Seis anos após tragédia em Brumadinho, Minas Gerais tem mais de 40 barragens em nível de alerta ou emergência

Seis anos após tragédia em Brumadinho, Minas Gerais tem mais de 40 barragens em nível de alerta ou emergência


No total, 270 pessoas morreram na tragédia de Brumadinho. (Foto: Isac Nóbrega/PR)

Foto: Isac Nóbrega/PR

No total, 270 pessoas morreram na tragédia de Brumadinho. (Foto: Isac Nóbrega/PR)

Seis anos após o rompimento da barragem Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho (MG), na Região Metropolitana de Belo Horizonte, causando 270 mortes, Minas Gerais abriga 43 estruturas em nível de alerta ou emergência, segundo dados dados da Agência Nacional de Mineração (ANM).

O número corresponde a 42% do total de barragens nesta situação em todo o Brasil (102). Em MG, as estruturas em risco estão distribuídas em 19 municípios, principalmente na Região Central.

Eles são:
– 15 barragens em nível de alerta: quando é detectada alguma anomalia que não gera risco imediato à segurança, mas deve ser controlada e monitorada, entre outros critérios;
– 22 no nível emergencial 1: quando a barragem possui categoria de alto risco, entre outros critérios;
– 4 no nível emergencial 2: quando a barragem apresenta anomalia não controlada, entre outros critérios;
– 2 no nível emergencial 3: quando a ruptura é inevitável ou está ocorrendo, entre outros critérios.

As duas barragens em situação mais grave são Forquilha III, da Vale, em Ouro Preto, região Central do estado, e Serra Azul, da ArcelorMittal, em Itatiaiuçu, na Grande BH. O primeiro armazena 19,4 milhões de m³ de rejeitos de mineração. O segundo, 5,02 milhões.

Ambas foram construídas pelo método a montante, como as que desabaram em Brumadinho e Mariana. Neste tipo de estrutura, as elevações, em forma de degraus, são feitas com os próprios resíduos depositados.

“As barragens e pilhas de rejeitos são atualmente a nossa maior preocupação, principalmente as barragens que estão em algum nível de alerta ou risco, mas também as que não estão, devido às chuvas extremas. A maioria dessas estruturas não tem tamanho adequado para suportar as chuvas intensas que as mudanças climáticas estão trazendo”, disse o especialista em conflitos ambientais na mineração e professor do Instituto Federal de Minas.

Após as tragédias nos municípios mineiros, a construção e o alteamento de barragens de mineração a montante foram proibidos no Brasil. A Lei Federal 14.066, de 2020, estabeleceu o dia 25 de fevereiro de 2022 como data final para a descaracterização de estruturas deste tipo. Contudo, esse prazo não foi cumprido.

Em Minas Gerais, segundo o Ministério Público do Estado, 19 foram destruídas, ou seja, deixaram de servir como barragens.

O processo para mais 35 ainda está em andamento, incluindo os dois em situação mais emergencial – Forquilha III só deverá ser concluída em 2035, e Serra Azul, em 2032.

Brumadinho

A barragem da Vale rompeu em 25 de janeiro de 2019 e despejou 12 milhões de m³ de resíduos nas instalações da empresa, nas comunidades e no Rio Paraopeba.

No total, 270 pessoas morreram na tragédia. Três permanecem desaparecidos até hoje:

Maria de Lurdes da Costa Bueno, 59 anos, que passava férias com a família numa pousada enterrada na lama;

Nathália de Oliveira Porto Araújo, 25 anos, estagiária da Vale que estava no horário de almoço, conversando com o marido ao telefone, no momento do desabamento da estrutura;

e Tiago Tadeu Mendes da Silva, 34 anos, engenheiro mecânico recém-formado que havia sido transferido para a mina de Brumadinho cerca de 20 dias antes da tragédia.

Seis anos depois, o Corpo de Bombeiros continua em busca de vítimas que ainda não foram encontradas.
Os militares trabalham com apoio de estações de busca, que processam o material coletado por máquinas e separam os fragmentos maiores dos mais finos. Os bombeiros são treinados para inspecionar visualmente tudo o que passa pelas esteiras e, desde o final do ano passado, contam com a ajuda da inteligência artificial nesse processo.

“O bombeiro, obviamente, tem que estar sempre atento. São 12 horas por dia, quatro postos de busca funcionando 24 horas por dia, e toda essa atenção é necessária para que em nenhum momento de distração se perca um objeto de interesse. […] O objetivo do Corpo de Bombeiros é encontrar as três joias restantes”, disse o major João Paulo Ferroni.

Ao longo de 2024, a Polícia Civil, responsável pela perícia dos materiais, recebeu 20 segmentos humanos localizados pelos bombeiros na área de buscas. Desde a tragédia, houve 1.045. A maior parte das análises já foi concluída – atualmente, 28 estão em processamento.

Há dois anos, em janeiro de 2023, Vale, Tüv Süd e 16 pessoas tornaram-se réus no processo atualmente em tramitação na Justiça Federal relativo ao rompimento da barragem de Brumadinho.

Segundo as investigações, apesar de ter conhecimento dos problemas da barragem, a consultoria Tüv Süd emitiu declarações do estado de estabilidade da estrutura, com fator de segurança abaixo do recomendado pelas normas internacionais. A mineradora estaria ciente da situação e apresentou os documentos às autoridades.

Todos os indivíduos foram acusados ​​de homicídio qualificado (270 vezes), crimes contra a fauna e flora e crimes de poluição. Vale e Tüv Süd, por crimes contra a fauna e flora e poluição.

Porém, em março de 2024, a ação penal contra um dos réus, o ex-presidente da Vale, Fábio Schvartsman, foi arquivada, e ele deixou de ser réu no caso. O processo continua agora com 17 alvos – 15 indivíduos e as duas empresas.

Em nota, a Vale destacou “seu respeito às famílias impactadas pelo rompimento da barragem” e disse que “continua comprometida com a reparação dos danos”. Afirmou ainda que “cooperou com as autoridades” desde o início das investigações.

Sobre a barragem Forquilha III, a mineradora disse que o projeto de engenharia para a descaracterização “está protocolado nos órgãos que fazem esse acompanhamento e as obras deverão ser iniciadas em breve”.

Segundo a Vale, a expectativa é que, até o final deste ano, a estrutura saia do nível emergencial 3.

A ArcelorMittal, responsável pela barragem de Serra Azul, afirmou que a estrutura está desativada e não recebe rejeitos desde 2012. Disse ainda que todos os indicadores de segurança permanecem inalterados e são monitorados 24 horas por dia. As informações são do portal de notícias g1.