Anvisa proíbe suplemento vendido como cura para diabetes

Anvisa proíbe suplemento vendido como cura para diabetes


O produto foi citado em um vídeo que ligava a doença a bactérias.

Foto: Reprodução

O produto foi citado em um vídeo que ligava a doença a bactérias. (Foto: Reprodução)

Um vídeo que circula nas redes sociais promete a cura do diabetes com um suplemento alimentar feito com componentes naturais. Se isso fosse possível, milhões de pessoas não dependeriam mais de medicamentos ou insulina.

No entanto, a verdade é que isso é uma farsa. A Anvisa publicou resolução proibindo a venda de medicamentos falsos, e especialistas alertam que trocar a medicação por esse tipo de produto representa risco de vida.

Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, estima-se que 20 milhões de pessoas no país sofram de diabetes. Causada pela falta de insulina, produzida no pâncreas, ou por deficiência na sua ação, a doença não tem cura, apenas controle.

Com milhões de pessoas nesta condição, algumas empresas veem este cenário como um “mercado” para vender falsas promessas. O produto é um suplemento alimentar, ou seja, não é um medicamento.

Mesmo assim, a empresa promoveu promessas de tratamento e cura para o diabetes. Na página, o produto não revela qual substância natural seria capaz de promover a cura da doença. No site de reclamações Reclame Aqui, há centenas de relatos de pessoas com problemas na entrega ou na eficácia do produto. Isto mostra que muitos estão acreditando na falsa promessa.

Esta semana, a empresa publicou um novo anúncio apresentando um indivíduo que se apresenta como médico, mas que, na verdade, não é. Faz falsas alegações de que os medicamentos utilizados no tratamento global, como a metformina, não funcionam ou têm efeitos secundários graves. No vídeo, ele sugere que os pacientes substituam o medicamento por um suplemento, vendido por R$ 199,90.

O vídeo foi reportado por Ana Bonassa, doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo e divulgadora científica no perfil Nunca Vi 1 Cientista. Recentemente, ela e sua companheira, Laura Marise, foram processadas por desmascarar uma postagem que afirmava que o diabetes era causado por vermes.

Ana explica que encontra dezenas de vídeos como esses na internet e que vem denunciando os produtos para tentar combater a desinformação sobre a doença, que coloca vidas em risco. Ela reforça que a doença tem alta prevalência no Brasil, o que faz com que as pessoas utilizem os pacientes para obter lucro.

“A ciência conhece esta doença há séculos. Sabemos o que acontece no corpo e como agir com os medicamentos eficazes disponíveis. É um absurdo ver pessoas usando doenças alheias para lucrar e fazendo os pacientes pagarem com a própria vida. O diabetes é grave e não tratá-lo pode ter consequências irreversíveis”, disse Bonassa.

Em sua página, o Insupril afirmava estar registrado e aprovado como eficaz pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Anvisa informou que a afirmação é falsa e publicou nesta sexta-feira (20) uma resolução proibindo a venda, distribuição, fabricação, publicidade e determinação do recall do produto.

Segundo o órgão, os suplementos alimentares precisam passar por um processo de registro, o que não foi realizado pela empresa. Além disso, estes produtos não podem prometer curas para problemas de saúde, pois não são medicamentos. Até esta segunda-feira (23), apesar da proibição, a página do Insupril permaneceu ativa, permitindo a compra do produto, que também continuou a ser vendido em marketplaces.

Diabetes
O diabetes é causado pela falta de insulina ou pela deficiência na ação desse hormônio. Produzida pelo pâncreas, a insulina tem a função de controlar os níveis de açúcar no sangue. A doença pode se desenvolver em dois tipos:

– No tipo 1, o próprio sistema imunológico da pessoa ataca e destrói as células produtoras de insulina. Portanto, o tratamento é com infusão externa de insulina.
– O tipo 2 é caracterizado por resistência à insulina e deficiência parcial de secreção hormonal pelas células pancreáticas. Assim, 90% dos casos estão associados à obesidade e ao envelhecimento, sendo tratados com medicamentos que nem sempre utilizam insulina.

Especialistas explicam que múltiplos fatores podem levar ao desenvolvimento do diabetes, sendo os principais a dieta, a obesidade, o estilo de vida e a predisposição genética. Em nenhum caso a doença é causada por vermes ou bactérias.

Pesquisas recentes encontraram uma nova possibilidade de tratamento para o diabetes, que são as canetas, como a semaglutida, conhecida como Ozempic. Apesar de terem se popularizado para fins estéticos com a perda de peso que promovem, foram criados para o tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade.

Os medicamentos são análogos (muito semelhantes) ao hormônio GLP-1. Nosso corpo produz esse hormônio e é secretado principalmente pelas células intestinais. Vai para o cérebro, no hipotálamo, e estimula algumas células, reduzindo o apetite.

No entanto, o GLP-1 tem uma vida útil curta. A DPP4, enzima produzida pelo nosso corpo, acaba rapidamente com o efeito do hormônio, deixando-nos com fome logo. É aqui que atuam os medicamentos semaglutida e liraglutida. São resistentes à ação da enzima DPP4. Isso faz com que os análogos durem mais em nosso corpo.

Essa ação ajuda na perda de peso e no controle do diabetes. Apesar disso, o que dizem os especialistas é que o paciente consegue a remissão da doença, mas não a cura.

“Se o paciente voltar a engordar, ganhar gordura abdominal, o diabetes acaba voltando. Essa é a única opção que temos, além dos tratamentos convencionais”, explica Levimar Araujo, endocrinologista especialista em diabetes. As informações são do portal de notícias G1.