A Polícia Federal conseguiu rastrear encontros durante os 18 dias em que o advogado de Bolsonaro passou pelos Estados Unidos para resgatar o Rolex cravejado de diamantes

A Polícia Federal conseguiu rastrear encontros durante os 18 dias em que o advogado de Bolsonaro passou pelos Estados Unidos para resgatar o Rolex cravejado de diamantes


O relatório de análise do celular de Wassef foi apresentado ao Supremo Tribunal Federal.

Foto: Reprodução

O relatório de análise do celular de Wassef foi apresentado ao Supremo Tribunal Federal. (Foto: Reprodução)

No dia 11 de março de 2023, o advogado Frederick Wassef, que representa o ex-presidente Jair Bolsonaro, embarcou para os Estados Unidos com o objetivo de resgatar o relógio de ouro branco cravejado de diamantes que havia sido dado de presente ao seu ex-chefe do Executivo em um pacote. viagem à Arábia Saudita e, posteriormente, vendido por seus aliados. Com base em conversas gravadas no celular de Wassef – aparelho apreendido na Operação Lucas 12:2, a Polícia Federal (PF) conseguiu reconstituir os passos do advogado nos EUA.

O relatório de análise do celular de Wassef foi apresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF), na semana passada, junto com o relatório final da PF sobre a investigação das joias sauditas – caso revelado pelo Estadão no ano passado. O sigilo da investigação foi retirado anteontem pelo ministro Alexandre de Moraes.

As informações revelam passagens inusitadas de Wassef, incluindo uma conversa com um certo “Harry Potter”, um encontro com um dos assistentes do ex-presidente em uma loja de armas e um episódio em que o advogado se escondeu atrás de um poste para fugir dos “fãs” de Bolsonaro .

Os investigadores apontam que o ex-presidente e 11 aliados, incluindo Wassef, faziam parte de uma suposta associação criminosa que vendia presentes dados ao ex-chefe do Executivo devido ao seu cargo. Indiciado, Wassef foi acusado de lavagem de dinheiro e associação criminosa.

Itens como uma escultura dourada em formato de barco e outra representando uma palmeira, além de um relógio Patek Philippe, parte do suposto esquema de venda de presentes de luxo, não foram adicionados ao cálculo da PF sobre os R$ 6,8 milhões desviados . da União.

Os objetos ainda não foram recuperados. Os anéis, terços e abotoaduras que foram devolvidos também não foram incluídos no valor, mas porque ainda aguardam perícia para avaliar quanto valem. Segundo a PF, o ex-presidente “roubou diretamente” os objetos, sem que eles tivessem passado pela Subsecretaria de Documentação Histórica da Presidência, procedimento padrão para joias e presentes de alto valor recebidos por chefes de Estado brasileiros.

As esculturas douradas em formato de barco e palmeira foram apresentadas ao ex-presidente em novembro de 2021, em viagem aos Emirados Árabes Unidos e ao Reino do Bahrein. A reportagem aponta que os itens foram “escondidos” (levados escondidos) para os Estados Unidos, no avião presidencial.

Com base na troca de mensagens de Wassef, a PF conseguiu acompanhar suas reuniões durante os 18 dias em que o advogado passou pelos Estados Unidos com o objetivo principal de resgatar o Rolex cravejado de diamantes.

A operação de resgate foi planejada depois que o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que Bolsonaro entregasse os presentes que havia recebido de autoridades estrangeiras. Segundo a PF, Wassef trocou Campinas (SP) com destino à Flórida no dia 11 de março de 2023. Sua namorada, Thaís Moura, ex-assessora especial da Secretaria de Assuntos Parlamentares da Presidência da República, o acompanhou.

O casal só voltou ao Brasil no dia 29 daquele mês. As passagens custaram R$ 27 mil, sem a taxa de remarcação do voo de volta, que custou mais R$ 10 mil. No dia 14, Wassef pegou outro voo, para Filadélfia, para recomprar o Rolex. Naquele dia, o advogado conversou com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, e com aliados de seu pai, como o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o ex-ajudante de campo do Presidência, tenente-coronel Mauro Cid, que virou denunciante.

Segundo o relatório de 2.041 páginas da PF, Flávio enviou uma mensagem para Wassef às 9h53 daquele dia, mas apagou o texto. Ele então disse que “sentiu falta” do advogado, que respondeu: “Estou lutando por você com lealdade e comprometimento como sempre”. No final da tarde, o advogado recomprou o Rolex – Day-Date por US$ 49 mil, à vista, na loja Precision Watches, localizada a 40 km do aeroporto de Filadélfia. O relógio foi vendido por US$ 68 mil, junto com outro, Patek Philippe, que não foi recuperado. Ainda no dia 14, após o resgate do Rolex, Wassef conversou com Bolsonaro.

Durante sua estada nos Estados Unidos, o advogado fez diversas viagens pelo país. Ele conversava constantemente com Bolsonaro, que o encaminhou para o local onde estava hospedado, na Flórida. O advogado conversava frequentemente com a namorada, que o chama de “Bambi”. No dia 20 de março de 2023, Thaís pediu que ele falasse com “Harry Potter” – a PF suspeita que esse possa ser o apelido do advogado Caio Rocha, que comprou a passagem de Wassef para os EUA.

Finalmente, no dia 29 de março, Wassef retornou com o Rolex ao Brasil. No dia 2 de abril, encontrou-se com Mauro Cid em São Paulo, ocasião em que a propriedade do relógio passou para o tenente-coronel. O ex-ajudante de campo viajou para Brasília no mesmo dia e entregou a guarda a Osmar Crivelatti, ex-assessor de Bolsonaro. O conjunto foi devolvido ao Tesouro no dia 4 daquele mês, em uma agência da Caixa.