Amazônia tem o maior número de queimadas e incêndios em quase 20 anos

Amazônia tem o maior número de queimadas e incêndios em quase 20 anos


O período não foi pior do que o de 2007, quando foram registados 186.480 surtos.

Foto: Agência Santarém

O período não foi pior do que o de 2007, quando foram registados 186.480 surtos. (Foto: Agência Santarém)

Dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que em 2024 a Amazônia teve o maior número de focos de calor dos últimos 17 anos. Até o início de dezembro foram 137.538, o que inclui incêndios, controlados ou não, e incêndios florestais. O período não foi pior do que o de 2007, quando foram registados 186.480 surtos.

Em relação a 2023, houve aumento de 43%. No ano passado, ocorreram 98.646 surtos. Em 2024, a maior parte dos registros ocorreu entre julho e novembro, com números acima da média histórica. Só em setembro ocorreram 41.463 surtos. A média do mês é de 32.245.

A Amazônia é o bioma mais impactado, com 50,6% de todos os surtos no país. Em seguida, vêm Cerrado (29,6% / 80.408 focos), Mata Atlântica (7,7% / 21.051), Caatinga (6,5% / 17.736), Pantanal (5,3% / 14.489) e Pampa (0,2% / 419). E não se trata apenas de ter o maior número de incêndios, mas da capacidade de reagir ao fogo.

“A Floresta Amazônica é do tipo floresta tropical, pois é muito úmida. Possui diversas camadas que impedem a passagem do vento e é mais sombreada. Se o fogo ocorrer e se espalhar por lá, o impacto é muito maior. Porque ela não possui adaptações de resistência ao fogo. A casca é mais fina, as folhas são mais membranosas. Ao contrário do Cerrado, que é uma vegetação dependente do fogo e evolui em função dele. A vegetação tem casca mais grossa, as gemas ficam protegidas”, explica o engenheiro Alexandre Tetto, coordenador do Laboratório de Incêndios Florestais (Firelab) e do Laboratório de Unidades de Conservação (Lucs) do Setor de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O Pará, cujo bioma predominante é a Amazônia, é o estado que lidera em número de focos de calor: 54.561. Os municípios mais impactados são São Félix do Xingu (7.353), Altamira (5.992) e Novo Progresso (4.787).

Nas últimas semanas, o céu do Pará ficou coberto por uma densa fumaça, proveniente de incêndios florestais e queimadas. A maior parte está relacionada ao desmatamento ilegal na Amazônia. A qualidade do ar foi comprometida em diversas cidades. Santarém ganhou destaque devido aos seus elevados níveis de concentração de poluentes e foi declarada emergência ambiental.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), no dia 24 de novembro, a poluição do ar na cidade era 42,8 vezes superior à diretriz anual de qualidade do ar da Organização Mundial da Saúde (OMS). A Secretaria Municipal de Saúde informou que, entre os meses de setembro e novembro de 2024, Santarém registrou 6.272 consultas relacionadas a sintomáticos respiratórios.

O engenheiro florestal Alexandre Tetto explica que as condições climáticas em 2024 foram favoráveis ​​à propagação do fogo, seja ele natural, legal ou criminoso.

“Os picos em pontos quentes ocorrem devido a duas coisas. Maior disponibilidade de material combustível, ou seja, você tem mais vegetação para queimar. E condições meteorológicas: temperaturas mais elevadas, menor umidade relativa, maior velocidade do vento e seca, maior tempo sem precipitação. Tudo isso acaba possibilitando a maior ocorrência e propagação de incêndios”, afirma o especialista.

O fogo pode ser utilizado de forma controlada e autorizada em determinadas condições meteorológicas. Quando a cadência de tiro é baixa ou média, a queima controlada pode ser feita com mais segurança.

“As queimadas controladas e autorizadas têm uma série de funções e objetivos no campo, desde a melhoria do habitat da fauna, manejo da vegetação, abertura de áreas para agricultura de subsistência. Incluindo para a FAO [Food and Agriculture Organization, das Nações Unidas]a queima controlada é vista como uma forma de reduzir a pobreza, pois permite que pequenos agricultores abram uma área com baixo custo, de forma relativamente segura”, explica Alexandre. As informações são da Agência Brasil.