A Associação Mineira de Municípios (AMM) e a Confederação Nacional de Municípios (CNM) entraram com pedido para representar as prefeituras na ação movida pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que pretende impedir que municípios ingressem em processos judiciais estrangeiros.
A entidade que representa o setor mineral acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) na última quarta-feira (6/12), alegando que é inconstitucional entes federativos se envolverem em disputas judiciais no exterior.
Atualmente, existem três processos na Europa envolvendo o setor mineral brasileiro, que movimenta bilhões de dólares em relação ao rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
O advogado e consultor da AMM, Acácio Wide, observa que a ação do Ibram é uma tentativa de impedir que os municípios reivindiquem indenizações fora do país.
“Alguns municípios tomaram a iniciativa de ajuizar ações no exterior, inclusive nas sedes de mineradoras que consideram responsáveis pelos danos. A AMM não participou do processo (do Ibram), mas pediu para ingressar como “amicus curiae”, que na tradução é amigo do tribunal. Aquele que entra no processo para auxiliar, facilitar e esclarecer o julgamento. Nos unimos para defender os interesses dos municípios”, afirmou.
A principal ação em andamento ocorre na Justiça da Inglaterra, onde 700 mil atingidos e 46 municípios processam a Vale e a BHP Billiton, acionistas da Samarco, pelo rompimento em Mariana, quando os rejeitos mataram 19 pessoas e contaminaram a bacia do rio Doce, em 2015. A ação tem valor de R$ 230 bilhões e o julgamento está previsto para começar em outubro.
Em relação ao mesmo facto, nos Países Baixos 77 mil pessoas, 1 mil empresas, 20 instituições religiosas e sete municípios processam subsidiárias da Vale e da Samarco. Na Alemanha, Brumadinho está processando a consultoria que assinou o relatório de estabilidade da barragem que rompeu em 2019, matando 272 pessoas.
Segundo o Ibram, as ações ajuizadas no exterior pelos municípios escapam ao controle do poder público e “não atendem aos princípios constitucionais e à organização do Estado brasileiro”. O instituto afirma que a prática afeta o setor mineral de forma “significativa”, e sem o escrutínio do Judiciário brasileiro há um “desrespeito geral” ao regime constitucional.
Para o presidente do Ibram, Raul Jungman, tratar dos assuntos internacionais é responsabilidade exclusiva da União. “O Ibram argumenta que a estrutura federativa do Brasil impede que os municípios se relacionem diretamente com Estados ou jurisdições estrangeiras, uma vez que os entes federativos, embora tenham autonomia, não têm soberania, que é nacional”, disse.
O processo no STF foi movido contra o município de Acaica, na Zona da Mata, mas dois dias depois o Consórcio Público de Defesa e Revitalização do Rio Doce (Coridoce) solicitou entrada no processo. O grupo argumenta que o Ibram não tem legitimidade para ajuizar a Ação de Descumprimento de Preceitos Fundamentais (ADPF) e que a entidade quer obrigar os municípios a aceitarem os acordos sem serem ouvidos.
Em nota, o prefeito de São José do Goiabal, município localizado na Região Metropolitana de BH, e presidente da Coridoce, José Roberto Gariff Guimarães, afirmou que se trata de uma ação para atrasar os reparos. “A atitude das mineradoras reflete a sua atuação nos últimos sete anos, ou seja, procuram de todas as formas isentar-se do crime que cometeram”, escreve.
A expectativa da AMM é que o relator do caso, ministro Flávio Dino, aceite as entidades no processo. “Estamos falando da maior associação estadual de municípios da América Latina. É um fardo muito pesado, disso não tenho dúvidas, e reforça a tese defendida pelos municípios”, acrescentou Acácio Wide.
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