Ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem depõe à Polícia Federal por quase 7 horas

Ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem depõe à Polícia Federal por quase 7 horas


Ele chegou às 15h20 e saiu do local por volta das 22h.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Ele chegou às 15h20 e saiu do local por volta das 22h. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

O delegado federal Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Informações (Abin) e pré-candidato a prefeito do Rio de Janeiro pelo PL, prestou depoimento durante quase 7 horas na sede da Polícia Federal, no centro do Rio, nesta quarta-feira ( 17). Ele chegou às 15h20 e saiu do local por volta das 22h.

A afirmação faz parte da operação Last Mile, deflagrada em 11 de julho, que investiga, desde 2023, o possível uso ilegal de sistemas da Abin para espionar autoridades e adversários políticos do governo Jair Bolsonaro.

Segundo as investigações, o grupo utilizou sistemas GPS para rastrear celulares sem autorização judicial.

Ramagem, que foi diretor da Abin nesse período do governo Bolsonaro, seria o responsável por gravar uma reunião em que o ex-presidente estava entre os participantes e discutir o uso de órgãos públicos para interromper as investigações contra o senador Flávio Bolsonaro, filho de JairBolsonaro.

Segundo a TV Globo, um dos assuntos relacionados ao caso, que deve ter sido questionado nesta quarta-feira, foi o possível encontro extraoficial entre Ramagem e o atual diretor do órgão, o delegado federal Luiz Fernando Corrêa. Segundo informações, a reunião “secreta” aconteceu dentro da Abin, em junho do ano passado.

Violação de confidêncialidade

Na segunda-feira (15), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou o sigilo de uma gravação feita por Ramagem de uma reunião que contou com a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional ( GSI), Augusto Heleno, e com os advogados de Flávio Bolsonaro.

Na época, segundo as investigações, o grupo discutiu formas de usar órgãos oficiais para reverter a investigação contra o senador do PL.

A reunião ocorreu no dia 25 de agosto de 2020. Na época, Flávio era investigado por suspeita de rixa em seu gabinete durante sua gestão como deputado estadual.

Funcionários da Receita Federal identificaram os movimentos do senador com base em levantamentos do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), mostrando incompatibilidade com sua renda.

Na reunião gravada, os participantes buscaram formas de desacreditar essas investigações por meio de órgãos governamentais, segundo a Polícia Federal. Os participantes da reunião negam ter cometido qualquer irregularidade.

Em determinado momento da reunião gravada, a advogada Luciana Pires fala em buscar dados de pessoas envolvidas nas investigações sobre Flávio Bolsonaro.

Manifestações

Após a divulgação do áudio, os participantes da reunião ou seus advogados se manifestaram. Flávio Bolsonaro afirmou que o áudio apenas mostra suspeitas de que um grupo estaria agindo com interesses políticos dentro da Receita Federal com o objetivo de prejudicá-la, e que, com base nessas suspeitas, foram tomadas as medidas legais cabíveis. Fábio Wajngarten, advogado de Bolsonaro, destacou o trecho da gravação em que o ex-presidente diz que não busca o favor de ninguém.

Alexandre Ramagem disse que manifestou sua oposição à atuação do GSI sobre o tema, indicando o caminho por meio de um procedimento administrativo da Receita Federal, previsto em lei, e de um procedimento judicial no STF. A advogada Luciana Pires disse que sua atuação foi técnica, dentro dos estritos limites da área jurídica. A defensora Juliana Birrenbach afirmou que a reunião está protegida pelo sigilo profissional e que está à disposição para esclarecer quaisquer fatos mencionados.