Retorno do tipo 3 da dengue preocupa Ministério da Saúde, que traça estratégia para evitar explosão de casos

Retorno do tipo 3 da dengue preocupa Ministério da Saúde, que traça estratégia para evitar explosão de casos


No total, são quatro tipos de dengue, sendo 1 o mais comum na população, responsável por 73,4% das infecções.

Foto: Cristine Rochol/PMPA

No total, são quatro tipos de dengue, sendo 1 o mais comum na população, responsável por 73,4% das infecções. (Foto: Cristine Rochol/PMPA)

Depois de enfrentar uma crise em 2024 causada pelo aumento de casos e mortes por dengue, o Ministério da Saúde tenta evitar que o cenário se repita em 2025. Embora a previsão epidemiológica indique menos infecções, a propagação do tipo 3 da doença, que não circulava há dez anos, já deixa o departamento em alerta. Isso porque há menor proteção imunológica da população contra essa variante.

O elemento surpresa deste ano também deixou os especialistas em prontidão. No total, são quatro tipos de dengue, sendo 1 o mais comum na população, responsável por 73,4% das infecções. O tipo 3, porém, pode se espalhar e ter alta concentração de casos nas regiões Sul e Sudeste, principalmente no estado de São Paulo, um dos maiores em densidade demográfica do país.

“Você olha para o cenário passado e projeta o futuro. Se nada acontecer de diferente teremos menos casos, essa é a projeção, e eles estarão mais concentrados nos estados da região Sudeste e Sul”, explicou a secretária de saúde e vigilância ambiental Ethel Leonor, que faz a ressalva: “ O sorotipo 3 é a nova variável e está aumentando em São Paulo. Isso poderia aumentar a projeção.”

Associado ao ressurgimento do sorotipo 3, uma segunda preocupação é o elevado volume de casos registrados em 2024, já que as segundas infecções podem ser mais graves. Diante desse cenário, o Ministério da Saúde reforçou as ações de prevenção e vigilância, como antecipar em aproximadamente um mês a instalação do Centro de Operações Emergenciais da Dengue, além de reforçar a compra de vacinas, testes e inseticidas.

Para 2025, foram investidos mais de R$ 1,5 bilhão pelo departamento. Claudio Maeirovitch, médico sanitarista da Fiocruz em Brasília, explica que o número de casos registrados nos últimos meses de cada ano pode servir de “trampolim” para o cenário epidemiológico do próximo ano, principalmente na “temporada” da dengue, concentrada na primavera e no verão. O ano de 2024 registrou números maiores em todos os meses em relação a 2023. Em agosto, por exemplo, foram mais de 45 mil casos no ano passado, ante cerca de 28 mil em 2023.

“Nesse período chegávamos a quase zero casos, isso não acontece mais. Nos últimos anos temos mantido uma circulação notável ao longo do segundo semestre. Há um forte indício de que quanto maior o nível no segundo semestre, maior será a epidemia no ano seguinte”, afirma o especialista.

O secretário adjunto de Vigilância em Saúde e Meio Ambiente, Rivaldo da Cunha, afirma que o sorotipo 3 não causa infecções mais graves e que a preocupação se concentra na possibilidade de infectar um volume maior de pessoas.

“O vírus, quando fica muito tempo sem circular, infecta quem nunca teve contato com ele e, portanto, não tem imunidade, não tem anticorpos. A pessoa pode ter tido dengue tipo 1 ou tipo 2, mas se o tipo 3 chegar, ela terá novamente e pode ser mais grave. Irá infectar muita gente. Pode haver uma região no Brasil que não teve epidemia no ano passado e pode ter neste ano.”

Uma das principais preocupações do Ministério da Saúde é a mudança na gestão municipal, responsável por realizar a maior parte das ações de prevenção e atendimento à população. Uma das primeiras ações da secretaria neste ano foi o envio de nota informativa aos municípios no dia 2 de janeiro, alertando sobre a possibilidade de aumento no número de casos e reforçando a necessidade de continuidade das ações de prevenção.

Chikungunya

O Ministério da Saúde também registrou aumento no número de casos de chikungunya nas últimas quatro semanas de 2024, o que pode ser um complicador no combate à dengue. Segundo dados da pasta, foram registrados 3.563 casos prováveis ​​no período.

A preocupação dos especialistas também é com o tratamento da forma grave da doença, pois é necessário um atendimento clínico diferenciado. Por isso, os profissionais reforçam a necessidade de agilidade na realização de exames para que a doença seja rapidamente diagnosticada. Para 2025, o Ministério da Saúde enviou 6,5 milhões de testes rápidos aos municípios.

A secretaria também adquiriu mais de 215 mil quilos de larvicida e ampliou o uso da tecnologia para controle da doença. Com esse uso, os mosquitos são infectados pela bactéria “Wolbachia”, que previne o vírus arbovírus. Além disso, foram adquiridas mais 9,5 milhões de doses de vacina. O ministério, porém, destaca que ainda existem 3 milhões de doses estacionadas em estados e municípios.

(A informação é do jornal O Globo)