Avenida Paulista volta a ser palco de protesto contra projeto que equipara aborto a homicídio

Avenida Paulista volta a ser palco de protesto contra projeto que equipara aborto a homicídio


Foi o segundo ato de protesto realizado esta semana na capital paulista.

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Foi o segundo ato de protesto realizado esta semana na capital paulista. (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

Na tarde deste sábado (15), a Avenida Paulista, em São Paulo, foi palco de mais um ato contra o Projeto de Lei (PL) 1.904/24, que equipara aborto de gravidez superior a 22 semanas a homicídio. Foi o segundo ato de protesto realizado esta semana na capital paulista contra o projeto que tramita com urgência na Câmara dos Deputados.

A organização do evento estimou que aproximadamente 5 mil pessoas, em sua maioria mulheres e jovens, ocuparam todas as vias da Avenida Paulista. “Crianças não são mães”, “Abaixo o PL 1904”, “No estupro a mulher é a vítima” e “Abaixo os estupradores” são alguns dos cartazes exibidos pelos manifestantes.

Por lei, o aborto, ou interrupção da gravidez, é permitido e garantido no Brasil nos casos em que a gravidez resultou de estupro da mulher, representa risco à vida da mãe e também em situações de bebês anencéfalos, sem estabelecer duração máxima de gravidez. gravidez para aborto.

O projeto, de autoria do deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), passou por tramitação urgente aprovada pela Câmara dos Deputados esta semana, e ocorreu em apenas 23 segundos. Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, foi o responsável pela condução da votação. O PL pretende fixar o prazo máximo para o aborto legal em 22 semanas de gestação e aumentar a pena máxima para quem se submete ao procedimento de 10 para 20 anos.

“Mobilizamos novamente esse ato. Achamos fundamental voltarmos aqui no sábado na Avenida Paulista para mostrar que o projeto é um absurdo. Até que esse projeto seja engavetado, as feministas não sairão das ruas”, disse Ana Luiza Trancoso, que integra o Coletivo Juntas e a Frente Estadual pela Legalização do Aborto.

Para os manifestantes, se aprovado, o projeto afetará principalmente crianças vítimas de estupro, cujos casos de abuso e gravidez demoram a ser identificados, resultando na procura tardia de serviços de aborto legal. Segundo o Fórum de Segurança Pública, 74.930 pessoas foram estupradas no Brasil em 2022. Desse total, 61,4% eram crianças de até 13 anos.

“As principais vítimas são meninas de 10 a 14 anos. Essa violência acontece dentro de casa. A criança não tem consciência do seu corpo. Você não sabe o que é estar grávida. Portanto, há a descoberta tardia [da gravidez]. Além disso, sabemos que os serviços de aborto legal sempre apresentam barreiras. Não foram apenas um ou dois casos em que as meninas tiveram que mudar de cidade ou estado para fazer um aborto. E quando eles chegam, estão sob pressão [para não abortar] e depois passam semanas”, disse Ana Luiza.

A manifestação na Avenida Paulista também contou com a presença de muitos homens. “Tenho exemplos de abuso sexual na minha família. Sobrinhas que sofreram abusos”, disse René de Barros, 61 anos, professor aposentado. “Não há como ficar longe disso. Na verdade, sugiro que sejam realizadas marchas nos bairros. Esta lira [Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados] você tem que sair. Ele não é inimigo das mulheres e das crianças. Ele é inimigo do Brasil”, afirmou.

Em nota, a Seção de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) manifesta “profunda preocupação” com o projeto. “Em primeiro lugar, o projeto estabelece limites mais rigorosos à interrupção da gravidez resultante de violação, restringindo-a até à 21ª semana. Essa mudança impõe uma barreira significativa para meninas e mulheres estupradas, obrigando-as muitas vezes a levar a gravidez até o fim, o que pode ser considerado um tratamento cruel e degradante”, diz a nota da OAB. “Além disso, essa previsão ignora a realidade de muitas mulheres brasileiras que sofrem estupro e enfrentam um longo caminho para conseguir um aborto legal, muitas vezes superior a 22 semanas”, acrescenta o texto.

Para a OAB-SP, a severa criminalização do aborto “não reduz sua ocorrência, mas empurra meninas e mulheres, especialmente as mais pobres, para procedimentos clandestinos inseguros e que representam alto risco para suas vidas, aprofundando a discriminação social”.

Durante o ato na Avenida Paulista, os manifestantes coletaram assinaturas de pessoas contra o Projeto de Lei 1.904/24. “É uma petição pedindo o arquivamento deste projeto. Só assim sairemos das ruas”, afirmou o representante do Coletivo Juntas.