45% dos brasileiros não têm rede de esgoto e milhões vivem sem água potável

463 anos depois do primeiro projeto de saneamento básico no Brasil – muito antes de ocorrer a primeira revolução industrial no mundo – milhares de brasileiros ainda não têm acesso a um direito básico garantido pela Constituição. No país, mais de 93 milhões e mais de 33 milhões de pessoas não têm acesso, respectivamente, à coleta de esgoto e à água tratada, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS.

A desigualdade econômica é um dos principais agentes de um cenário preocupante, que desencadeia inúmeros problemas de médio e longo prazo, somados a outros fatores, como explica a professora Estácio BH, mestre em saneamento, meio ambiente e recursos hídricos, Danusa Campos Teixeira.

“A urbanização desordenada, os altos custos dos serviços de tratamento de efluentes sanitários, a falta de investimentos em infraestrutura e as questões geográficas – áreas rurais e remotas – também são barreiras para a implementação de uma rede de água e esgoto. O acesso à água tratada e à rede de coleta de esgoto promove saúde e aumenta a expectativa de vida. O saneamento adequado reduz a incidência de doenças, permite condições de vida mais saudáveis ​​para ter acesso ao trabalho e ao estudo e, consequentemente, contribui para o desenvolvimento social e económico do país. Os serviços de saneamento básico também evitam a contaminação do solo, da água e do ar, o que ajuda a proteger a biodiversidade”, destaca.

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Segundo o especialista, os serviços de saneamento básico incluem acesso a água potável, rede de esgotos, gestão de resíduos sólidos e rede de drenagem de águas pluviais e, embora as obras de infra-estruturas exijam elevados investimentos, tecnologia específica e equipas multidisciplinares, existem sistemas alternativos.

“Num país como o Brasil, onde temos chuvas em todo o território – em algumas regiões mais e outras menos -, é inaceitável que muitas pessoas ainda não tenham água em suas casas para beber e cozinhar. Tecnologias eficientes e baratas para captação de águas pluviais já estão bem estabelecidas em vários estudos. É importante conscientizar a população, principalmente nas comunidades remotas, sobre a qualidade da água da chuva, que é muito melhor do que algumas fontes disponíveis nessas regiões”, afirma.

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Danusa Campos Teixeira destaca a urgência da universalização do saneamento básico no Brasil. “Embora seja desafiador, pois são necessárias ações sinérgicas e coordenadas para implementar melhorias, é fundamental construir um planejamento estratégico de longo prazo, identificando prioridades à luz da realidade que observamos hoje no país. A execução dessas obras depende também de investimentos financeiros públicos e privados, sendo fundamental o envolvimento da sociedade no processo por meio de consultas públicas.”