BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) aprovou no final de 2023 uma resolução que, na prática, dobrou as diárias nacionais que juízes e ministros podem receber por mês.
A medida, que já gerou efeito cascata nos tribunais superiores, aumentou os salários dos magistrados em mais de R$ 10 mil por mês.
Os subsídios diários são pagos aos trabalhadores que se desloquem a trabalho, pontual ou temporariamente, para outro local do território nacional.
Também recebem o benefício aqueles magistrados que foram designados para atuar fora de sua jurisdição, como é o caso dos juízes dos estados que são chamados para atuar nos tribunais superiores de Brasília.
De 2016 a 2023, o valor máximo que os magistrados recebiam por diária era de R$ 700. Havia também um limite de 6,5 diárias por mês, o que representava um teto próximo a R$ 4,5 mil para esse benefício.
Com a decisão do CNJ, o valor passou para R$ 1.055,22, e a limitação foi ampliada para até dez diárias por mês. Em tese, o valor autorizado para pagamento de diárias é ainda maior, R$ 1.318. O corte de quase R$ 300 ocorre por conta de um teto estipulado na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias).
As diárias são remunerações, portanto podem ultrapassar o limite legal de remuneração no serviço público, atualmente R$ 44 mil.
Este ano, o STF (Supremo Tribunal Federal) gastou pelo menos R$ 1,2 milhão em pagamentos relativos a dez diárias mensais (que totalizam R$ 10,6 mil). Foram efetuados 117 pagamentos desse valor a juízes auxiliares e de instrução.
Segundo a assessoria de imprensa do STF, há 36 juízes designados para trabalhar no tribunal, e apenas dois, que moram nos apartamentos funcionais do tribunal, não recebem diárias. Cinco juízes que recebem diárias do Supremo Tribunal Federal são vinculados ao TJDFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios).
Cada gabinete conta em média com três juízes auxiliares ou instrutores, responsáveis por auxiliar os ministros na emissão de votos.
Segundo o STF, todos os juízes afastados de sua função original têm direito ao recebimento de diárias como forma de compensação pelo afastamento de suas residências nas cidades onde atuam como juízes. O tribunal citou artigos da Lei Orgânica do Poder Judiciário Nacional para justificar o benefício.
O órgão afirmou ainda que, para receber as diárias, o chefe de gabinete do local onde trabalha deverá informar oficialmente quantos dias do mês esteve em deslocamento.
Não podem receber diárias quem mora em apartamento funcional, quem recebeu auxílio para mudança para Brasília ou quem optou pelo auxílio moradia.
No CNJ, 35 juízes auxiliares receberam “diárias mensais” em abril, sendo que 26 deles receberam o valor máximo de R$ 10,6 mil. Outros quatro receberam R$ 9,4 mil.
O conselho justificou que todo e qualquer funcionário público ou magistrado que trabalhe fora do domicílio receba subsídios diários, conforme previsto na legislação. Os valores e critérios estão sujeitos a regulamentação específica.
Segundo o órgão, o juiz que não resida permanentemente no Distrito Federal e trabalhe presencialmente no CNJ dez dias ou mais por mês recebe o limite máximo de dez estadias diárias. Se ele trabalhar presencialmente por um número menor de dias, recebe proporcionalmente.
O conselho afirmou ainda que as atualizações seguem a Lei de Orientações Orçamentais que autoriza o pagamento de ajudas de custo diárias para deslocações em negócios no território nacional, na legislação de 2015.
O novo valor, afirma o órgão, foi atualizado pelo IPCA acumulado desde a entrada em vigor da lei.
Além disso, acrescentou que os juízes auxiliares que moram em Brasília e não têm residência permanente no Distrito Federal recebem o valor. Eles começam a receber o benefício a partir do momento em que são convocados e designados para trabalhar no CNJ da capital.
No STJ (Superior Tribunal de Justiça), 26 juízes auxiliares e de instrução receberam dez diárias em abril. O tribunal respondeu que os juízes optam por receber subsídio de habitação ou subsídio diário.
Em abril, seis juízes auxiliares do TST (Tribunal Superior do Trabalho) receberam o limite máximo de R$ 10,6 mil em diárias.
Segundo o órgão, o limite diário aumentou neste ano “tendo em vista a equivalência com a percepção dessa compensação no CNJ, no TSE e no STF, bem como no caráter singular do poder judiciário nacional”.
No TSE, sete juízes eleitorais receberam, em abril, R$ 10,6 mil em diárias. Um juiz recebeu o dobro do valor por obter também o valor correspondente ao mês de março.
Segundo os autos, o ministro Floriano Peixoto de Azevedo recebeu R$ 10,6 mil em diárias referentes ao mês de março. O ministro André Ramos Tavares obteve pagamentos diários retroativos desde setembro do ano passado, no valor de R$ 55,4 mil.
Atualmente, sete juízes auxiliares atuam no TSE. Segundo o tribunal, nenhum deles recebe auxílio-moradia para cobrir aluguel ou alojamento, razão pela qual, mediante nomeação e enquanto estiverem no cargo, têm direito a uma mensalidade de até dez diárias.
O TSE informou ainda que, ao votar pelo aumento do limite diário, o ministro Alexandre de Moraes argumentou que o teto anterior “não era mais compatível com os custos totais da permanência do magistrado em Brasília, razão pela qual o aumento para 10 diárias, em a fim de garantir a adequada recuperação das despesas face ao necessário cumprimento de funções durante o mês”.
Em 2018, o CNJ aprovou uma resolução com novas regras para o pagamento do auxílio-moradia, o que fez aumentar o desembolso das diárias. O benefício era bem mais restrito e pago a apenas 1% dos 18 mil magistrados.
Ficou estabelecido que o reembolso das despesas com moradia não poderia ultrapassar o teto de R$ 4.300, atualizado anualmente e pago apenas aos juízes que fossem transferidos para outra comarca por interesse do serviço público.
No Judiciário federal, os magistrados ganham, em média, até sete vezes mais que os demais servidores. O salário médio da categoria é de R$ 28 mil, segundo dados do CNJ de setembro do ano passado. A média não inclui eventuais remunerações, gratificações por tempo de serviço e outros rendimentos que aumentem os salários dos juízes.
Dados do Tesouro Nacional mostram que, em 2022, o Brasil gastou R$ 159,7 bilhões em seu sistema de Justiça. Desse total, 82,2% foram destinados aos salários de juízes e servidores, inclusive do Ministério Público.
Os gastos do poder público brasileiro com os Tribunais de Justiça, incluindo a remuneração de magistrados e servidores, consomem o equivalente a 1,6% do PIB (Produto Interno Bruto), recorde entre 53 países analisados pelo Tesouro Nacional e quatro vezes a média internacional .
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