A programação da Globo fez uma pausa na leveza habitual para abordar diretamente a política. Durante o Domingo com Huck no dia 16 de junho, o apresentador Luciano Huck parou a competição Dança famosa criticar o Projeto de Lei 1904/2024 — que ganhou o nome viral de PL do Aborto —, iniciativa repetida por Ana Maria Braga no Mais você nesta segunda-feira, dia 17. O PL pretende equiparar o aborto intencional ao homicídio se realizado após 22 semanas de gestação (cinco meses e meio) —mesmo que seja causado por estupro. Se aprovada, a lei poderá punir as mulheres com penas de seis a 20 anos de prisão, prazo superior ao implementado para estupradores, cuja pena varia de oito a doze anos de prisão.
O que Luciano Huck disse sobre a Lei do Aborto?
No programa, Huck disse que ficou muito incomodado ao longo da semana com as notícias referentes ao PL. “Este projeto cria uma situação absurda, independentemente de[mente] de suas convicções políticas, morais ou religiosas, disse ele. Em seu comentário, o apresentador levantou então o caso do homem preso em São Bernardo do Campo após ser visto abusando sexualmente da filha de 17 anos, internada em uma UTI. “De acordo com este projeto que vai ser votado, este homem poderá enfrentar uma pena menor que a da filha”, apontou, levantando a hipótese de a menina engravidar e decidir interromper a gravidez após o período de 22 semanas, “ou devido à demora nos tribunais ou qualquer outro obstáculo que uma vítima de abuso enfrenta hoje no acesso ao aborto legal”.
Enfaticamente, o apresentador reforçou: “Não é uma questão ideológica. É uma questão de lógica. Criança não é mãe. É muito cruel forçar uma vítima de violação a levar uma gravidez até ao fim. Queria estar ao lado de todas essas mulheres que foram vítimas de estupro e que não deveriam ser vítimas de injustiça.”
“Uma criança não é mãe. Esta semana um pai abusou da filha de 17 anos internada em uma UTI. Se esse PL for aprovado, ele terá pena menor que a da filha que foi estuprada e interromperá a gravidez com 22 semanas.” (Luciano Huck) #domingao pic.twitter.com/V4o9xNHMLE
— Sérgio Santos (@ZAMENZA) 16 de junho de 2024
Para encerrar seu discurso, dirigiu-se diretamente a Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados: “Respeitamos o Parlamento brasileiro, que foi eleito pelo povo brasileiro. Respeitamos todos os deputados presentes, mas simplesmente não é lógico. É, acima de tudo, cruel com as mulheres do nosso país.”
O que Ana Maria Braga disse sobre a Lei do Aborto?
Na manhã seguinte, Ana Maria Braga utilizou o Mais você também se opor ao projeto, reforçando a dificuldade de fazer um aborto legal antes do prazo determinado. “Não é fácil encontrar caminhos, leva tempo. Muitas vezes, no país onde moramos, demora mais de 22 semanas, porque você não encontra UPA, não encontra alguém para fazer e não encontra horário para os exames necessários”, disse. . Sobrevivente de câncer, a apresentadora usou como exemplo a Lei dos 30 Dias, que determina que os exames para confirmação do diagnóstico sejam realizados em até 30 dias, mas, segundo ela, podem demorar seis meses ou mais no sistema público de saúde.
Ana Maria Braga desabafou e mandou um recado aos políticos a favor do projeto de lei que equipara o aborto ao homicídio: “É uma injustiça tremenda. E se fosse cada uma de suas filhas? E se sua esposa fosse estuprada?” #Mais você pic.twitter.com/qk6PmT3bkH
— Danilo quer batalhar! (@Reenlsober) 17 de junho de 2024
“Onde você já viu algo assim sendo feito? Onde a pena da vítima é maior que a do agressor, a da pessoa que estuprou. Políticos, estamos em suas mãos. A sociedade espera que este projeto não seja aprovado sem uma ampla discussão. Representa uma tremenda injustiça. É fácil dizer ‘entregue seu filho para adoção’, como ouvi ontem, mas agora quero saber: e se fosse sua filha quem votasse nesse PL? Se fosse alguém da sua família? E se sua esposa fosse estuprada? Isso acontece todos os dias, basta ver quantos estupros e maus-tratos acontecem todos os dias no Brasil”, completou.
Ainda sem data para ser votado, o projeto apelidado de “Projeto de Lei do Estupro” pelos seus adversários teve a urgência aprovada na Câmara no dia 12 de junho. A iniciativa partiu do deputado Sóstenes Cavalcante, pastor evangélico do PL-RJ próximo a Silas Malafaia. Em troca do apoio da bancada evangélica para sua reeleição em 2023, o presidente Arthur Lira já havia prometido colocar o aborto em pauta. No site da Câmara, uma pesquisa pública já obteve mais de 1 milhão de votos, dos quais 88% são totalmente contra a lei.
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