Em rota de colisão: sob pressão, ministros Alexandre Padilha e Márcio Macêdo acirram disputa por espaço no governo

Em rota de colisão: sob pressão, ministros Alexandre Padilha e Márcio Macêdo acirram disputa por espaço no governo


A tarefa de Márcio Macêdo é aproximar a gestão dos movimentos sociais. (Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)

As fissuras na relação entre o Executivo e o Congresso e a dificuldade de conter reações de setores próximos, como servidores federais, aumentaram as críticas dentro do governo a dois dos principais auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Márcio Macêdo (Secretaria Geral). Com cadeiras privilegiadas no Palácio do Planalto, ambos sofrem pressão de aliados e ao mesmo tempo lutam pelo protagonismo com o grupo mais próximo de Lula.

Padilha, à frente da articulação política, e Macêdo, que tem como missão aproximar a gestão dos movimentos sociais, têm sido solicitados com mais agilidade na resolução dos problemas que dominaram a agenda do governo. A relação com o Congresso se deteriora e colhe votos contrários de partidos aliados, ao mesmo tempo em que pelo menos 20 categorias de servidores federais já realizaram algum tipo de greve ou greve por aumento salarial neste ano.

Com relacionamento distante, os ministros tentam se fortalecer em seus posicionamentos num cenário em que aliados de lado a lado trocam farpas nos bastidores. Enquanto pessoas próximas a Macêdo apontam as dificuldades de Padilha no Congresso, inclusive na aprovação de questões econômicas, o grupo do ministro das Relações Institucionais menciona que a Secretaria-Geral poderia liderar debates para fortalecer o ponto de vista do governo, como no episódio da veto às restrições à “saída” de presos, derrubado pelo Congresso. Procurados, Macêdo e Padilha não se manifestaram.

Longe da base

O grupo ligado ao PT em São Paulo, próximo a Padilha, aponta Macêdo como um dos nomes que pode perder espaço na reforma ministerial, prevista para o segundo semestre. O ministro está exposto desde o evento vazio do dia 1º de maio, quando Lula fez denúncia pública contra Macêdo pela baixa adesão ao ato organizado pelos sindicatos. Outra bronca precedeu o episódio: em dezembro do ano passado, o presidente pediu a Macêdo “menos discurso e mais entrega”.

A artilharia contra o chefe da Secretaria-Geral também aponta para falta de protagonismo na negociação de golpes. Aliados apontam que caberia não só ao Ministério da Gestão, responsável pela liberação do orçamento, mas à pasta de Macêdo traçar um panorama e levar a temperatura de cada mobilização ao presidente. Alas do governo temem que o clima se intensifique e encoraje mais categorias a parar. A agenda oficial informa que Macêdo se reuniu no dia 14 de maio com representantes da Central das Entidades de Servidores Públicos (Cesp).

Os aliados de Macêdo atribuem o ataque contra ele ao ciúme de colegas devido à sua proximidade com Lula. Macêdo foi o único dos 38 ministros que passou o réveillon com o chefe e também é próximo da primeira-dama Rosângela da Silva, conhecida como Janja. Interlocutores consideram que o ministro tem perfil reservado e que está no cargo “cumprindo uma missão” para Lula, como fez quando aceitou ser tesoureiro da campanha presidencial em 2022, tarefa que outros petistas rejeitaram.

Ainda criticado por não conseguir reunir os movimentos sociais para atender os atingidos pela tragédia no Rio Grande do Sul, Macêdo foi ao estado na semana passada para tentar reagir. A Secretaria-Geral e o Ministério de Minas e Energia chegaram a um acordo para que o Sindigás ofereça três meses de gás grátis para cozinhas solidárias do estado.

Fricção com Lira

Por outro lado, Padilha sofre o desgaste de comandar a coordenação política do governo em meio a sucessivas derrotas no Congresso. Os petistas veem sua posição fragilizada e, em parte, inviabilizada, já que eles e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não se conversam. A avaliação é que o diálogo interrompido onera os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Fernando Haddad (Finanças).

Aliados do chefe de Relações Institucionais afirmam que ele sabe o quão difícil é chegar ao conjunto sem conversar com Lira, mas consideram que Padilha tentou ao máximo evitar o rompimento. Apesar disso, membros do ministério afirmam que as reivindicações do presidente da Câmara foram atendidas, sendo dirigida por Costa, Haddad ou pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

Os parlamentares petistas também apontam a falta de um comando único para articular o governo e mencionam que diferentes orientações dos líderes acabam desmobilizando a base para atuar de forma linear. Segundo assessores, Lula reclama que são poucos os auxiliares dispostos a defender o governo no dia a dia. Sob reserva, membros da bancada do PT na Câmara dizem que Lula precisa dar uma “sacudida” e defender uma mudança geral nas posições estratégicas.