Após a turbulência enfrentada nos últimos meses, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, vive uma fase de redenção junto ao governo

Após a turbulência enfrentada nos últimos meses, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, vive uma fase de redenção junto ao governo


Lula busca uma “marca” para tornar Nísia visível e popular. (Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)

Depois das turbulências enfrentadas nos últimos meses, com a ofensiva do Centrão por seu cargo, uma epidemia de dengue sem precedentes e a cobrança pública do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, vive uma fase de redenção com o Palácio do Planalto . Sob a orientação de Lula, a “Nísia 2.0” busca uma marca que a popularize e dê visibilidade aos dados positivos de sua gestão.

Com a consultoria informal do marqueteiro do presidente, o publicitário Sidônio Palmeira, assessores e profissionais de marketing, a ideia inicial é agregar o “conceito de família” à sua imagem, por meio de uma das políticas do ministério. Pesquisa interna mostrou que o programa com maior adesão da população, em todas as faixas de renda, é o Farmácia Popular, que oferece medicamentos gratuitos na rede credenciada.

Fonte do governo revelou ao jornal Valor que o projeto de Lula para Nísia se inspira no legado de Fernando Haddad no Ministério da Educação (MEC) em seus mandatos anteriores – hoje o auxiliar comanda o Ministério da Fazenda. Haddad liderou uma ampla reforma do ensino superior. Com programas como o Prouni, o número de estudantes matriculados nas universidades saltou de 3,5 milhões em 2003 para 6,4 milhões em 2010, segundo o Censo do Ensino Superior.

A mesma fonte informou que, ao ouvir Nísia enumerar as conquistas da sua gestão, o presidente questionou porque não conseguia ver tudo isso e exigiu visibilidade para a sua gestão. Ele também a desafiou a melhorar a comunicação do ministério. Entre outras missões, ordenou ao ministro que viajasse mais pelo país para promover regionalmente as ações do departamento.

Essa fonte presenciou cenas de Lula repetindo a mesma coisa com Nísia
comportamento adotado com Haddad no primeiro mandato. Muitas dessas cenas a bordo do avião presidencial, seguindo agendas externas em estados populares.

Após observar a atuação do assistente no palco, o presidente repetiu lições que deu a Haddad sobre linguagem corporal e discursos. Uma sugestão, por exemplo, é não despejar informações sobre o público; Ela deve escolher um ou dois programas para destacar, para que as pessoas entendam a mensagem.

A virada na gestão da ministra foi a reunião ministerial do dia 18 de março, quando ela enfrentava um turbilhão de problemas e ouviu de Lula, na presença de seus colegas, uma cobrança enfática sobre a crise nos hospitais federais do Rio de Janeiro e a relação com o Congresso, motivo de reclamações do Centrão. Em reação, o ministro emocionou-se, chorou, reclamou do comportamento misógino dos parlamentares e foi apoiado pela primeira-dama Rosângela da Silva, conhecida como Janja.

A principal crise naquele momento, porém, foi o crescimento exponencial dos casos de dengue, que gerou números inéditos para a epidemia, como mais de 3 mil mortes e mais de 5 milhões de casos confirmados até maio, recordes na série histórica iniciada em 2000.

A iniciativa do ministro de anunciar que o governo ofereceria a vacina contra
dengue, Qdenga, foi interpretada pela população do Planalto como um tiro no pé
porque as doses fabricadas pelo laboratório japonês eram insuficientes para atender os brasileiros. A informação de que apenas crianças e adolescentes de 10 a 14 anos seriam imunizados caiu como um balde de água fria na população e impactou a popularidade de Lula.

Desde então, porém, o ministro reagiu. A primeira medida foi implementar um choque de gestão no ministério, com a demissão de secretários, e até da chefe de gabinete, Márcia Motta, que era membro de confiança da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Em seu lugar assumiu José Guerra, indicado pelo secretário executivo do departamento, Swedenberger Barbosa. “Berge”, como é conhecido, trabalhou com Nísia na Fiocruz, mas também está ligado a Lula, de quem foi assessor especial em mandatos anteriores.

Até o momento, uma das principais conquistas do departamento foi retirar o Brasil da lista dos 20 países com mais crianças não vacinadas no mundo. Segundo o relatório da Unicef/OMS, divulgado em julho, o número de crianças que não receberam nenhuma dose de DTP1 (difteria, tétano e coqueluche) caiu de 418 mil em 2022 para 103 mil em 2023.

Outro dado relevante é que, em meio a campanhas de desinformação que levaram ao risco de reintrodução da poliomielite no país, a cobertura vacinal contra a “paralisia infantil” saltou de 71,2% em 2022 para 85,5% em 2023.

Atendendo a um pedido expresso de Lula, o ministro reestruturou o programa Mais Médicos, que contava com 13 mil profissionais atuando no final de 2022, e hoje conta com mais de 25 mil, um aumento de 92% em 1 ano e meio.