Agência Nacional de Saúde quer mudar a política de preços de planos de saúde

Agência Nacional de Saúde quer mudar a política de preços de planos de saúde


A ANS apresenta medidas que prevêem, entre outras alterações, correções “excepcionais” nos contratos individuais em caso de desequilíbrio das operadoras. (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) discutirá proposta de reformulação da política de preços dos planos de saúde, com medidas como correções “excepcionais” nas mensalidades dos planos individuais e familiares cujas operadoras enfrentam dificuldades financeiras. A proposta prevê ainda a definição de cláusula padrão para aumento dos planos coletivos e limites de coparticipação.

A proposta foi aprovada em reunião da diretoria colegiada da ANS na última sexta-feira (27), e será discutida em audiência pública marcada para o dia 7.

Durante a sessão, o diretor de Normas e Qualificação de Produtos da ANS, Alexandre Fioranelli, disse que o “combo” de medidas serve para evitar possíveis distorções com a adoção de “medidas regulatórias que poderão ser tomadas de forma isolada”.

“A nossa expectativa é que haja um aumento da concorrência entre as operadoras, com mais e melhores ofertas para os consumidores. Este aquecimento também é fundamental para a sustentabilidade económica do setor”, afirmou.

Transparência

A iniciativa trata de aspectos financeiros dos planos, como o reajuste anual dos contratos. Segundo o projeto, uma das medidas seria a definição de uma cláusula padrão para reajuste dos planos coletivos, o que, segundo a agência, daria mais transparência ao consumidor sobre o cálculo realizado para definir o percentual.

Hoje, os aumentos são definidos entre a operadora e a empresa contratante (ou a administradora, no caso de contratos de adesão).

Além disso, o texto propõe ampliar o tamanho dos planos para Pequenas e Médias Empresas (PME), atualmente com no máximo 29 usuários. A ideia, segundo a ANS, seria ter maior “diluição de risco” e ajustes mais equilibrados.

Outra medida é a revisão técnica dos preços dos planos individuais ou familiares. Segundo o órgão, seriam estabelecidas exigências para que operadores em desequilíbrio econômico-financeiro pudessem ter reajustes “excepcionais” —ou seja, acima do teto estabelecido pela ANS para o tipo de contrato. Este desequilíbrio, no entanto, teria de ser caracterizado por indicadores pré-definidos.

Para Marina Paullelli, advogada do curso de Saúde do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o reajuste via revisão técnica é uma prática proibida pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC).

“Esse tipo de reajuste coloca o consumidor em extrema desvantagem e, na prática, autoriza alterações unilaterais de preços. Seria oportuno pensar como os operadores podem melhorar a gestão da carteira e os critérios de transparência e compliance para evitar desequilíbrios económicos e financeiros”, analisa.

O projeto também trata de coparticipações e franquias para planos de saúde, prevendo a definição de percentual máximo de cobrança por procedimento, limites financeiros mensais e anuais e procedimentos que não poderão ser cobrados.

Cartões de desconto

Outro ponto que será debatido na audiência pública são as regras para comercialização de planos exclusivamente ambulatoriais, os chamados cartões de desconto.

“Sabemos que existem cerca de 60 milhões de pessoas utilizando cartões de desconto, que são produtos baratos, sem qualquer tipo de regulamentação ou fiscalização. É a forma que essas pessoas encontraram para ter acesso aos serviços de saúde. A proposta de revisão das regras dos planos exclusivamente ambulatoriais é dar a esses consumidores a possibilidade de terem planos de saúde com preços mais baixos, regras claras e cobertura garantida”, disse o presidente da ANS, Paulo Rebello.

Os analistas do Citi consideraram que, das alterações propostas, as que tratam dos ajustamentos dos planos coletivos e da coparticipação e das franquias são “relativamente negativas, pois reduzem a flexibilidade dos operadores, potencialmente aumentando a supervisão sobre o ajustamento e coparticipações das PME”.

A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) disse que só comentará o tema após a publicação do edital pela ANS. A Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) avaliou a iniciativa da ANS como positiva.