“É em períodos de maior estresse que a independência dos bancos centrais é necessária”, diz ex-presidente do Banco Central brasileiro

“É em períodos de maior estresse que a independência dos bancos centrais é necessária”, diz ex-presidente do Banco Central brasileiro


O economista sublinha a importância de proporcionar às autoridades monetárias a tranquilidade necessária para implementarem as suas políticas.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O economista sublinha a importância de proporcionar às autoridades monetárias a tranquilidade necessária para implementarem as suas políticas. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Alexandre Tombini, que atuou como presidente do Banco Central do Brasil durante os dois mandatos da ex-presidente Dilma Rousseff, destaca que a tarefa de controlar a inflação não cabe apenas aos bancos centrais. Para ele, os governos também precisam fazer a sua parte no que diz respeito aos gastos e às reformas.

Após um período de cortes nas taxas de juros, as autoridades monetárias da América Latina têm enfrentado maior pressão política para continuar reduzindo as taxas, como é o caso do Brasil, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem criticado constantemente o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

“É justamente nos períodos de maior discussão e estresse que a independência dos bancos centrais se torna necessária”, afirma Tombini, em entrevista exclusiva ao Broadcast. Tombini atualmente representa o Banco de Compensações Internacionais (BIS) para as Américas, operando no México.

O economista destaca a importância de proporcionar às autoridades monetárias a tranquilidade necessária para implementar as suas políticas, que muitas vezes acarretam custos no curto prazo, mas trazem benefícios no médio e longo prazo. Porém, Tombini ressalta que o BIS não se envolve em questões específicas de cada país, sejam eles os Estados Unidos ou o Brasil.

No seu relatório anual, o BIS sinaliza uma melhoria na economia global, com a inflação a cair e a expectativa de uma aterragem suave pela frente. No entanto, o relatório também destaca desafios significativos. Entre eles, a persistência das pressões inflacionárias, especialmente no setor de serviços, e a recuperação dos salários reais, que poderão pressionar os preços.

Além disso, há a questão do crescimento económico. Apesar da desaceleração, espera-se que a maioria dos países latino-americanos experimente uma expansão maior do que a inicialmente esperada. Contudo, Tombini destaca que as políticas monetárias e fiscais têm limites e não alteram a tendência de crescimento no longo prazo.

Outro desafio crucial está relacionado com a política fiscal. Durante a pandemia, houve uma grande expansão nos gastos e na dívida pública na maioria dos países, e a América Latina não foi exceção. Em muitos casos, a política fiscal permanece expansionista, o que pode atrasar o processo de convergência da inflação para a meta. O aumento da dívida pública pode exercer pressão sobre os prémios de risco das economias, mantendo as taxas de juro elevadas. Nos países emergentes, isto pode aumentar a sensibilidade da taxa de câmbio aos ruídos internos e externos, impactando o preço das importações e, consequentemente, os preços internos.

Tombini também aborda a pressão política sobre os bancos centrais da América Latina para reduzir as taxas de juros, mesmo com a inflação ainda acima das metas e o crescimento moderado no cenário global. Ele reforça que o controle da inflação é um esforço compartilhado entre bancos centrais e governos, que precisam garantir orçamentos sólidos para ajudar a economia a convergir e lidar com um ambiente de taxas de juros mais altas por um período prolongado.