BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se irritou com o manejo da crise que culminou na revogação da norma da Receita Federal que ampliaria a fiscalização das transações via Pix, segundo relatos de aliados.
Dentro e fora do Palácio do Planalto, a avaliação é que o governo sofreu uma derrota para a oposição, após uma sucessão de erros, no debate sobre o Fiscalização Pix.
Entre os pontos criticados está o fato de uma medida dessa magnitude ter recebido tratamento burocrático da equipe econômica, sem definição de estratégia de comunicação.
O presidente e a Casa Civil afirmam que não tiveram conhecimento da medida até a repercussão no mídia social.
O principal pecado que a oposição procura colar no governo é que se trata de uma gestão que gosta de impostos e de taxação. Nos últimos dias, vídeos e publicações críticas ao governo em relação à medida Pix se tornaram virais.
A principal delas é a do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG)no qual afirma que o governo “só pensa em arrecadar dinheiro, sem lhe oferecer nada” e fala em “quebra de sigilo disfarçada de transparência”. O vídeo tem mais de 200 milhões de visualizações no Instagram.
No vídeo, o parlamentar afirma que o Pix não seria tributado segundo a norma da Receita, mas diz “não ter dúvidas” de que o sistema de pagamentos poderá ser tributado no futuro e argumenta sobre os possíveis impactos das regras para trabalhadores autônomos profissionais e MEIs (microempreendedores individuais).
O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) chegou a afirmar nas redes sociais que iria à Justiça contra Nikolas por causa “das notícias falsas que ele espalhou sobre o Pix”.
Após reuniões descritas como tensas, Lula fez um cálculo político ao revogar a norma. Embora o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenha defendido o mérito da medida até a manhã desta quarta-feira (15), quando teve seu primeiro encontro com o presidente, ele pesou o argumento de que uma campanha publicitária não seria mais suficiente para frear a onda de críticas à medida, fake news e prática de crimes contra a economia popular, com aplicação de golpes.
Além disso, o governo foi alertado sobre o risco de aprovação de um decreto legislativo para derrubar a norma, caso mantida.
A contragosto, o presidente aceitou o recuo – comemorado pela oposição – acabar com o clima de desconfiança entre a população e o risco de fuga de dinheiro do sistema financeiro.
O ministro-chefe da Secom, Sidônio Palmeira, é visto como um dos principais defensores da revogação, com apoio de Rui Costa (Casa Civil) – que falou sobre o tema antes de sair de férias, na quarta-feira (15).
Segundo esses aliados, dada a repercussão nas redes sociais e nas ruas, Haddad não apresentava mais forte resistência à proposta de revogação da norma, mas pesava a favor de sua manutenção combinada com a edição de medida provisória sobre o tema.
Antes da revogação, houve a proposta de fazer um pronunciamento em rede nacional para explicar a medida.
O tema é o primeiro a contrariar Haddad e Sidônio, já que o feirante se tornou ministro do palácio na véspera. No passado, o marqueteiro defendeu a inclusão da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil no anúncio do pacote de redução de custos – e também saiu vitorioso.
Às vésperas da retirada, o secretário da Receita Federal, Robson Barreirinhas, defendeu a manutenção da medida em entrevistas. “O que acontecerá se eu revogar hoje? Prejudicarei diretamente os pequenos contribuintes e darei um presente aos criminosos”, disse ele.
O anúncio foi feito no Palácio do Planalto por Haddad, Jorge Messias (AGU) e Barreirinhas.
O martelo foi batido à tarde, após duas reuniões com a presença de Haddad e Sidônio. À tarde, Messias e Barreirinhas juntaram-se ao grupo.
Entre os erros elencados pelos aliados do presidente está o fato de o Ministério da Fazenda não ter definido uma estratégia antes de estabelecer a regra.
Diante da repercussão, os aliados do presidente reconheceram que sofreram uma derrota logo no início.
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Mas a retirada dividiu o governo. Parlamentares que integram a base governamental reclamaram da decisão após terem defendido publicamente a norma.
Sob reserva, um ministro afirma que o episódio deixa uma lição ao governo de que é preciso estar atento à construção de narrativas negativas antes de adotar medidas de impacto.
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