Uma semana depois do anúncio de reformulação geral no comando de comunicação do governo federal, o clima na Esplanada dos Ministérios é um misto de tensão, apreensão e, em alguns casos, pânico. A mudança na Secretaria de Comunicação da Presidência da República, que já vinha em andamento, ocorreu na esteira da confusão envolvendo fake news sobre novas regras do Pix, que obrigou o Ministério da Fazenda a revogar medida fiscalizadora e expôs a falta de estratégia, coordenação e orientação.
A troca de Paulo Pimenta por Sidônio Palmeira foi comemorada, principalmente, pela visão técnica e profissional do novo ministro, especialista em publicidade. Porém, encerradas as festividades de posse, a insegurança se instalou e cresceu nesta semana, motivada em parte pela bronca dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião ministerial da última segunda-feira, dia 20, e pela decisão de centralizar todas as divulgações”, seja uma portaria ou uma instrução normativa”, conforme explicou o ministro Rui Costa (Casa Civil). Segundo o ministro, a ideia é que a Casa Civil faça uma análise prévia do potencial que cada medida de todos os ministérios pode ter para o governo.
“Isso inviabiliza uma boa comunicação”, diz uma fonte governamental de alto escalão. “O governo tem que orientar, mas os ministérios devem ter autonomia para trabalhar”, afirma. Para outro interlocutor oficial, “o desafio da comunicação atual está nas redes sociais, que não têm uma receita de bolo que sirva para todos” e a Casa Civil, argumenta, “não tem o conhecimento técnico nem os recursos para avaliar tudo o que acontece nos ministérios.” Para ele, “isto vai paralisar a comunicação na esplanada. Não há aprendizado para ninguém.”
A decisão do governo acrescentou mais tensão e medo num cenário em que já havia apreensão se as ações cotidianas poderiam ser distorcidas pela oposição, criando novas falsas polêmicas nas redes sociais. “Depois que a crise acontece é fácil encontrar o problema, mas duvido que alguém preveja que uma medida técnica da Receita seria transformada em mentira e distribuída em escala industrial”, avalia a fonte, em referência ao instrução normativa da Receita que ampliou o poder de fiscalização das operações com Pix.
O maior problema dessa centralização, segundo um alto funcionário na esplanada, é que o governo não tem gente ou conhecimento técnico suficiente no Palácio do Planalto para gerenciar a comunicação entre os ministérios. “Quem na Casa Civil entende tecnicamente de comunicação e economia para acompanhar, por exemplo, os ministérios da economia”, questiona. “No mundo de hoje, a centralização é o caminho errado”, acrescenta, destacando que embora a preocupação seja legítima, a solução pode “dar um tiro no pé”.
Cada ministério tem sua peculiaridade. O Ministério da Fazenda, por exemplo, além de interagir com o mercado financeiro e o ambiente político, afeta diretamente a vida real, e está no centro dos principais debates dentro do governo. O ministro Fernando Haddad também é alvo da oposição, por ser um possível candidato à sucessão de Lula. Não é de surpreender que os vídeos manipulados que falam sobre o aumento de impostos sobre as pessoas de baixa renda tenham usado a imagem de Haddad. “É mais fácil para as pessoas acreditarem. A extrema direita escolheu temas econômicos, como o Pix, para plantar nas pessoas a imagem de um estado tirânico que quer controlar a vida das pessoas”, afirma fonte do governo.
Nos últimos dias, alguns secretários e assessores seniores começaram a se sentir incomodados ao falar com jornalistas que acompanham suas respectivas áreas, o que era rotina. Até as equipes técnicas demonstram desconforto. “Já era difícil ouvir a liderança. Agora, então, as decisões serão tomadas, sem discussão”, critica um técnico, destacando que “é impossível para a Secom e para a Casa Civil administrar a comunicação de todos os ministérios”. Segundo ele, com o medo que temos hoje, “é melhor não comunicar nada porque assim não teremos problema”.
Isso é exatamente o oposto do que Lula quer. Na segunda metade do mandato, pretende aumentar o diálogo com a população e divulgar as conquistas do governo. A avaliação do Palácio do Planalto é que a queda de popularidade da atual gestão registrada nas últimas pesquisas de opinião decorre da dificuldade do governo em mostrar o que fez de bom até agora. O presidente quer reverter esta situação, mas, ironicamente, pelo menos neste primeiro momento, o que prevalece é o silêncio.
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