Cinco mil clientes de bancos de todo o território nacional, nos últimos 12 meses, já tinham buscado empréstimos e depois gasto o dinheiro em jogos online

Cinco mil clientes de bancos de todo o território nacional, nos últimos 12 meses, já tinham buscado empréstimos e depois gasto o dinheiro em jogos online


Segundo a pesquisa, a maioria dos clientes que buscam crédito no mercado para apostar são homens (58%).

Foto: Reprodução

Segundo a pesquisa, a maioria dos clientes que buscam crédito no mercado para apostar são homens (58%). (Foto: Reprodução)

Uma pesquisa realizada pela fintech Klavi encontrou a ligação entre o uso de empréstimos e as apostas esportivas, as “apostas”. Ao analisar uma amostra de 5 mil clientes de bancos em todo o país, a instituição constatou que nos últimos 12 meses, 30% já haviam buscado empréstimos e depois gastaram o dinheiro (parcial ou integralmente) em jogos online.

Para os autores da pesquisa, o resultado demonstra que o crescimento exponencial do mercado de apostas esportivas no Brasil pode aumentar o nível de endividamento da população. A empresa analisou o comportamento creditício de 5 mil clientes em todo o Brasil para entender como o público gastava em sites de apostas e jogos de azar por meio de aplicativos.

A empresa utilizou seu banco de dados e informações obtidas por meio do Open Finance para compilar as informações de forma anônima. Ela conferiu os extratos dos correntistas, separou as demais despesas e comparou com os pagamentos efetuados aos CNPJs vinculados às empresas de apostas. Além disso, foi possível verificar que as apostas não eram feitas com dinheiro que sobrava dos correntistas, mas sim com alavancagem pessoal, por meio de empréstimos. Ou seja, logo após adquirir algum crédito, as pessoas gastavam em apostas.

Quanto aos valores de empréstimos solicitados, a empresa revela que a maioria busca valores relativamente baixos, variando entre R$ 500 e R$ 4 mil. Por outro lado, a pesquisa mostra um perfil de apostas variável por indivíduo. Dos correntistas que contraíram empréstimos e também apostaram, o gasto médio por apostador foi de R$ 1.113,09.

Porém, em alguns casos, os valores são mais elevados. Para 5% das pessoas que fizeram apostas, os valores gastos em apostas giraram em torno de R$ 4 mil, enquanto em casos mais extremos, há casos de apostadores habituais que gastam valores acima de R$ 50 mil em apostas, antes de recorrerem a empréstimos bancários.

O presidente e fundador da Klavi, Bruno Chan, afirma que o levantamento realizado pela fintech é uma resposta à demanda por informações dos grandes bancos e instituições financeiras, clientes da empresa. O executivo explica que querem entender o impacto das apostas online nas finanças dos seus clientes e como essa mudança no comportamento do consumidor pode afetar a análise de crédito dessas instituições.

Os jogos online foram lançados no Brasil em 2018, quando o então presidente Michel Temer assinou um decreto autorizando o funcionamento de apostas no país. Desde então, as casas de apostas proliferaram rapidamente, atingindo cerca de 2 mil empresas no mercado. A expectativa é que esse número caia consideravelmente a partir de 1º de outubro, quando as apostas que não tiverem regularizada sua situação serão banidas de funcionar.

Estima-se que o mercado de apostas já gere R$ 100 bilhões no país, o que representa quase 1% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo projeções da Strategy & Brasil, consultoria estratégica da PwC. Isso tira dinheiro do consumo e impacta o desempenho do varejo doméstico. “Pegamos 5 mil pessoas e começamos a olhar o perfil de gastos delas. É uma análise do fluxo de caixa das pessoas, vendo para onde elas estão enviando esse dinheiro”, diz Chan.

Perfil do apostador

Segundo pesquisa de Klavi, a maioria dos clientes que buscam crédito no mercado para apostar são homens (58%). No total, 47% das pessoas têm entre 35 e 49 anos, enquanto 28% pertencem à faixa etária entre 26 e 34 anos. Quanto à região, a pesquisa mostra que 60% desse público está localizado no Sudeste do país; os demais têm distribuição igualitária entre os Estados. A pesquisa mostra que 64% dos entrevistados ganham de um a três salários mínimos, ou seja, R$ 1.400 a R$ 4.200. Desse total, 40% deles trabalham com contrato de trabalho CLT. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.