Câncer de mama: tratamento para tumor mais comum entre mulheres foi aprovado há quase dois anos, mas não está disponível no SUS

Câncer de mama: tratamento para tumor mais comum entre mulheres foi aprovado há quase dois anos, mas não está disponível no SUS


Segundo o Inca, cerca de 74 mil novos casos serão registrados no Brasil este ano. (Foto: Reprodução)

É injustificável a demora do Ministério da Saúde em levar ao sistema público medicamentos para tratamento do câncer de mama aprovados há quase dois anos pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) do SUS. Com a demora, as pacientes são obrigadas a recorrer à Justiça, um caminho doloroso —o parto pode levar até seis meses— e cruel.

O câncer de mama é o que mais atinge as mulheres brasileiras. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), cerca de 74 mil novos casos serão registrados no Brasil este ano. Uma paciente que descobriu a doença em 2018, já em estágio avançado, disse que, mesmo quando foi à Justiça, ainda teve que esperar cinco meses para receber o remédio. “Eu não estava esperando por uma roupa ou algo assim, era a minha vida que eu estava esperando”, disse ela.

Não deve ser tão complicado, pois já foi tomada uma decisão a respeito. Após consulta pública, foi aprovado em abril um protocolo que garante a distribuição de medicamentos no SUS, mas a secretaria ainda não publicou o documento no Diário Oficial da União. Está prevista a incorporação de dois tipos de medicamentos: inibidores de ciclina, aprovados pela Conitec em dezembro de 2021, e trastuzumabe emtansina, aprovado em setembro de 2022. Por lei, os medicamentos devem ser incorporados em até 180 dias, com prorrogação de 90 dias, prazos que já foram desconsiderados.

Os medicamentos, considerados de primeira linha, são procurados porque oferecem melhores resultados com menos efeitos colaterais. A oncologista Tatiana Strava, do Hospital Sírio-Libanês, especialista em câncer de mama, afirma que aumentam a expectativa de vida e a qualidade de vida dos pacientes.

O Ministério da Saúde afirma que o protocolo contra o câncer de mama está em fase final e deve ser publicado nas próximas semanas. Ele argumenta que a Conitec foi aprovada no governo anterior sem previsão de gastos e que alguns medicamentos estão em falta. É verdade que o problema foi herdado e que a falta de recursos no orçamento não é irrelevante. Mas uma boa gestão pública consiste precisamente em atribuir fundos onde são necessários. Não faltam rubricas orçamentais para cortar, a fim de libertar dinheiro para medicamentos contra o cancro. A atual equipe assumiu há um ano e meio, tempo suficiente para corrigir os problemas. Você não pode culpar os antecessores pelos problemas atuais. Eles precisam ser resolvidos.

O serviço público tem regras rígidas, mas há casos que exigem agilidade. A vacinação contra a Covid-19, em 2021, num governo que pregava contra as vacinas, começou imediatamente após a Anvisa dar sinal verde para a administração das doses. Não se pode perder tempo quando há vidas em jogo. Oferecer no SUS medicamentos que aumentem a sobrevida de pacientes com câncer de mama deve ser prioridade. A burocracia estatal sempre pode esperar. (Opinião/O Globo)