PSD-PSDB: Uma nova peça no xadrez político

O PSDB, criado a partir de uma visão reformista moderna, com propostas de estabilização económica, reformas estruturais e desenvolvimento social alinhadas com o equilíbrio fiscal, naufragou ao longo dos últimos anos numa política medíocre, centrada nos interesses de grupos regionais e pessoais, não conseguindo lado projetos nacionais de longo prazo. A crise de identidade do partido culminou no abandono do legado de Fernando Henrique Cardoso (FHC), figura que consolidou o PSDB como pilar do centro político durante seus dois mandatos presidenciais. José Serra, Aécio Neves e João Dória não conseguiram manter o excepcional trabalho político realizado por Franco Montoro, Mario Covas, Tasso Jereissati e Fernando Henrique Cardoso, entre outros.

Um dos episódios que aprofundou a desarticulação do partido foi a candidatura fracassada de João Doria à Presidência da República em 2022. Lançada como uma tentativa de reafirmar a relevância nacional do partido, a candidatura de Doria não só fracassou, como também intensificou as divisões internas do PSDB. . O processo de imposição de seu nome, amplamente contestado, enfraqueceu o partido em São Paulo, seu principal reduto político, e agravou o declínio de sua influência em nível nacional. Paralelamente, o PSDB perdeu em 2022 o governo do estado de São Paulo, sua maior vitrine política, administrado pelos tucanos desde 1995.

A tentativa de contornar o declínio por meio da federação com o Cidadania, assinada em 2022, foi bastante criticada. Cristovam Buarque, presidente do diretório brasiliense do Cidadania, classificou a aliança como um “desastre completo”. Desde o início, Cristovam alertou que a federação comprometeria a identidade de ambos os partidos, previsão que se confirmou face aos resultados eleitorais modestos. A federação elegeu apenas sete deputados federais, número que foi reduzido para cinco, evidenciando a incapacidade de reverter a trajetória descendente de ambos os partidos. O PSDB, que nasceu como um projeto político reformista e moderno, foi desmantelado por disputas internas, decisões estratégicas equivocadas e pela perda de vínculo com o eleitorado. Neste cenário, o vazio deixado pelo PSDB no centro político abriu espaço para o crescimento do PSD, que busca consolidar-se como a principal força centrista.

Enquanto o PSDB recua, o PSD, liderado por Gilberto Kassab, consolida-se como uma força emergente e potencialmente hegemónica no centro político. O partido elegeu o maior número de prefeitos nas eleições municipais de 2024, quebrando a hegemonia do MDB que prevalecia desde 1992. A eventual incorporação do PSDB ao PSD poderia resultar em um partido com maior alcance político, capaz de influenciar as principais decisões no país. a nível nacional.

A incorporação do PSDB pelo PSD abriria espaço para dois potenciais pré-candidatos à Presidência: Ratinho Júnior, governador do Paraná, e Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul. Ambos nomes com qualidades para a disputa presidencial. Juntas, as siglas formariam a maior bancada do Senado, com 16 parlamentares, e a quarta maior bancada da Câmara, com 60 deputados. No nível municipal, o partido resultante lideraria o G-103, grupo que reúne cidades com mais de 200 mil eleitores, e teria o maior número de prefeitos, consolidando uma base sólida tanto no interior quanto nas capitais.

As articulações envolvendo PSD e PSDB indicam uma tentativa de reconfiguração do centro político como alternativa à polarização entre o lulismo e o bolsonarismo. Contudo, a fragmentação interna e as disputas regionais continuam a ser grandes obstáculos à consolidação de um projecto político robusto, capaz de influenciar as eleições presidenciais de 2026. Se der certo a incorporação do PSDB ao PSD, um partido centrista com enorme musculatura política e imenso potencial para ser ainda maior na política nacional.

Certamente, a incorporação do PSDB pelo PSD mudaria significativamente o cenário partidário brasileiro, fortalecendo o PSD como força centrista e reconfigurando o espaço de oposição ao governo. Contudo, o sucesso desta estratégia dependeria de como o PSD geriria a absorção dos quadros tucanos, como se posicionaria nas eleições de 2026 e se seria capaz de oferecer uma alternativa viável à actual polarização. Se bem conduzida, a fusão poderá transformar o PSD no principal articulador do centro democrático do país.