Como outros países do mundo usam câmeras corporais no combate ao crime

Como outros países do mundo usam câmeras corporais no combate ao crime



SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Pelo menos 24 países no mundo utilizam câmeras corporais em uniformes policiais. No Brasil, a tecnologia começou a ser testada em 2012 e é vista como uma importante ferramenta para prevenir abusos e reduzir a letalidade policial.

O Reino Unido foi um dos primeiros países a estudar a implementação de câmeras em uniformes policiais. Mas, diferentemente do Brasil, onde a tecnologia tenta reduzir os casos de uso excessivo de força, o país estruturou um modelo onde as câmeras poderiam inibir comportamentos criminosos, reduzir tensões na abordagem policial e ajudar na coleta de provas.

Os testes começaram nos condados de Devon e Cornualha em 2005. Segundo relatos da mídia britânica, os policiais imaginaram que a tecnologia poderia ser útil principalmente em casos de violência doméstica, coletando provas em vídeo para serem utilizadas em tribunal.

Em França e Espanha, as câmaras foram adoptadas como forma de aumentar a confiança do público nas forças policiais, bem como fornecer provas fiáveis ​​em casos de agressão ou denúncias. “O policiamento na Europa, em geral, tem menos incidentes de uso de força letal em comparação com a América Latina, e os objetivos por trás da adoção de câmeras refletem esse contexto”, explicou Beatrice Rossano, doutoranda do King’s College Transnational Law Institute, que estudou a implantação de câmeras na PM de São Paulo. Ela escreveu um artigo sobre o tema com o pesquisador Vinicius de Carvalho, criador do Observatório da Democracia na América Latina (KODLA).

Nos EUA, as câmeras corporais começaram a ser testadas em 2010 devido à necessidade de conter excessos e reduzir denúncias de abusos policiais. Na prática, a própria polícia controla as imagens, que não são divulgadas com frequência, segundo reportagem da ProPública. Levantamento de junho de 2022 mostra que, de 79 ocorrências policiais envolvendo morte, foram divulgadas imagens em apenas 33 casos.

As câmeras corporais foram fundamentais na condenação dos policiais no caso George Floyd. As imagens mostram o momento em que Derek Chauvin pressiona o joelho no pescoço de Floyd durante nove minutos. A vítima repetiu a frase “Não consigo respirar” mais de 20 vezes. O caso aconteceu em Minneapolis em 2020 e desencadeou uma onda de protestos e discussões sobre uso da força, letalidade policial e racismo.

O Japão é um dos países que ainda discute o uso de câmeras corporais para a polícia. A questão voltou a surgir em 2022, após um tiroteio que matou o ex-primeiro-ministro Shinzo Abe num evento de campanha de rua. A Agência Nacional de Polícia anunciou que os policiais que trabalham nas ruas participarão de um teste de câmeras em 2025.

PESQUISA MOSTRA RESULTADOS PROMISSORES NO BRASIL

Pesquisa diz que o uso de câmeras corporais na Delegacia de Polícia de São Paulo reduziu a letalidade policial. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os batalhões que incorporaram o uso de câmeras tiveram redução de 76,2% na letalidade dos PMs em serviço entre 2019 e 2022, enquanto nos demais batalhões a queda foi de 33,3%. O número de adolescentes mortos em intervenções dos PMs de plantão caiu 66,7%, passando de 102 vítimas em 2019 para 34 em 2022.

Porém, reportagem do UOL revelou que policiais conseguem manipular o sistema de câmeras. Em alguns casos, os policiais alteram a data de gravação da filmagem para que ela seja automaticamente apagada ou cobrem a lente da câmera com o uniforme, o cabo da arma ou a mão.

Estudos no Reino Unido e nos EUA não concluíram que as câmeras reduzam o uso excessivo de força. Algumas pesquisas indicam que as câmaras têm um efeito positivo na redução de conflitos entre agentes e civis, mas uma experiência global de 2016 com oito forças policiais afirma que as câmaras aumentaram a probabilidade de um agente ser agredido durante o trabalho.

A pesquisa reflete o cenário do policiamento local. É difícil fazer comparações porque cada país adota um modelo diferente de câmera corporal, diz Beatrice. Nos EUA, por exemplo, algumas forças policiais utilizam o modelo Axon Body 3 – o mesmo que a PM de São Paulo adotou em 2021 – que registra toda a jornada de trabalho. No Reino Unido, os agentes podem ativar e desativar a gravação.

Especialista ressalta que a redução do uso da força não pode ser a única medida para determinar o sucesso de um programa de câmeras corporais. Beatrice cita um estudo de 2019 sobre o uso de tecnologia pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, que mostrou redução de 47,5% no uso da força em comunidades com UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). “Parece encorajador, mas o estudo também revelou que os agentes pararam de patrulhar áreas que sabiam serem mais propensas ao crime”.

O uso de câmeras não deve ser descartado, mas sim fazer parte de uma estratégia mais ampla e abrangente, disse Beatrice. “As câmeras corporais não são uma solução mágica para reduzir as mortes policiais. O sucesso ou o fracasso do potencial tecnológico depende de políticas humanas, visão, comunicação e habilidades de gestão.”

O principal argumento para o uso de câmeras corporais é que elas são percebidas como “ameaças credíveis” e podem alterar o comportamento humano, diz Beatrice. “Isso se baseia na teoria da dissuasão. A pesquisa mostra que o comportamento de uma pessoa que está sendo observada e potencialmente julgada pode ser influenciado por vários processos cognitivos sociais: as pessoas que vivenciam a autoconsciência pública tornam-se mais propensas a aderir às normas e a desenvolver uma intensificação preciso cumpri-los.

“Muitos estudos em todo o mundo descobriram que as câmeras corporais podem encorajar comportamentos que se alinham com as normas sociais aceitas. No entanto, sua eficácia depende muito de como as câmeras são implementadas e do contexto em que são usadas”, disse Beatrice Rossano, candidata a doutorado na King’s College London, que estuda o uso de câmeras corporais pelas forças policiais.

No condado de West Yorkshire, no Reino Unido, por exemplo, a polícia registou uma queda de 27% nos incidentes com Taser um ano após a implementação de câmaras corporais. Segundo o subchefe de polícia Andy Battle, os suspeitos “mudaram de comportamento” quando as câmeras estavam ligadas.

“Quando as pessoas percebem que haverá um registro independente do que aconteceu, elas mudam seu comportamento. É menos provável que sejam violentas e isso significa que é menos provável que os policiais usem a força para resolver a situação”, disse Andy Battle em entrevista. para a BBC.

VEJA QUAIS PAÍSES USAM A TECNOLOGIA DE CÂMERA CORPORAL

  • Alemanha
  • Austrália
  • África do Sul
  • Brasil
  • Canadá
  • Chile
  • China
  • Colômbia
  • Itália
  • Índia
  • Emirados Árabes Unidos
  • Espanha
  • Estados Unidos
  • Filipinas
  • Finlândia
  • França
  • Japão
  • Holanda
  • Paquistão
  • Reino Unido
  • Cingapura
  • Suécia
  • Taiwan
  • Uruguai

SITUAÇÃO NO BRASIL

O Brasil tem uma das forças policiais mais violentas do mundo. Desde 2013, quando o Fórum Brasileiro de Segurança Pública passou a monitorar os casos de mortes decorrentes de intervenções policiais, o número cresceu 188,9%. Em 2013, foram registradas 2.212 mortes. Em 2023, foram 6.393 vítimas, ou 17 pessoas mortas por dia.

Nos últimos dias, a PM paulista viu eclodir uma crise após uma escalada de ações violentas filmadas por câmeras de segurança ou de moradores. No domingo (1º), uma perseguição à Rocam terminou com um jovem sendo arremessado de uma ponte na Cidade Ademar, na Zona Sul. Três dias depois, a polícia invadiu e agrediu quatro pessoas da mesma família após uma delas ser abordada pela polícia na porta de sua casa, em Barueri.

Ambos os casos foram registrados pelas câmeras corporais dos policiais. As imagens do caso Cidade Ademar não foram divulgadas, mas o Comandante-Geral da PM, coronel Cássio Araújo de Freitas, disse que as imagens serão analisadas com rigor pela Corregedoria. “Tenho 34 anos de serviço e nunca vi nada parecido.”

Após a repercussão dos casos, o governador de São Paulo afirmou ter uma “visão errada” sobre o uso de câmeras corporais por PMs. Ele disse que pretende ampliar o uso da tecnologia. Neste mês, a PM de São Paulo começa a testar novas câmeras que permitem ao agente iniciar e interromper gravações. O modelo atual grava ininterruptamente. “É necessário um treinamento rigoroso e a criação de procedimentos escritos detalhados para evitar ambiguidades e arbitrariedades, principalmente no que diz respeito ao momento de ativar a gravação”, comentou Beatrice.

Acompanhe nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia

Um relatório divulgado em Abril deste ano pela Amnistia Internacional diz que o governo ignora medidas para reduzir a violência policial, como câmaras corporais. Levantamento feito pelo UOL em fevereiro de 2024 mostra que apenas sete estados utilizam o equipamento, o que equivale a 26% dos PMs. Alguns estados, como Goiás e Mato Grosso, se posicionam fortemente contra o uso de câmeras.

“A situação está fora de controle. A mensagem que o Estado reitera é que a polícia tem carta branca para matar e cometer outras violações, especialmente contra comunidades negras e periféricas”, disse Jurema Werneck.



noverde empréstimo app

simular emprestimo banco pan

empresa de empréstimo consignado

consulta inss emprestimo consignado

empréstimo consignado bb

o’que significa vx

loas emprestimo

emprestimo consignado assalariado

emprestimos para aposentados sem margem

Private yacht charter. Desatascos la figuera servicios de desatascos y vaciados.