Coqueluche: com casos registrados por todo o País, entenda a infecção e como se proteger

Coqueluche: com casos registrados por todo o País, entenda a infecção e como se proteger


Ilustração da bactéria Bordetella Pertussis, que causa tosse convulsa. (Foto: Dr_Microbe)

O Brasil vive um aumento de casos de coqueluche. A doença voltou a ser motivo de preocupação para as autoridades sanitárias, principalmente depois que a Secretaria de Saúde do Paraná confirmou a primeira morte no país após três anos sem mortes pela doença.

Só em São Paulo, foram registrados 192 casos do início do ano até o final de junho, um aumento de seis vezes no número de casos registrados ao longo do ano passado. Segundo especialistas, a queda na cobertura vacinal pode estar por trás do aumento de casos da doença.

“Esse retorno é esperado a cada 5 anos. Gostaríamos que o aumento não ocorresse, mas um dos fatores para esse crescimento é justamente esse comportamento do patógeno, que funciona como um ciclo de transmissão. E a outra causa é a baixa cobertura vacinal, que cria um bolsão de pessoas suscetíveis que contraem e transmitem a doença”, explica José Cerbino Neto, infectologista e pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz) e consultor científico da Richet/Rede D’Or.

Segundo o especialista, um terceiro fator também é a melhora no diagnóstico da doença e no sistema de vigilância que acaba aumentando a detecção do quadro e os diagnósticos.

“Coqueluche”

A coqueluche, popularmente chamada de “tosse convulsa”, é uma doença infecciosa aguda, de transmissão respiratória e imunoprevenível, causada pela bactéria Bordetella pertussis. Ocorre principalmente em crianças e bebês menores de um ano de idade.

A vacina pentavalente (difteria, tétano, coqueluche, hepatite B recombinante e Haemophilus influenzae B conjugada) é oferecida gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) aos dois, quatro e seis meses de idade. Além disso, estão indicados mais dois reforços com a vacina DTP (difteria, tétano e coqueluche), também conhecida como vacina tríplice bacteriana para crianças, aos 15 meses e aos 4 anos.

Em dez anos, a cobertura vacinal da DTP despencou no Brasil. Em 2012, o país vacinou 93,81% do público-alvo e a Região Sudeste alcançou a maior cobertura (95%). Em 2022, o índice geral era de 77,25% e o Sudeste caiu para 74,79%, mostram dados do DataSUS. O Ministério da Saúde recomenda cobertura vacinal superior a 80% para evitar que o vírus circule e cause epidemias.

Levando em consideração que a doença não traz imunidade a quem a contraiu, ou seja, quem foi infectado pode contraí-la novamente, e que os anticorpos gerados pela vacina diminuem com o passar dos anos, é recomendado que os adultos receber doses de reforço da vacina. dTpa (versão acelular do DTP) a cada cinco a 10 anos.

Faixa etária

Essa vacina é recomendada pelo SUS para maiores de 7 anos que não tomaram DTP, para profissionais de saúde e para gestantes até o terceiro trimestre de gestação. Porém, teve uma taxa de aceitação de apenas 41% este ano na capital paulista.

“A doença pode afetar pessoas de qualquer idade. É um mito acreditar que apenas crianças de até um ano contraem a doença. Tem manifestação mais grave em crianças menores de seis meses, devido à baixa imunidade e esquema vacinal incompleto. Porém, pode acometer adultos e adolescentes de formas mais leves, mas que tem papel importante na cadeia de transmissão”, afirma Cerbino.

Transmissão e sintomas

A tosse convulsa é considerada uma das doenças mais transmissíveis que existe, junto com o sarampo. É transmitida pelo contato com gotículas de pessoas infectadas, podendo gerar, a cada infecção, outros 17 casos secundários.

A doença tende a se espalhar mais em épocas de clima ameno e frio, como primavera e inverno, devido ao fato das pessoas passarem mais tempo em ambientes fechados.

“A tosse convulsa tem uma primeira fase chamada “fase catarral”, que apresenta sintomas semelhantes aos da gripe, com febre, dores no corpo, congestão nasal e um pouco de tosse seca. Esta é a fase mais infecciosa e pode durar até duas semanas. Depois vem a fase mais crítica, chamada paroxística, quando a febre permanece baixa e começam as crises repentinas de tosse”, explica o médico.

Segundo Cerbino, essas crises de tosse, por conta da força, podem causar protrusão dos olhos, protrusão da língua, salivação, lacrimejamento e vômito e evoluir para hemorragias, além de quadros neurológicos, como encefalite e convulsões. Esta fase pode durar até seis semanas.

A melhor forma de prevenção é a vacinação. O tratamento é com antibióticos e quanto mais precoce for, maiores são as chances de redução da gravidade e transmissibilidade da doença.