Grupos de pesquisadores e mergulhadores registraram um cardume de aproximadamente cem tubarões na manhã desta segunda-feira (17) no Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes, unidade de conservação federal administrada pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), no litoral norte de São Paulo.
A quantidade de peixes impressionou os mergulhadores, que afirmaram nunca ter visto um cardume deste tamanho na região e apenas a cerca de 40 metros de um dos extremos da ilha principal do arquipélago.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, houve um aumento recente no número de avistamentos de tubarões ao redor do santuário marinho. O crescimento é relatado em estudo publicado no início do ano por pesquisadores do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (IMar/Unifesp).
A maior frequência de avistamento reforça a hipótese de aumento da presença de tubarões após a ampliação e fortalecimento da área de proteção integral, que fica a aproximadamente 35 km de Ilhabela, segundo a pesquisa.
Para Thais Rodrigues, titular do ICMBio Alcatrazes, as estratégias de monitoramento dos últimos anos e a fiscalização da pesca ilegal ali têm equilibrado a vida marinha que atrai tubarões predadores para aquela região distante das praias frequentadas do litoral norte e dos banhistas.
A presença de tubarões na região do arquipélago também se deve às características geográficas do local. Localizada na confluência de duas correntes oceânicas, as águas ali são ricas em nutrientes.
Em março, mergulhadores já haviam registrado a presença de cerca de 40 tubarões-martelo no local.
Gustavo Luiz dos Santos Benedito, de 37 anos, proprietário do operador turístico Capitão Ximango, estava na segunda-feira no seu barco, com cinco pessoas que monitorizavam aves no arquipélago, quando observou dez tubarões em redor e decidiu saltar para o mar.
De volta ao barco, ele conta que contou ao grupo sobre o cardume, que também caiu na água durante o mergulho livre – sem cilindro de oxigênio, apenas com máscara e snorkel. “Quando percebemos que estávamos cercados por eles”, diz ele.
Os peixes estavam próximos à superfície e foram avistados por volta das 10h na região do Saco do Funil, um dos extremos da ilha principal de Alcatrazes e que não consta como primeiro ponto de avistamento.
Geraldo de França Ottoni Neto, oceanógrafo e analista ambiental do ICMBio Alcatrazes, que também nadou ao lado dos peixes, afirma que o cardume era formado por Carcharhinus, cujas espécies de tubarão selvagem e tubarão-seda foram registradas no santuário pelo estudo da Unifesp.
Segundo ele, os tubarões não eram adultos e mediam de 1,5 metro a 2 metros – podiam chegar a 3 metros. A área é considerada um criadouro.
Ottoni Neto trabalhava na fiscalização da pesca ilegal quando foi alertado pelo grupo de pesquisadores sobre a escola. Ele voltou ao local mais tarde e os peixes ainda estavam lá, então ele decidiu entrar na água.
“Eles pairavam na superfície e quando caímos na água eles vieram dar uma olhada, curiosos”, conta, sem demonstrar medo do perigo de nadar naquela situação. “O tubarão é um animal carismático, não tem hábito de comer nada que não seja peixe. Sua boca está preparada para comer peixe e não ossos.”
Com mais de 10 mil mergulhos realizados, o biólogo, fotógrafo e cinegrafista oceanográfico Léo Francini, 51 anos, participou de trabalhos de monitoramento de aves e diz que ficou maravilhado com o que viu e filmou.
“Já mergulhei com tubarões em vários lugares, como Fernando de Noronha e Abrolhos [parque nacional marinho na Bahia]mas nada era igual”, disse ele. “Pulamos com três ou quatro tubarões na água e, de repente, havia tubarões por toda parte.”
O avistamento de tubarões em Alcatrazes é recente e já se verifica há cerca de dois anos.
Empresas consultadas pela reportagem afirmam que o número de pessoas que contratam operadores credenciados para mergulho no arquipélago por causa dos predadores tem crescido gradativamente, apesar da Câmara Municipal de Ilhabela afirmar que o município ainda não está estruturado para esse tipo de turismo.
O dono do barco que levou os pesquisadores na última segunda-feira conta que sempre que foi ao santuário marinho, desde o início do ano, avistou tubarões.
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