Deputados e senadores suspeitam que o movimento capitaneado pelo ministro do Supremo Flávio Dino foi combinado com o Governo

Deputados e senadores suspeitam que o movimento capitaneado pelo ministro do Supremo Flávio Dino foi combinado com o Governo


O Supremo confirmou a manutenção da decisão do ministro Flávio Dino que suspendeu as alterações obrigatórias apresentadas por deputados e senadores. (Foto: Gustavo Moreno/SCO/STF)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira (16) que o “impasse” envolvendo emendas parlamentares permitirá ao Executivo realizar uma nova “negociação com o Congresso”. O petista critica o atual volume de transferências e o seu impacto no Orçamento da União.

Os congressistas estão chateados porque suspeitam que o movimento liderado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino foi combinado com o Planalto. Um dia após chamar as emendas de “malucas”, Lula, em entrevista, afirmou ser a favor dos repasses, desde que transparentes e compartilhados.

“O impasse que está acontecendo agora é possivelmente o fator que nos permitirá negociar com o Congresso Nacional e estabelecer algo justo na relação entre o Congresso e o governo federal”, disse Lula. “O que queremos é que as alterações sejam compartilhadas.”

Recuperar parte dos recursos federais aumenta a chance de o petista influenciar a eleição para as presidências da Câmara e do Senado, em fevereiro de 2025, ameaçando o poder do deputado Arthur Lira (PP-AL) de usar o orçamento das emendas para fazer um sucessor e de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) retornando ao comando do Senado, organizando internamente a divisão.

“Hoje metade do Orçamento está nas mãos do Congresso Nacional. Não há país no mundo que tenha essas condições e os deputados precisam saber disso. Acontece que como (o ex-presidente Jair) Bolsonaro não governou este país, o Congresso assumiu e ficou com metade do Orçamento”, disse Lula.

A fala do presidente considera apenas despesas que podem ser realocadas no Orçamento, sem despesas obrigatórias como pagamento de pessoal. Ele comparou a situação atual com o passado em que as emendas eram liberadas dependendo do apoio dos parlamentares ao governo. E disse que o volume atual desses recursos “é muito dinheiro para um deputado”.

“O Presidente da República utilizou as alterações como fator de negociação política. O deputado que votou a favor dos projetos do governo teve direito a uma emenda. Que era algo em torno de R$ 2 milhões, R$ 3 milhões. Agora, às vezes R$ 50 milhões, R$ 60 milhões.”

Saiba mais

O STF confirmou por unanimidade a decisão do ministro Flávio Dino de suspender as emendas obrigatórias dos parlamentares até que o Congresso dê transparência aos repasses. Ao devolver ao Executivo maior controle do Orçamento, a decisão deixa ao presidente Lula maior poder para negociar com o Congresso, tentar influenciar a sucessão da Câmara e do Senado e cumprir o marco fiscal deste ano.

O julgamento acentuou o conflito institucional. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), enviou à Comissão de Constituição e Justiça duas Propostas de Emendas à Constituição que limitam as competências do Tribunal. Uma delas restringe as decisões monocráticas dos ministros do STF. A outra permite que o Legislativo suspenda decisões do Tribunal por votação de dois terços da Câmara e do Senado.

O Supremo confirmou nesta sexta-feira (16), no plenário virtual, a manutenção da decisão do ministro Flávio Dino que suspendeu as emendas obrigatórias apresentadas por deputados e senadores. Os juízes, por unanimidade, endossaram a determinação de Dino de bloquear a execução das emendas até que o Congresso dê transparência às transferências. O resultado do julgamento na Corte acentuou o clima de conflito entre os Poderes Judiciário e Legislativo.

Horas depois de o STF formar maioria para homologar a liminar de Dino, foi registrado despacho do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que encaminhou duas Propostas de Emenda à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara (PEC). que limitam o poder do Tribunal. Uma das PECs, já aprovada no Senado, restringe decisões monocráticas (individuais) de ministros do Supremo