11/06/2024 – 22:33
• Atualizado em 11/06/2024 – 22h58
Mário Agra/Câmara dos Deputados
No Plenário, deputados debateram a urgência da proposta
A Câmara dos Deputados aprovou, por 302 votos a 142, o urgência para Projeto de Resolução 32/24, de Conselho Administrativoque permite a este órgão suspender por até seis meses, a título cautelar, o mandato de deputado federal acusado de violação de decoro parlamentar. O projeto será colocado em votação no Plenário nesta quarta-feira (12).
Segundo a Diretoria, o projeto visa evitar “a ocorrência de confrontos desproporcionalmente acirrados entre parlamentares”. Pelo texto, a decisão do Conselho deverá ser deliberada pelo Conselho Parlamentar de Ética e Decoro no prazo de 15 dias, com prioridade sobre as demais deliberações.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, afirmou que o projeto visa trazer um mínimo de tranquilidade ao funcionamento das comissões e do Plenário. Segundo Lira, os incidentes de agressão entre deputados não têm sido esporádicos, mas repetidos. “No que diz respeito às agressões que ultrapassam o limite da racionalidade, não há mais nada a pedir, nada mais a alegar. Não tivemos respostas adequadas ao que está acontecendo.”
Com a proposta de resolução, Lira explicou que os presidentes das comissões e do Conselho de Ética poderiam ser mais rígidos com a atuação dos parlamentares para controlar o discurso excessivo, por exemplo. “Hoje o que vemos na televisão é um parlamentar falando e outro atrapalhando, interrompendo.”
Lira afirmou que a Polícia Legislativa não vai mais dispersar brigas entre deputados. “Com a Polícia Legislativa, a partir de agora, impedida de entrar no meio de uma discussão entre dois parlamentares, eles entrarão em conflito. Um parlamentar contra o outro, se acharem que vão resolver de fato, a Polícia Legislativa não vai mais entrar nesse debate”, declarou.
Reunião de líderes
Na manhã desta quarta-feira, lideranças partidárias discutirão o projeto em reunião anunciada pelo presidente da Câmara. A sessão plenária para votação do texto deverá ocorrer à tarde.
Debate em Plenário
O líder do Republicanos, deputado Hugo Motta (PB), afirmou que “para situações esquisitas são necessárias atitudes estranhas”. “A Câmara precisa ser enérgica neste ponto. E precisamos tomar decisões que não gostaríamos”, disse ele. Segundo ele, os partidos contrários à proposta são os dos extremos políticos, de esquerda e de direita.
Para o líder petista, deputado Odair Cunha (MG), a medida é necessária para recuperar o comportamento civilizado e democrático na Câmara. “As regras atuais e o modo de operação dos actuais órgãos não têm conseguido restaurar a civilidade necessária à convivência democrática”, afirmou. Cunha reconheceu que a medida é desconcertante e incómoda, mas considerou-a essencial para garantir a civilidade.
O líder do PSB, deputado Gervásio Maia (PB), disse que a proposta é reflexo da inação do Conselho de Ética. “Se não resolvermos o problema adotando um remédio eficaz que faça as coisas funcionarem, as consequências serão terríveis”, disse ele.
O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) elogiou as mudanças propostas que, segundo ele, darão mais seriedade à Câmara. “Precisamos agir, precisamos garantir que aqui haja um ambiente de debate, de discussão política, de respeito, para que possamos avançar, mesmo com opiniões antagônicas e divergentes”, declarou.
Para o líder do PP, deputado Doutor Luizinho (RJ), foram ultrapassados os limites do que cabe aos deputados federais. “Esta é uma casa de decoro.”
O presidente do Conselho de Ética, deputado Leur Lomanto Júnior (União-BA), afirmou que a proposta não retira nenhuma competência do órgão. “Não adianta ter representação chegando, fazer reuniões entre partidos e fazer acordo político para salvar deputados. A medida é correta, necessária e urgente”, afirmou.
Soberania do voto
Diferentemente da indicação da maioria dos dirigentes, o líder da oposição, deputado Filipe Barros (PL-PR), afirmou que o remédio oferecido para combater a falta de decoro na Câmara é incorreto. “Há aí uma questão de soberania de voto. Não me parece razoável que esta seja uma decisão da Mesa da Câmara.”
Ele sugeriu outras penalidades, como não poder retornar à sala da comissão onde houve conflito, em vez de ser destituído do cargo. “Não podemos permitir que este texto seja usado para perseguir A ou B”, disse ele.
O deputado Glauber Braga (Psol-RJ) criticou a proposta, comparando-a ao AI-5 da ditadura militar, que autorizou o presidente da República a suspender as atividades do Congresso Nacional e cassar os mandatos dos parlamentares, além de suspender direitos políticos de qualquer cidadão brasileiro. “Ele [Lira] agora tem em suas mãos a prerrogativa de remover [os deputados] de forma cautelar. Não vou emitir um mandato restrito”, disse ela.
Para o deputado Mendonça Filho (União-PE), a mudança regulatória invade a prerrogativa do eleitor que escolheu o deputado. “Não dou a nenhum membro do Conselho o direito de suspender o meu mandato concedido pelo povo pernambucano”, afirmou. Segundo ele, ser contra a mudança regimental não é “acabar” com a agressão.
Para a deputada Adriana Ventura (Novo-SP), a proposta reproduz um sistema autoritário que vem sendo criticado por parlamentares. “Por que existimos? Para representar pessoas. Goste ou não, tem aqui um monte de parlamentares truculentos que eu teria vergonha de levar para casa. Mas eles foram eleitos”, disse ela. Ela sugeriu fortalecer o papel do Conselho de Ética em vez de aprovar a proposta apresentada.
Segundo o presidente da Câmara, Arthur Lira, a medida é um incentivo para que o Conselho de Ética se posicione mais rapidamente sobre determinados casos.
Reportagem – Eduardo Piovesan e Tiago Miranda
Montagem – Pierre Triboli
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