Ambientalistas defendem participação popular nas políticas para enfrentar desastres climáticos – Notícias

Ambientalistas defendem participação popular nas políticas para enfrentar desastres climáticos – Notícias


11/06/2024 – 19:56

Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Ivan Valente (C) é um dos autores do pedido para realização do seminário

Ambientalistas que participaram de seminário sobre adaptação climática, realizado nesta terça-feira (11) na Câmara, cobraram a participação social no desenvolvimento de políticas públicas relacionadas às mudanças climáticas.

O evento foi realizado em conjunto pelas comissões de Direitos Humanos, Meio Ambiente e Legislação Participativa a pedido dos deputados Ivan Valente (Psol-SP) e Talíria Petrone (Psol-RJ).

Para o coordenador de Justiça Climática do Greenpeace Brasil, Igor Travassos, as pessoas afetadas por desastres são aquelas que melhor conhecem os lugares onde vivem. Por isso, defende que são os mais indicados para criar soluções e estratégias de permanência nestes territórios.

Os participantes também foram unânimes em afirmar que prevenir tragédias climáticas não pode resultar em mais violência contra populações vulneráveis, como negros, indígenas e quilombolas, que são os mais afetados. Todos afirmaram que retirar as pessoas do local onde moram não é solução.

Como afirma Igor Travassos, o que é necessário é a ação do poder público para criar condições de permanência. “Hoje, no Brasil, não temos justificativa para não estruturar uma área de risco. Tanto que vemos as mesmas características nas áreas de elite, nas grandes cidades, na aglomeração de capitais em áreas montanhosas que estariam em risco se não tivessem estrutura e preparo”, destacou. saneamento, drenagem do solo e orçamento público para as zonas mais pobres “E isto nada mais é do que racismo ambiental”, acrescentou.

A representante da Rede de Adaptação Antirracista Thaynah Gutierrez destacou que, no momento, o governo federal desenvolve três políticas distintas para prevenir e reparar danos causados ​​por eventos climáticos extremos. Segundo o seu relatório, estão a ser formulados o novo plano de protecção e defesa civil, o chamado Plano de Adaptação Climática, e um programa dirigido às populações periféricas, relacionado com a contenção de encostas.

A activista lamentou, no entanto, que não haja uma coordenação unificada de trabalho, o que dificulta a participação social. “Infelizmente, até o momento, não temos nenhum diálogo que leve em conta a participação social para contribuir efetivamente com esses três planos ao mesmo tempo, o que dificulta nossa participação como sociedade civil.”

O presidente da Comissão de Legislação Participativa, deputado Glauber Braga (Psol-RJ), relatou que estava em Teresópolis em 2011, quando chuvas extremas causaram devastação na cidade, e sua casa foi soterrada. A tragédia deixou 934 mortos. O deputado destacou, porém, que as consequências não são as mesmas para todos os afetados. “Fui afetado diretamente, assim como várias outras pessoas na cidade, mas os efeitos posteriores, obviamente, são muito mais impactantes, dolorosos, traumáticos, para os moradores da periferia.”

A representante da Coalizão Negra por Direitos Gisele Brito apresentou mapas que mostram a correlação entre áreas de risco ambiental e a população negra. Como exemplo, ela destacou que na cidade de São Sebastião, em São Paulo, em alguns locais de maior perigo a população negra chega a 92% dos moradores. São Sebastião sofreu uma tragédia ambiental no ano passado, com enchentes e deslizamentos de terra que deixaram a cidade isolada.

Na região metropolitana do Rio de Janeiro a situação não é diferente, segundo a representante da Casa Fluminense, Luize França Sampaio. Segundo ela, em Magé, que tem a maior população quilombola e indígena do estado, 65% das residências estão em locais com risco de alagamentos. Além disso, ela afirmou que 84% dos internados por doenças de veiculação hídrica na região metropolitana são negros.

O seminário sobre adaptação climática continua na próxima quinta-feira com representantes do governo federal.

Reportagem -Maria Neves
Edição – Georgia Mores



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