“Capitã Cloroquina” diz que participou “a convite” de evento nos Estados Unidos e omite uso de verba pública

“Capitã Cloroquina” diz que participou “a convite” de evento nos Estados Unidos e omite uso de verba pública


Mayra Pinheiro disse que participou num simpósio sobre as eleições americanas “por convite”, mas o evento foi pago com honorários parlamentares. (Foto: Anderson Riedel/PR)

A deputada federal Mayra Pinheiro (PL-CE), que ficou conhecida durante a pandemia de covid-19 como “Capitã Cloroquina”, integrou uma delegação da Câmara que acompanhou, em novembro passado, a apuração dos votos nas eleições presidenciais nos Estados Unido. Na época, a parlamentar publicou em suas redes sociais que esteve no país “a convite” do Instituto de Estudos Políticos, que estaria ligado à Universidade George Washington. Embora fale em convite, sua presença não foi uma cortesia e a parlamentar utilizou recursos públicos para pagar suas despesas.

A participação no programa criado para acompanhar a contagem de votos nos EUA custou 1.740 dólares, o equivalente a R$ 10,4 mil, no início de dezembro. Desse valor, R$ 9,1 mil foram reembolsados ​​pela cota, que é um valor destinado ao financiamento de diversas atividades dos deputados federais, incluindo a “participação parlamentar em cursos, palestras, seminários, simpósios, congressos ou eventos similares”, conforme estipulado no Regimento da Câmara. Regulamento Interno.

Embora a parlamentar tenha dito que o evento tinha relação com a Universidade George Washington, o simpósio, na verdade, foi uma iniciativa de três profissionais formados na Universidade, mas sem vínculo oficial com a instituição. Procurada, Mayra Pinheiro não respondeu e falou em “assédio” na reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. O marqueteiro David Meneses, um dos promotores do evento, afirmou que as palestras foram divulgadas para “todos os parlamentares brasileiros, independentemente de sua filiação partidária”.

Mayra foi secretária do Ministério da Saúde durante o governo Jair Bolsonaro, quando ganhou o apelido de “Capitão Cloroquina” ao defender, em declarações à CPI da Covid do Senado, o “tratamento precoce”, um coquetel de medicamentos ineficazes contra a Covid. comprovado.

Em 2022, concorreu a deputada federal e obteve 71 mil votos, sem conquistar cargo de deputada. Ela é a segunda suplente do PL cearense e ocupa o mandato substituindo André Fernandes, que se ausentou para concorrer à prefeitura de Fortaleza (CE). O retorno de Fernandes à Câmara está previsto para 11 de fevereiro. O candidato do PL perdeu a disputa para Evandro Leitão (PT) no segundo turno mais acirrado entre as capitais do país.

Os ingressos para o evento foram vendidos por US$ 2.900 ao público em geral. A cota não cobriu o custo total da inscrição de Mayra porque, na forma de “participação em cursos, palestras e seminários”, há um limite de R$ 9,1 mil no valor que pode ser reembolsado ao parlamentar.

Além de mais de 80% da taxa de inscrição paga pela cota, o deputado tinha passagens aéreas e viagens diárias nos Estados Unidos pagas pela Câmara. Os custos com transporte e hospedagem do “capitão da cloroquina” totalizam R$ 12,5 mil. O reembolso é possível porque Mayra estava em missão oficial, assim como José Medeiros (PL-MT) e José Airton Cirilo (PT-CE).

Medeiros esteve no mesmo simpósio que Mayra, mas ele mesmo pagou o ingresso. O valor das diárias e passagens pagas pela Câmara para Mato Grosso somam R$ 16,7 mil. José Cirilo, por sua vez, esteve em Nova Iorque a convite do Comité Internacional dos Social-Democratas da América. O custo com diária e hospedagem do petista é de R$ 18,2 mil.

Apesar do nome, o “Instituto de Estudos Políticos” não é uma instituição acadêmica, nem está vinculado à Universidade George Washington, como disse o parlamentar em postagem no Instagram. Segundo o ex-secretário, o evento foi “criado pela The Graduate School of Political Management, da The George Washington University, com o objetivo de manter ativa a mais importante rede de atores políticos da América Latina e do mundo”.

A afirmação de Mayra é infundada. O evento “O Poder da Democracia” não teve nenhuma ligação com a Universidade George Washington, a não ser ser organizado por três profissionais de marketing político que obtiveram mestrado na instituição. São os marqueteiros David Meneses, equatoriano, Israel Navarro, mexicano, e Yehonatan Abelson, argentino.

Além de se formarem, os três trabalharam na Universidade. Meneses foi coordenador do programa América Latina da instituição entre 2004 e 2011, enquanto Navarro foi coordenador de governança de 2007 a 2011. Abelson foi pesquisador e professor assistente entre 2008 e 2010. Meneses, Navarro, Abelson também trabalharam juntos em outros projetos e empresas.

O site do Instituto de Estudos Políticos registra parcerias com a NTN24, canal de televisão colombiana, e com o Centro Político, entidade de formação política de Miami, nos Estados Unidos. Não há menção de parceria com a George Washington University, como afirma Mayra Pinheiro. (Estadão Conteúdo)