Ronnie Lessa, ex-policial militar e réu confesso do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018, foi transferido para o Complexo Penitenciário de Tremembé, em São Paulo. Na manhã desta quinta-feira (20/6), Lessa saiu da Penitenciária Federal de Campo Grande com destino a São Paulo.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou a transferência para Tremembé no dia 7 de junho. Na mesma decisão, Moraes retirou o sigilo dos autos de delação premiada do ex-policial militar.
O envio de Lessa para Tremembé contraria a posição anterior da Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo. Em ofício enviado a Moraes no dia 12 de abril, o secretário Marcello Streifinger afirma que a unidade não conseguiu receber o ex-PM “devido ao seu perfil, formação e ligações, bem como não há estrutura para manter o acompanhamento indicado”.
A carta indicava uma unidade em Presidente Venceslau, também em SP, como local mais adequado para recebê-lo.
O acordo de Lessa com a PF, e aprovado por Moraes, porém, mencionava expressamente a transferência para Tremembé. A demora no cumprimento do item levou a defesa do ex-PM a pedir a anulação do contrato de colaboração. O pedido não foi acatado pelo ministro.
Moraes autorizou a transferência “observando as normas de segurança do estabelecimento prisional e monitorando as comunicações verbais ou escritas do preso com qualquer pessoa externa à unidade penitenciária”.
O acompanhamento das visitas também deverá ser realizado, até que a instrução processual seja concluída.
O ministro destacou que os benefícios previstos na delação premiada dependem da eficácia das informações prestadas, “uma vez que se trata de um meio de obtenção de provas, a serem analisadas durante a investigação processual penal”.
“Isso, porém, não impede que a transferência solicitada seja realizada provisoriamente no presente momento, enquanto a investigação processual penal ainda estiver em curso”, escreveu Moraes.
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O ministro disse ainda que tornou públicas as peças por causa de publicações jornalísticas com informações incompletas e trechos dos vídeos relativos às declarações do réu.
A medida, segundo Moraes, foi acordada pela Polícia Federal, que destacou que não havia mais necessidade de sigilo nas investigações.
SINDICATO DA POLÍCIA PENAL É CONTRA A TRANSFERÊNCIA
Profissionais que atuam na segurança dos presídios de São Paulo consideram que a transferência do ex-policial militar Ronnie Lessa para o Complexo Penitenciário de Tremembé representa riscos de segurança dentro das unidades e para o próprio preso.
Segundo o presidente do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional de São Paulo, Fábio Jabá, as duas penitenciárias do complexo são inadequadas para um preso com o perfil de Lessa.
Tremembé possui duas unidades que recebem homens. A Penitenciária Tarcizo Leonce Pinheiro Cintra, chamada P1, é o maior presídio do complexo, com 1.278 vagas e presos de diversos perfis. Está superlotado: hoje abriga 1.924 internos – ou seja, mais de 600 além da capacidade.
O P2 é conhecido como a “prisão dos famosos”, pois abriga condenados por crimes de grande repercussão. Presos em situação de risco em penitenciárias regulares são levados para lá devido à atenção que receberam nos noticiários. Robinho, Alexandre Nardoni, Cristian Cravinhos, Gil Rugai e o médico Roger Abdelmassih são nomes que já estiveram no P2 ou ainda estão lá.
É uma unidade menor, com capacidade para 348 presos, e conta com mais de 50 vagas vagas. O assassino de Marielle está preso atualmente no Presídio Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
Segundo Jabá, o P1 é dominado pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), e a vida de Lessa estaria em risco na unidade mesmo que ele fosse colocado na chamada sala “segura”, onde estão os jurados de morte e membros de grupos rivais. facções estão localizadas, por exemplo.
“No P1 ele morre”, diz Jabá. A associação com milícias no Rio de Janeiro e a grande repercussão do crime, segundo o policial criminal, colocam Lessa como alvo da facção na penitenciária. Jabá diz que há casos de invasão de “seguros”. “Isso criará instabilidade na segurança das prisões”.
Na “prisão dos famosos”, o problema é que a unidade não recebe presos ligados ao crime organizado, sejam de facções ou grupos milicianos. “O P2 não aceita ninguém de facção criminosa, é uma unidade tranquila, mais fácil de trabalhar. [Lessa] Ele é miliciano”, ressalta.
Para o representante da Polícia Judiciária, o destino mais indicado para Lessa é o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), um sistema prisional mais rígido e voltado para quem comete crimes dentro do presídio, ou presos que representam alto risco à sociedade. Atualmente isso é inviável, pois o RDD só é aplicado por ordem judicial.
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