fávaro (Agricultura) ou ao ministro Haddad (Finança), sou muito bem recebido.” (Foto: Reprodução)

Uma das principais lideranças do agronegócio no Congresso, a senadora Tereza Cristina reconhece que o governo Lula mudou o tom com o setor. O ex-ministro de Jair Bolsonaro considera, no entanto, que a proximidade do PT com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a postura hostil no debate ambiental ainda são obstáculos ao estreitamento de laços com o setor.

– A relação do governo Lula com o agronegócio continua difícil. Por que?

A postura inicial do governo foi ruim. Houve discursos hostis. Lula colocou o MST em sua agenda prioritária, retornando com o negócio da invasão, dando uma conotação de que o MST era um movimento legal. Os produtores rurais não aceitam a insegurança que a invasão de terras produtivas traz. Mas tenho que reconhecer que eles (o governo) fizeram um esforço.

– Houve dois Planos Safra com valores recordes. Isso ajudou?

É um esforço que a bancada reconhece. Agora, é um setor que vem impulsionando a economia. A agricultura assumiu uma dimensão que não tinha nos governos anteriores do presidente Lula. O governo se esforçou para alocar mais recursos.

– O governo vê a bancada ruralista predisposta a criticá-la.

A bancada, na verdade, tem um viés de oposição maior. Eu tenho esse perfil de equilíbrio, de diálogo. Quando vou ao ministro Fávaro (Agricultura) ou ao ministro Haddad (Finança), sou muito bem recebido. Agora, algumas agendas que precisamos alinhar. Temos um sério problema de invasão. Não é culpa do governo, mas ele também não se mexeu. O produtor no Brasil é o único que possui reserva legal privada compulsória, obrigação prevista no Código Florestal. Ainda assim, vemos parte do governo atacando os produtores. Apenas 2% cometem crimes ambientais e colocam todos na mesma cesta. Os produtores se sentem mal com isso. Não vemos nenhuma defesa lá fora para os produtores rurais.

– Há falta de defesa do próprio presidente Lula?

Eu não posso dizer. Ele tem lutado ultimamente, mudou um pouco o tom.

– Por que você acredita que isso aconteceu?

Ele vê que para aprovar qualquer projeto na Câmara hoje é preciso a FPA. São mais de 300 deputados e votaram de forma muito coesa. O senador é mais individualista que o deputado, mas (a frente) vem crescendo também no Senado. É uma questão de sobrevivência, o governo precisa estar mais unido.

– As novas revelações da PF no caso das joias e do “Abin Paralela” mudaram a imagem que você tem do Bolsonaro?

Este processo ainda está em análise. Prefiro aguardar o encaminhamento da defesa do presidente. O presidente é um homem honesto. Eu era seu ministro. Ele nunca me pediu para nomear uma pessoa que não fosse boa. Então, não posso tirar nenhuma conclusão. Lula já estava preso há algum tempo. Ele não foi absolvido, mas os casos foram arquivados e ele agora é o presidente.

– As revelações colocam em causa a posição de Bolsonaro como principal líder da direita?

Para o eleitor bolsonarista, não. Eles confiam nele e pensam que ele está sendo perseguido.

– Você apoia o projeto de anistia para quem participou do 8 de janeiro?

Tem muita gente que não daria nenhum golpe. É claro que aqueles que cometeram a violação precisam ser punidos. Eles prenderam muita gente sem saber. Existem injustiças e teremos que corrigir isso.

– Se Bolsonaro continuar inelegível, quem deverá ocupar esse espaço?

Hoje, o nome mais comentado é o do governador Tarcísio de Freitas. Mas aparecem outros: Ratinho Júnior, Romeu Zema, Ronaldo Caiado. Lá na frente precisaremos ter maturidade para ver o melhor nome.

– Você foi opção para vice-presidente de Bolsonaro em 2022, mas Braga Netto foi o escolhido. Em 2026, se for convocado, você participará da chapa presidencial?

É muito cedo, tudo isso ainda é conjectura, mas se posso contribuir… Seja como candidato ou no processo, quero contribuir com o país. O nome mais consolidado (como candidato a presidente) é Tarcísio de Freitas.

– Michelle Bolsonaro está entre as possibilidades?

Ela é altamente cotada, carismática e tem grande apelo à direita. Ela está concorrendo, sim.

– O nome da direita em 2026 terá que ser abençoado por Bolsonaro?

Sim, ninguém escapa disso. Seu apoio é fundamental para que o nome seja eleito. A informação é de O Globo.