O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) notificou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nesta sexta-feira (5/7) para proibir a distribuição e comercialização de produtos à base de polimetilmetacrilato, conhecido como PMMA.
O material foi aplicado nas nádegas da influenciadora digital Aline Ferreira, que morreu na terça-feira (2/7) em decorrência do procedimento.
“Os produtos à base de PMMA pertencem à Classe IV – risco máximo -, portanto a ausência de restrições em relação à sua comercialização acaba representando uma ameaça à saúde e à segurança da população”, informa o orientador responsável pela Câmara Técnica de Dermatologia do Cremesp, Eliandre Palermo.
O Cremesp ressalta ainda que o material não é recomendado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, “devido ao alto risco de complicações graves, irreversíveis, e até morte dos pacientes”.
Atualmente, a comercialização de produtos à base de PMMA é permitida e regulamentada pela Anvisa desde que seja para uso em duas aplicações específicas:
- Correção da lipodistrofia — alterações no organismo que levam à concentração de gordura em algumas partes do corpo) — causada pelo uso de antirretrovirais em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS);
- Correção volumétrica facial e corporal, que é uma forma de tratar alterações, como irregularidades e depressões no corpo, preenchendo as áreas afetadas através da bioplastia.
A CNN, a Anvisa confirmou que recebeu o pedido do Conselho e que será avaliado. O órgão acrescentou que “não regulamenta procedimentos estéticos ou de saúde”, pois “isso é da competência dos conselhos profissionais e das sociedades médicas”.
“É muito importante ressaltar que, conforme informações aprovadas por esta Agência, o produto deve ser administrado por profissionais médicos capacitados. Para cada paciente, o médico deve determinar as doses injetadas e o número de injeções necessárias, dependendo da pele, características musculares e osteocartilaginosas de cada paciente, as áreas a serem tratadas e o tipo de indicação”, acrescentou.
Repúdio também no Cremego
O Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), estado onde ocorreu o procedimento de Aline Ferreira, publicou nota, nesta sexta-feira (7/5), alertando sobre a realização de procedimentos estéticos invasivos por profissionais que não sejam médicos.
“Os procedimentos invasivos devem ser realizados por médicos, em locais com estrutura necessária para um atendimento seguro ao paciente e com técnicas e produtos que não representem risco a essa segurança. O polimetilmetacrilato (PMMA), como já alertamos publicamente, não deve ser utilizado em procedimentos que visam preencher extensas áreas corporais, como a chamada remodelação glútea e outras partes do corpo e da face”, diz a nota.
O Cremego também pediu resposta das autoridades. “Apelamos às autoridades de saúde e demais órgãos competentes para que monitorizem e reforcem o combate ao exercício ilegal da medicina. Apelamos também aos pacientes para que não corram riscos, que valorizem a sua vida e a sua segurança.
O procedimento realizado por Aline foi realizado pela falsa biomédica Grazielly da Silva Barbosa. Nas redes sociais, a mulher se apresentava como médica biomédica, mas cursou apenas três semestres de medicina no Paraguai, e promoveu inovações e métodos estéticos revolucionários. Ela citou, por exemplo, o chamado bioestimulador glúteo — capaz de alargar “naturalmente” as nádegas, deixando-as rígidas e atraentes.
Inaugurada em novembro de 2023, a suposta clínica funcionava de forma irregular, sem alvará ou licenças necessárias.
A falsa profissional foi questionada sobre sua formação em biomedicina. Segundo ela, fazia cursos “gratuitos”. Porém, ela não apresentou diploma ou certificado dessas especializações. Mesmo sendo médica biomédica, Grazielly não poderia injetar nenhum tipo de substância nos pacientes, pois é função desempenhada por um médico profissional.
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