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A Editorial Sul
| 28 de novembro de 2024
A resistência dos comandantes do Exército e da Aeronáutica foi decisiva para evitar a ruptura, segundo a investigação. (Foto: Divulgação)
O ex-presidente Jair Bolsonaro ficou insatisfeito com a derrota nas eleições quando se reuniu com os três comandantes das Forças Armadas para reunião no Palácio da Alvorada, no dia 1º de novembro de 2022, dois dias após o segundo turno. Naquele momento, os chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica ouviram pela primeira vez a discussão sobre se havia alguma forma de os militares intervirem e o resultado das urnas ser questionado.
Não seria a última vez que o ex-presidente discutia planos para uma tentativa de golpe. Os registros de entrada no Palácio da Alvorada incluídos na investigação da PF mostram 14 oportunidades em que pelo menos um dos três comandantes da Força esteve no local. Em pelo menos quatro reuniões, Bolsonaro citou ideias variadas como a declaração do Estado de Sítio, do Estado de Defesa e da operação de Garantia da Lei e da Ordem, segundo declarações dos próprios militares.
A investigação da Polícia Federal (PF) revelou que a trama golpista incluiu abordagens insistentes às lideranças das Forças Armadas, num movimento que, segundo a investigação, teve a aprovação do então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e teve o entusiasmo do comandante das Forças Armadas. Marinha, Almirante Almir Garnier Santos. Os dois militares estão entre os 37 indiciados pela PF.
Para os investigadores, a tentativa de golpe de Estado só não se concretizou porque houve resistência dos comandantes da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro da Aeronáutica Carlos Baptista Júnior, e do Exército, General Marco Antônio Freire Gomes. Os dois foram ouvidos como testemunhas e a colaboração deles foi fundamental para esclarecer parte dos planos de Bolsonaro no final de seu governo, segundo a PF.
Das 14 reuniões registradas após a derrota nas urnas, quatro contaram com a presença dos três comandantes. Em cinco ocasiões, dois estiveram presentes e, em outras cinco, apenas um deles esteve presente. Freire Gomes, do Exército, foi o mais frequente: esteve no Alvorada 12 vezes. Almir Garnier, da Marinha, esteve no local em oito ocasiões, e Baptista Júnior, da Aeronáutica, cinco vezes.
Conversas
Nesse período, Bolsonaro foi recluso no Alvorada, mas ativo nos bastidores. A primeira das reuniões com os comandantes ocorreu no dia 31 de outubro, um dia após a derrota de Bolsonaro. Freire Gomes e Garnier estiveram no local, em horários separados, mas próximos, no final da tarde daquela segunda-feira. No dia 1º de novembro houve a primeira reunião com os três comandantes juntos.
Depois, Bolsonaro ligou novamente para Freire Gomes e Almir Garnier no dia seguinte, 2 de novembro, para um encontro vespertino na residência oficial. O presidente parecia choroso, indignado com a derrota e até “deprimido” naquele momento, segundo pessoas próximas.
Nos dias seguintes, ocorreram outras reuniões com dois dos comandantes. No dia 6 estiveram presentes Baptista Júnior e Freire Gomes; no dia 8, os comandantes do Exército e da Marinha. No dia 12, Freire Gomes voltou sozinho ao local.
Decreto proposto
Bolsonaro parecia ter recuperado o ânimo no dia 14 de novembro, como observaram os comandantes das Forças Armadas em seu depoimento. Pela segunda vez, os três estiveram juntos no Alvorada e ouviram de Bolsonaro e seus auxiliares as conclusões de um relatório produzido pelo Instituto Voto Legal, que apontava falsamente problemas no sistema de votação do país. Para os comandantes, ali ficou evidente que o presidente continuava acalentando o desejo de reverter sua derrota para Lula.
A partir daí as conversas se intensificaram. Nos dias 17 e 22, há novo recorde de reuniões com os três comandantes —além do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. Também esteve presente em uma dessas reuniões Carlos Rocha, presidente do Instituto Voto Legal, entidade que produziu um relatório para o PL questionando as urnas eletrônicas, que foi rejeitado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No dia 24, houve outra reunião —que não consta dos registros do Alvorada. Foi um dos mais tensos do período: Bolsonaro expôs ideias para um decreto que, entre outras coisas, permitiria a intervenção no TSE e abriria espaço para prisões de rivais políticos. Garnier se colocou à disposição, Baptista Júnior protestou e Freire Gomes ameaçou prender Bolsonaro caso o plano fosse adiante, segundo depoimentos colhidos pela PF. A defesa de Garnier afirmou que “reitera a inocência do investigado, esclarecendo que ele ainda não teve acesso integral aos autos”.
Insistência do ministro
Apesar do embate, os comandantes ainda teriam que resistir às sugestões golpistas em pelo menos outros dois momentos. No dia 7 de dezembro, Bolsonaro voltou a discutir o “projeto golpista” com o ministro da Defesa e os comandantes do Exército e da Marinha. Filipe Martins, então assessor da Presidência e apontado como um dos responsáveis pela elaboração do decreto golpista, também esteve presente. O chefe da Força Aérea Brasileira (FAB) estava fora de Brasília e não participou.
Por isso, foi chamado ao Ministério da Defesa uma semana depois, no dia 14 de dezembro, para uma reunião com os demais comandantes. Na época, o ministro Paulo Sérgio disse ter em mãos uma minuta para “revisão”. Baptista Júnior questionou se o conteúdo do documento levaria à ruptura democrática e recusou-se a vê-lo. Ele foi acompanhado aos protestos por Freire Gomes e saiu da sala, segundo relato dele à PF.
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Chefes das Forças Armadas se reuniram 14 vezes com Bolsonaro enquanto o golpe era debatido, diz Polícia Federal
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