Aviões e helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira) interceptaram, de janeiro de 2019 até 3 de julho, 4.020 aeronaves sem autorização para voar no espaço aéreo brasileiro ou que pudessem representar ameaça à segurança pública.
Em 90 dessas operações foram necessários disparos para que o piloto avisado pousasse ou mudasse sua rota para uma indicada.
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Números obtidos pelo relatório por meio da Lei de Acesso à Informação junto ao Comando da Aeronáutica mostram que, só neste ano, 207 aeronaves foram interceptadas no país até o dia 3 de julho, ou seja, quase uma por dia.
Esses aviões suspeitos são utilizados principalmente para o tráfico de drogas ou para voar em áreas proibidas, como a Terra Indígena Yanomami, que teve seu espaço aéreo fechado no ano passado, entre outros, devido a ações contra o garimpo ilegal.
Esta conta não inclui uma aeronave modelo Cessna 172, identificada na fronteira com o Peru no dia 28 de julho. Houve um tiro de alerta, e a aeronave acabou queimada pelos ocupantes, que fugiram após pouso de emergência no município de Barcelos (AM). Ao lado dos destroços, os policiais federais encontraram 95 quilos de pasta base de cocaína e cloridrato de cocaína.
O número até 3 de julho é menor que nos anos anteriores. No mesmo período do ano passado, por exemplo, 232 aeronaves entraram nas estatísticas dessas ocorrências aéreas no Brasil.
Nos cinco anos e meio desde 2019, 2021 foi o ano que registou o maior número de ações: 1.147 entre janeiro e dezembro.
Procurada para falar sobre as operações, a Aeronáutica disse não haver porta-voz disponível. Mas afirmou, em nota, que a redução no número de abordagens aéreas reflete eficiência em ações anteriores de inteligência.
“A Força Aérea Brasileira tem utilizado uma ampla gama de meios e informações de diversos órgãos de segurança pública e fiscalização para identificar e atuar preventivamente contra o tráfego aéreo desconhecido”, afirmou. “Ao focar em pontos estratégicos e utilizar esses dados, a FAB tem conseguido reduzir a necessidade de interceptações.”
A Força afirma ainda que intensificou o monitoramento com a utilização de aeronaves E-99, que possuem radar no topo da fuselagem.
Os procedimentos adotados não são os mesmos em todas as situações. Dependem, entre outros fatores, do modelo de caça utilizado, do tipo de alvo e, principalmente, do objetivo que se deseja atingir na missão.
As abordagens aéreas seguem regras estabelecidas em decreto de 2004, assinado pelo presidente Lula (PT) em seu primeiro mandato, com foco no tráfico de drogas ou ameaças à segurança.
A lei determina que os militares devem primeiro orientar, via rádio ou sinais virtuais, o piloto da aeronave suspeita a pousar em local designado para ser submetido a medidas de controle em solo pelas autoridades policiais.
Caso o aviso seja ignorado, é autorizado o disparo de aviso, “com munições traçadoras, pela aeronave interceptadora, para que possam ser observados pela tripulação da aeronave interceptada, com o objetivo de persuadi-los a obedecer às ordens transmitidas”.
Como último recurso, o piloto do avião militar pode disparar contra o alvo, que é então considerado hostil.
A FAB não informou se nas 90 vezes que precisou disparar desde 2019 atingiu de fato um avião ou se foram apenas tiros de alerta.
A lei considera suspeitas as aeronaves que entram em território nacional sem plano de voo aprovado e que provêm de regiões reconhecidas como fontes de produção ou distribuição de drogas.
Foi com base nesse artigo do decreto que, no dia 26 de junho, dois caças da FAB perseguiram um avião que entrou clandestinamente no país vindo da Bolívia, para onde retornou após interceptação. A aeronave modelo Cessna 401A foi detectada por radares da FAB nas proximidades de Porto Velho.
Rondônia é um dos cinco principais estados com operações realizadas este ano, ao lado de Roraima, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
A Aeronáutica não cita a quantidade de ações em cada um deles, mas são estados fronteiriços ou com forte envolvimento no tráfico de drogas ou no garimpo ilegal.
Aeronave suspeita
Aquele que se enquadra em uma das seguintes situações:
– Entrar em território nacional sem plano de voo aprovado, vindo de regiões reconhecidamente fontes de produção ou distribuição de drogas ilícitas, ou mesmo representando ameaça à segurança pública
– Omitir informações necessárias à sua identificação junto aos órgãos de controle de tráfego aéreo ou descumprir as determinações desses mesmos órgãos, caso esteja em rota presumivelmente utilizada para distribuição de drogas ilícitas
Regras para interceptação
Como devem agir os pilotos de caça, conforme legislação
1 – Aproximação ostensiva da aeronave interceptada por meio de comunicação rádio ou sinais visuais, de acordo com as regras de tráfego aéreo, cujo conhecimento é obrigatório para os aviadores.
2 – Ordenar à aeronave interceptada que modifique a sua rota com o objectivo de a obrigar a aterrar num aeródromo designado, para ser sujeita a medidas de controlo no solo
3 – Disparo de tiros de advertência, com munições traçadoras, para que possam ser observados pela tripulação da aeronave interceptada, com o objetivo de persuadi-los a obedecer às ordens transmitidas
4 – Uma aeronave suspeita de tráfico que não cumpra os procedimentos coercivos será classificada como hostil e será sujeita a uma medida de destruição, que consiste em disparar tiros com o objectivo de causar danos e impedir a continuação do voo; a ação só pode ser utilizada como último recurso para evitar a morte de pessoas inocentes, inclusive no terreno
Fonte: Decreto 5.144, de 16 de julho de 2004
Em outra operação deste ano, no dia 29 de janeiro, um A-29 Super Tucano interceptou um avião que sobrevoava o território Yanomami com rajadas de tiros de advertência.
Segundo a FAB, o avião, modelo Cessna 182, estava a aproximadamente 110 km da capital Boa Vista. O piloto também fugiu após pousar.
Um vídeo mostrou o soldado do caça comunicando por rádio ao piloto do Cesna que seu avião estava sendo interceptado e que a rota teria que ser modificada e dando instruções de voo. Depois, ele disse que seriam disparadas duas rajadas de tiros de advertência. E ele atirou em sequência. O piloto desceu em uma pista de terra e fugiu, abandonando as drogas dentro da aeronave.
Um ano antes, sem disparos de tiro, o piloto de um avião de pequeno porte, também carregado de entorpecentes, fez um pouso forçado em meio a uma plantação de soja em Santa Cruz do Rio Pardo (SP). A região é conhecida como “rota caipira” do tráfico, com drogas transportadas da Bolívia ou do Paraguai para distribuição em São Paulo.
O piloto, que danificou o nariz da aeronave ao pousar após bater na plantação, fugiu, abandonando 250 tijolos de cocaína, que pesava 272 kg, e outros 250 tijolos, com 256,5 kg de pasta base.
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