BRASÍLIA (Folhapress) – O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), incluiu nesta terça-feira (18) na pauta de votação a chamada PEC da Anistia, que visa dar o maior perdão da história às irregularidades cometidas por partidos políticos, entre elas está o descumprimento de cotas eleitorais para negros e mulheres.
O novo texto da medida inclui ainda anistia e imunidade tributária aos partidos, suas fundações e institutos, além de um programa de refinanciamento das dívidas dos partidos.
A decisão de Lira ocorreu após reunião com lideranças partidárias, em sua residência oficial, em Brasília.
A Câmara chegou a tentar votar a PEC em outubro do ano passado em comissão especial, mas uma reação negativa bloqueou a medida. Como não houve votação na comissão dentro do prazo, o presidente da Câmara pode levar o assunto diretamente ao plenário.
A PEC da Anistia conta com o apoio de praticamente todos os partidos, do PT de Lula ao PL de Jair Bolsonaro, com apenas o PSOL de esquerda e o Novo de direita em oposição aberta.
Já foi aprovado na CCJ da Câmara e esteve em comissão especial. Houve três tentativas de votação na comissão no ano passado, mas diferenças em alguns pontos específicos atrasaram o resultado.
Para que uma emenda à Constituição seja aprovada é necessário o voto de pelo menos 60% dos deputados federais e senadores, em dois turnos de votação em cada Casa Legislativa.
Segundo deputados, a intenção é votar os dois turnos da proposta nesta quarta-feira (19/6), mas líderes partidários afirmam que isso ainda dependerá de acordos com o Senado.
Apesar do amplo apoio na Câmara, a PEC da Anistia não encontrou apoio tão claro entre os senadores no ano passado.
Os deputados afirmaram que só reanalisariam a proposta e assumiriam o estresse público dela resultante se tivessem certeza de que o Senado não a bloquearia. Caso não haja essa garantia, a PEC poderá voltar à gaveta.
A proposta visa isentar os partidos políticos de qualquer irregularidade cometida na aplicação de verbas eleitorais em 2022, perdoando em especial o descumprimento pelos partidos de cotas para incentivar a participação de negros e mulheres na política, além de enfraquecer essas políticas.
“O cumprimento dos valores mínimos (tanto para mulheres quanto para negros) não é mais obrigatório, a menos que seja definido em lei aprovada pelo Congresso Nacional”, destaca análise do novo texto feita pela Transparência Partidária.
Como o percentual de pelo menos 30% dos recursos destinados às mulheres está na Constituição, ou seja, foi aprovado pelo Congresso, esse ponto não seria afetado.
Os candidatos pretos e pardos deveriam ter recebido um valor proporcional – ou seja, 50%? ao investido em candidatos brancos nas eleições de 2022. Na prática, receberam muito menos, com descumprimento em praticamente todas as partes.
A cota racial não provém de leis aprovadas pelo Congresso, mas sim da interpretação da legislação feita pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A PEC agora baixa formalmente a cota racial para 20%, ou seja, concentra 80% do dinheiro público de campanha nas mãos de brancos. Na prática, porém, esse percentual pode ser ainda menor, pois não há lei aprovada pelo Congresso nesse sentido.
O texto determina ainda que o TSE deverá definir e divulgar os percentuais e valores a serem repassados aos negros e às mulheres no prazo de cinco dias após a apresentação dos requisitos de registro de candidatura, prazo considerado inexequível pelos técnicos da Justiça Eleitoral.
O novo texto da PEC da Anistia foi distribuído aos parlamentares na tarde desta terça. A nova versão da proposta confere imunidade e anistia fiscal completa aos partidos e suas fundações e institutos.
O texto também cria um “Refis” específico para que os partidos liquidem futuras dívidas tributárias sem incorrer em juros ou multas, além de permitir a utilização de recursos públicos do Fundo Partidário para pagar sanções aplicadas pela Justiça.
A Câmara patrocinou recentemente a votação de propostas polêmicas, como a aprovação, na semana passada, da tramitação urgente do Projeto de Lei Antiaborto por Estupro, que visa equiparar abortos realizados após 22 semanas de gravidez a homicídio.
A reação contrária em setores da sociedade fez com que a proposta patrocinada pela maior parte do grupo religioso perdesse força, pelo menos por enquanto.
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