Aliados do presidente da Câmara dos Deputados dizem que “bronca” de Flávio Dino com ele não é de hoje e temem investigação da Polícia Federal

Aliados do presidente da Câmara dos Deputados dizem que “bronca” de Flávio Dino com ele não é de hoje e temem investigação da Polícia Federal


Interlocutores de Lira (foto) avaliam que a divergência entre os dois é ideológica e temem que isso impacte no desfecho da crise entre os Poderes. (Foto: Mário Agra/Câmara dos Deputados)

Aliados do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), estão preocupados com o inquérito da Polícia Federal (PF) aberto por ordem do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), para apurar supostas irregularidades em a divulgação das emendas da comissão, depois que os líderes da Câmara assinaram uma carta solicitando a liberação dos recursos. Esses interlocutores interpretam que a investigação tem um alvo muito bem definido: o próprio Lira, que está deixando o cargo.

Deputados afirmam que o Senado, por exemplo, não está sendo questionado pelo magistrado, apesar de também ter enviado documento solicitando a execução dos recursos. Porém, o assessor de Dino informou que a atuação de partidos e entidades no STF apenas questiona as alterações da Câmara e que, portanto, o ministro não poderia atuar sobre as do Senado.

Pessoas próximas ao deputado alagoano avaliam que a “repreensão” do magistrado com ele “não é novidade” e relembram episódio de 2021: Lira estava em plena campanha à presidência da Câmara, na disputa com Baleia Rossi (MDB-SP ), e fez uma espécie de “tour” pelos Estados. Foi recebido por vários governadores, mas Dino, que administrava o Maranhão, não o recebeu no Palácio dos Leões. A assessoria de Dino informou que ele estava de férias na época e Lira foi recebido pelo governador em exercício, Carlos Brandão. Procurado, o parlamentar não comentou.

Interlocutores de Lira avaliam que a divergência entre os dois é ideológica e temem que isso impacte no desfecho da crise entre os Poderes por conta das emendas. O tom de pacificação usado por Lira na declaração que fez na noite de quinta-feira, 26, após encontro com lideranças partidárias e encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não passou despercebido. A interpretação é que o presidente da Câmara “não quer briga”.

Lira afirmou que a carta enviada pelos líderes da Câmara pedindo a liberação das emendas da comissão seguiu critérios “rigorosos” e pediu que o governo Lula também esclarecesse os procedimentos. Aliados avaliam que “informações imprecisas e descontextualizadas” levaram Dino a um “erro”.

A Câmara chegou nesta sexta-feira (27), com apelo para explicar a base legal do patrocínio de fundos, conforme antecipou a Coluna do Estadão. “Ficam repudiadas as afirmações de que qualquer ato foi praticado de forma sub-repticia, em segredo ou à margem”, protesta a Câmara, na petição. Porém, o ministro do STF voltou a refutar os argumentos e pediu novas explicações.

As emendas parlamentares são recursos do Orçamento da União que podem ser direcionados pelos deputados e senadores aos seus redutos eleitorais. Hoje, são três modalidades: emendas individuais, emendas de bancada estadual e emendas de comissão. Os dois primeiros são obrigatórios, ou seja, o pagamento é obrigatório, embora o governo controle o ritmo de liberação. As comissões, que estão no centro da polêmica com Dino, foram utilizadas nos últimos anos como barganha política pela liderança do Congresso, em substituição ao esquema orçamentário secreto, revelado pelo Estadão e declarado inconstitucional pelo STF. (Estadão Conteúdo)