Há algo de errado em Brasília: os ministros de Lula e os juízes do Supremo estão mais preocupados com o fim das regulamentações do Facebook e do Instagram, anunciadas pelo empresário Mark Zuckerberg, do Meta, do que com os anúncios de Donald Trump sobre o “uso de recursos militares ou econômicos”. força” para promover a expansão territorial dos Estados Unidos — tomando o Canal do Panamá e a Groenlândia, além de anexar o Canadá.
Zuckerberg está na defensiva e, como Elon Musk, dono de uma legislação punitiva para empresas na União Europeia, na Austrália, e ainda incipiente na Índia e na Indonésia.
Zuckerberg e Musk lutam para neutralizar os avanços legislativos que limitam as iniciativas das suas empresas na construção do futuro num mundo digital. Eles querem transferir total responsabilidade por tudo o que publicam ou transmitem ao usuário/consumidor. Tentam principalmente impor regras corporativas às jurisdições nacionais. Em última análise, poderia resultar numa mudança nos padrões de arbitragem para as relações comerciais com base no conceito de soberania nacional, que orientou a evolução do capitalismo na Europa e nos Estados Unidos.
Em Brasília, onde a falta de compromisso do governo interrompeu o debate no Congresso sobre plataformas digitais, Zuckerberg e Musk estão conseguindo atrair mais atenção do que a ameaça de Trump de usar a força militar contra um aliado da OTAN, a Groenlândia, e tomar o Canal do Panamá. Vale a pena lembrar: a NATO é uma aliança militar regida pelo princípio de que um ataque contra um membro deve ser tratado como um ataque a todos. E o Canal do Panamá é uma rota vital para o escoamento de parte das exportações brasileiras.
Trump terá quatro anos no cargo para fazer tudo o que propõe, o que incluiria neutralizar a ascensão económica e tecnológica da China; fim da guerra da Rússia na Ucrânia; pacificação no Médio Oriente; expansão territorial dos EUA para o Norte (Groenlândia e Canadá) e para o Sul (cerco à fronteira com o México e tomada do Canal do Panamá), e repressão tarifária aos países que “cobrem demais” os produtos exportados pelos EUA — situação em que recentemente identificou Brasil e Índia. Além disso, tem uma agenda interna com valorização do dólar, redução da inflação, reindustrialização, aumento dos níveis de emprego e reformas sociais que restringem os direitos à saúde, à educação e à assistência social dos mais pobres.
O governo brasileiro, em todos os níveis, finge que Trump não é problema e, em caso de dificuldade, tudo pode ser resolvido através de conversa – se possível, como diria Lula, por causa de uma caixa de cerveja. Se ele está certo ou não, descobriremos em alguns dias.
Por enquanto, destaca-se a mensagem principal: Brasília está alheia, e aparentemente despreparada, para o caos que Trump anuncia em Washington e que deverá afetar os interesses do país nos próximos quatro anos.
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