Após 40 dias de negociações, permanece o impasse sobre o pagamento da dívida bilionária acumulada por empresas de construção que confessaram múltiplas fraudes na competição empresarial ao longo da última década – desde a formação de cartéis à corrupção de funcionários e políticos no governo, Congresso e empresas públicas.
Fizeram acordos judiciais, validados pelo Supremo Tribunal Federal, para indenizar suas vítimas em ações da Lava-Jato, principalmente da Petrobras. Eles pagariam 18,5 bilhões de reais, no total, em parcelas de até vinte anos. Eles pagaram apenas metade.
Eles suspenderam o pagamento da outra metade e foram defendidos no STF por um trio de partidos políticos aliados ao governo —Socialismo e Liberdade, Comunista do Brasil e Solidariedade, ligado ao centro sindical Força Sindical.
PSOL, PCdoB e Solidariedade uniram-se numa ação judicial contra o Estado para proteger os interesses exclusivos de algumas empresas nacionais e estrangeiras.
Os três partidos desenvolveram a tese inusitada de que, no capitalismo nacional, algumas empresas são mais iguais que outras. Alegaram que construtoras como Odebrecht (atual Novonor), OAS, Engevix (atual Nova), Camargo Correa, Andrade Gutierrez e UTC aceitaram acordos de leniência “num contexto de coerção absoluta e irresistível” e, também, de “violência” — uma palavra que destacaram oito vezes na petição inicial.
Em audiência pública em fevereiro, o desembargador André Mendonça, do STF, perguntou a cada um se aquilo era verdade. Alguns negaram, outros discordaram.
As empresas basicamente afirmam:
* Reconsideração de crimes confessados. Em vez de corrupção, querem acusar crimes mais leves, como financiamento ilegal de campanhas eleitorais;
* Desconto (50%) em dívida ativa (cerca de 9 bilhões de reais);
* Possibilidade de utilização de dispositivos contábeis, como compensação de prejuízos fiscais, no pagamento do valor apurado após o desconto no prazo de dez anos.
O governo Lula, que havia incentivado PSOL, PCdoB e Solidariedade na defesa das construtoras, aparentemente ficou refém da própria surpresa diante das repercussões negativas dessa negociação, causada por partidos aliados.
O prazo dado pelo STF para conciliação termina em duas semanas, na quinta-feira, 27 de junho.
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