Eleição em que queria mostrar força vira pesadelo para Jair Bolsonaro nas principais cidades do País

Eleição em que queria mostrar força vira pesadelo para Jair Bolsonaro nas principais cidades do País


Bolsonaro precisava de um candidato que não se parecesse com ele em SP, mas não conseguiu igualar o eleitor mais convicto.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Bolsonaro precisava de um candidato que não se parecesse com ele em SP, mas não conseguiu igualar o eleitor mais convicto. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Jair Bolsonaro imaginou as eleições de 2024 como o momento ideal para mostrar que, mesmo derrotado em 2022 e inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ainda é o líder com maior força de mobilização no Brasil. O cálculo foi que, considerando a união da direita em torno dos nomes que ungiu, seria possível fazer agora o que não foi possível em 2020, quando a pandemia impediu o debate da agenda do seu grupo e, sobretudo, a segurança pública, garantida uma onda conservadora nas prefeituras, como se viu nas disputas legislativas federais dois anos depois. Até agora, tem dado errado.

O caso de São Paulo é o mais simbólico. Bolsonaro queria um nome que representasse exatamente o núcleo do seu eleitorado mais convicto e acabou convencido por Valdemar Costa Neto e Tarcísio de Freitas de que era melhor abraçar o prefeito Ricardo Nunes (MDB), nome mais palatável para uma parcela moderada do eleitorado . O cálculo era simples: com taxa de rejeição acima de 60%, Bolsonaro precisava de um candidato que não se parecesse com ele. Não conseguiu igualar precisamente o eleitor mais convicto que, apesar da análise de que um moderado tinha mais chances, apoiou a candidatura de Pablo Marçal.

Bolsonaro sentiu o cheiro do perigo ao perceber que o ex-técnico poderia se tornar uma ameaça ao seu domínio na direita. Seus filhos foram às redes para tentar demoli-lo. O conselheiro Fábio Wajngarten previu que iria desmoronar ao ousar desafiar o mito. A reação dos seguidores e a primeira pesquisa após o início desse esforço mostraram que pode não ser tão fácil. E o bolsonarismo, envergonhado, voltou a dialogar com Marçal mesmo depois de o ex-técnico ter humilhado os filhos do presidente nas redes sociais. Ainda não significa uma mudança de lado, mas sim a abertura de um espaço para marchar ao lado deles em vez de correr o risco de ser derrotado pela direita.

Embora despenda esforços que não imaginava que seriam necessários em São Paulo, especialmente porque Tarcísio de Freitas garantiria que Nunes fosse empurrado morro acima, Bolsonaro vê cenários piores do que o esperado em outras partes do Brasil. No Rio de Janeiro, onde fez carreira política, o ex-presidente sabia que a tarefa de derrotar Eduardo Paes seria complexa. Ele imaginou, porém, que poderia levar a eleição para o segundo turno. Hoje, parece improvável. Na Quaest, o prefeito passou de 49% para 60%, enquanto Alexandre Ramagem (PL) diminuiu de 13% para 9%. Uma surra em casa que, mesmo que minimizada quando começar o período eleitoral, será difícil de reverter.

Em Minas Gerais, havia a crença de que Bruno Engler (PL) começaria como favorito. Hoje, ele vê Mauro Tramonte (Republicanos), apoiado pelo governador Romeu Zema (Novo) e pelo ex-prefeito Alexandre Kalil (Republicanos), dois velhos rivais, como aqueles que saíram na frente com facilidade.

Onde competem ex-ministros de Bolsonaro, também há derrotas contra eles. No Recife, João Campos (PSB) tem 80% contra apenas 6% de Gilson Machado. Em João Pessoa, Marcelo Queiroga fica apenas em quarto lugar com 7%, enquanto Cícero Lucena (PP) tem 53%. A ousadia de lançar candidaturas próprias não parece fortalecer, mas sim enterrar novos líderes.

Naturalmente, não existem apenas derrotas. Bolsonaro está do lado provável vencedor em algumas capitais, mas sempre com nomes do centro que lideram e são favoritos muito mais por alinhamentos locais que nada têm a ver com o presidente. Bruno Reis na Bahia, ou Eduardo Pimentel em Curitiba, por exemplo. (Ricardo Corrêa/AE)