As mais recentes indicações do presidente Lula a tribunais apontam para a ampliação de disputas ideológicas na cúpula do Poder Judiciário brasileiro

As mais recentes indicações do presidente Lula a tribunais apontam para a ampliação de disputas ideológicas na cúpula do Poder Judiciário brasileiro


Neste terceiro mandato, Lula mantém a discricionariedade ao ocupar os tribunais superiores e regionais com nomes mais próximos dele. (Foto: STF/Divulgação)

Em vez de promover a pacificação, as mais recentes nomeações do Presidente Lula da Silva para tribunais superiores e regionais apontam para a expansão das disputas ideológicas na cúpula do Judiciário brasileiro. A origem e o perfil destes nomes e a forma como são escolhidos pelo atual presidente sugerem a intensificação dos ânimos nos tribunais, intensificando as tensões e transpondo da política para a Justiça uma polarização que nada contribui para o fortalecimento das instituições e o bom funcionamento do tribunais.

Antes de Lula, Jair Bolsonaro já havia deixado claro seu interesse em domesticar o Judiciário. Ele fez a observação de que, ao indicar Kassio Nunes Marques para o Supremo Tribunal Federal, agora tinha “10% de mim” naquele Tribunal. O ex-presidente também lutou por um ministro “terrivelmente evangélico”, qualidade irrelevante para a posse, mas extremamente relevante do ponto de vista político.

Quaisquer que sejam os méritos e deméritos dos indicados de Bolsonaro, os interesses pessoais e o humor conflitante do então presidente eram evidentes. Lula, por sua vez, pode até ser um pouco mais discreto no desejo de equipar politicamente o Judiciário, mas já deixou claro que não está para brincadeiras, seja colocando seu advogado particular no Supremo, seja nomeando seu experiente advogado Político ministro da Justiça, Flávio Dino, para ter alguém com “cabeça política” na Corte.

No passado, o petista ainda parecia ter alguma preocupação com a qualidade de suas indicações aos tribunais superiores, como no caso da nomeação do jurista conservador Carlos Alberto Menezes Direito para o Supremo. Mas essa preocupação não durou muito: para a vaga deixada por Menezes Direito devido ao seu falecimento em 2009, Lula nomeou ninguém menos que o ex-advogado petista José Antonio Dias Toffoli – que foi reprovado duas vezes no concurso para juiz de primeira instância, mas considerado pelo Lula é bom o suficiente para a mais alta corte brasileira.

Neste terceiro mandato, Lula mantém sua discricionariedade ao ocupar os tribunais superiores e regionais com nomes mais próximos dele – como seu advogado, um fiel aliado ou amigo de sua esposa, Janja da Silva. O demiurgo certamente espera que estes indicados sejam a vanguarda das batalhas político-jurídicas no interesse do lulopetismo.

E é nessa arena que ganha destaque o Grupo de Prerrogativas, formado por 250 advogados e juristas de esquerda. O “Prerrô”, como é chamado pelos próprios integrantes o grupo criado há dez anos para se opor aos supostos abusos da Operação Lava Jato, já tem representantes no Superior Tribunal de Justiça (STJ), no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Superior Justiça do Trabalho (TST), além de três tribunais regionais.

Quinta constitucional

Nas indicações do chamado quinto constitucional – aqueles 20% das vagas de tribunais destinadas à advocacia ou ao Ministério Público –, grupos organizados sempre trabalharam para indicar nomes. A Prerrogativas, portanto, segue uma tradição, mas o faz de forma desinibida, ostentando suas vitórias em comemorações em que assume a identidade de um grupo político.

Com a bênção de Lula, tudo isso terá impacto no Judiciário. Como mostra o Estadão, a chegada de Antônio Fabrício de Matos Gonçalves ao TST, por exemplo, animou os defensores das chamadas agendas progressistas e sua nomeação é vista como uma contraposição a um suposto pólo conservador da Corte, representado por Ives Gandra da Silva Martins Filho. Ora, a inclinação política de um ou de outro é – ou deveria ser – indiferente, visto que os ministros devem estar comprometidos com a jurisdição trabalhista e com o respeito às leis e à Constituição.

O poder conferido pela Constituição ao Presidente da República de nomear magistrados para ocuparem os mais altos cargos do Poder Judiciário exige responsabilidade, autocontenção e profundo apreço pelo espírito público. A instrumentalização dos tribunais superiores e regionais degenera a Justiça, e o Brasil não precisa de mais radicalização. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.