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A Editorial Sul
| 6 de janeiro de 2025
Musk é um dos alvos da investigação que apura a atuação de grupos suspeitos de divulgar notícias falsas nas redes sociais.
Foto: Reprodução
Musk é um dos alvos da investigação que apura a atuação de grupos suspeitos de divulgar notícias falsas nas redes sociais. (Foto: Reprodução)
Dentro de duas semanas, a partir de 20 de janeiro, quando Donald Trump retornar à presidência dos Estados Unidos, o Brasil terá, de forma inédita, uma autoridade daquele país investigada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Dono da SpaceX e da X (antigo Twitter), o empresário Elon Musk será o chefe do departamento de Eficiência do Governo americano. Ele é um dos alvos da investigação da milícia digital, que investiga atividades de grupos suspeitos de espalhar notícias falsas nas redes sociais.
O status do papel de Musk no governo ainda não está claro, pois tem havido declarações divergentes sobre se o papel seria oficial, como Trump anunciou publicamente, ou externo à gestão. Segundo o advogado Pablo Sukiennik, mestre em direito internacional pela Universidade de Brasília (UnB), o Brasil é signatário de tratados internacionais que exigem autorização do país de origem para abertura de processos contra autoridades estrangeiras. Em outras palavras, seria necessária a aprovação do governo americano para processar Musk.
“A maioria interpreta esta regra de forma ampla, para qualquer ato praticado, mas há posições que defendem a sua aplicação apenas nos casos de atos praticados em nome do Estado. Essa leitura poderia ser adotada pelo STF para Musk, já que ele agora é investigado pelo que fez como empresário e antes de ocupar cargo no governo americano.”
Sukiennik explica que a regra foi estabelecida na Convenção de Viena criada para dar segurança aos membros de governos estrangeiros de que não seriam punidos em casos de mudança repentina de regime político.
O professor de direito internacional da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) Wagner Menezes, por sua vez, acredita que Musk deve estar sujeito às mesmas regras que qualquer pessoa envolvida na investigação.
“Nada muda. Elon Musk pode responder a uma ação judicial como qualquer outra pessoa. Havendo condenação, a aplicação da pena seria mais complexa, porque os Estados não costumam submeter os seus cidadãos ao cumprimento de pena no estrangeiro.”
O ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, incluiu Elon Musk na investigação das milícias digitais, que investiga o papel de grupos na disseminação de informações falsas. Ele afirma ainda que uma possível sanção contra Musk ainda depende do andamento da investigação. “Há de fato um risco potencial de que isso aconteça, mas a investigação precisa ser realizada. As condições ainda são muito embrionárias.”
Especialistas discordam sobre possíveis repercussões na reputação do Brasil e nas relações entre os dois países. Menezes vê a inclusão do empresário na investigação como uma demonstração de que o Brasil pode punir as pessoas independentemente do seu poder político e econômico.
“O facto de uma figura pública ser processada num determinado país não fala contra um país, pelo contrário: mostra o bom funcionamento das instituições. Do ponto de vista diplomático, é preciso separar a figura de Elon Musk da relação governamental entre os países. A prática hoje discutida nada tem a ver com suas ações como membro do governo. Cada um precisa responder pelo que faz na sua vida privada.
Sukiennik lembra que Trump já criticou a política comercial do Brasil e que a investigação em curso contra Musk pode levantar questões sobre as instituições do país. “Se houver um ataque retórico contra o Brasil, isso poderá ser usado para desacreditar o Judiciário.”
As ações de Moraes contra X ganharam visibilidade mundial após críticas públicas do empresário, que acusou o ministro de agir de forma autoritária ao exigir a derrubada de perfis na rede social. Algumas determinações que determinaram a suspensão de usuários foram baseadas em relatório da Assessoria Especial de Combate à Desinformação, órgão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), grupo chefiado pelo próprio Moraes.
O documento cita decisões do juiz em inquéritos do STF e casos em que atuou no TSE. Os pedidos de retirada de perfis feitos via STF não foram acompanhados de fundamentação, citaram como base documentos confidenciais e exigiram que a ordem de bloqueio das contas de X também fosse mantida em sigilo. Musk chamou Moraes de “pseudojuiz”, disse que ele infringiu as leis e publicou uma montagem em que comparou o ministro ao vilão do filme Harry Potter. (Estadão Conteúdo)
De volta para todo o mundo
A partir do dia 20 de janeiro, quando Donald Trump retornar à presidência dos Estados Unidos, o Brasil terá, de forma inédita, um funcionário daquele país investigado pelo Supremo: o empresário Elon Musk
06/01/2025
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