Daniel Craig sobre viver gay nos cinemas após Jame…

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Ao fugir da polícia nos Estados Unidos, o escritor William Lee (Daniel Craig) vai morar na Cidade do México — onde, em noites movidas a cocaína, heroína e álcool, conhece o jovem ex-marinheiro Eugene Allerton (Drew Starkey), com quem começa um tórrido romance. Baseado no livro homônimo de um dos ícones do movimento beatnik, William S. Burroughs, Queerdo italiano Luca Guadagnino, mostra a jornada do casal em uma jornada psicodélica em busca da ayahuasca. Em exibição no Brasil desde a semana passada, o filme carregado de erotismo mostra uma faceta revitalizada do Daniel Craigque durante anos ficou “preso” no papel de James Bond. Em entrevista a VEJA, o astro inglês reflete sobre a nova fase da carreira e comparou o trabalho em Queer com os longos anos liderando a franquia 007. Confira abaixo:

Você está sendo cotado para uma indicação ao Oscar por Queer. Como você analisa essa fase da sua carreira e o que busca daqui para frente? Nunca procuro algo, o que procuro fazer é sentir e ver o que vem pela frente. Já faço isso há muito tempo e não consigo descrever o quanto estou grato e animado por ter uma oportunidade como essa na minha carreira depois de tudo que fiz. Trabalhando com Lucas [Guadagnino] neste projeto É algo que eu nem listaria como desejo, porque é extraordinário demais. Estou muito feliz e satisfeito e em um momento muito bom profissionalmente.

Para fugir da imagem de Bond e da masculinidade intrínseca ao personagem, era importante desempenhar um papel radicalmente oposto a ele? Eu não acho. Eu não poderia desempenhar esse papel enquanto interpretava Bond. Acho que pareceria reativo. Seria mais uma declaração sobre Bond do que sobre mim e o que quero fazer. Agora que não faço mais Bond, posso fazer filmes como esse, mas não vejo dessa forma.

Sair da franquia 007 lhe deu a chance de explorar papéis com estilos diferentes? Não exatamente. Eu não vejo dessa forma. Eu estava fazendo algo que ocupava boa parte da minha vida e era incrível. Tentei fazer filmes lindos e os melhores longas que conseguimos fazer dentro do gênero, afinal, foram filmes de James Bond. Mas não creio que seja diferente com Queer. Entrei neste filme com o mesmo sentimento de comprometimento que coloquei nos filmes de Bond: dar o meu melhor. É uma impressão jornalística, essa coisa de eu estar fazendo alguma coisa como forma de reação. Eu sinto que isso é inimigo da arte.

Além da questão da sexualidade, Queer trata-se também da solidão e do desejo de se conectar com alguém. Como você se relaciona com essa história? Estes são temas universais. Não sei se já experimentei a verdadeira solidão, mas já estive sozinho, senti desejo, luxúria e todas as coisas que vi em Lee são pontos com os quais consigo me conectar facilmente. O roteiro é lindamente fiel ao livro e [William S] Burroughs escreveu sobre o que não é dito, o que está abaixo da superfície. Então, o que me interessou no personagem é a maneira como ele se esconde atrás de muitas coisas, como drogas, álcool e todas essas coisas que são ótimas para atuar.

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O filme conta com diversas cenas de sexo, mas também carrega uma forte bagagem emocional. Qual desses dois aspectos foi mais difícil como ator? São coisas interligadas, não creio que seja possível separar esses dois aspectos.

Ainda sobre a questão da intimidade e da nudez na tela, como foi ser vulnerável na tela? Acho que a resposta mais simples é essa Drew Starkey é um parceiro de atuação maravilhoso e divertido, e rimos muito. Ele é um jovem ator brilhante e sensível que sabe o que está fazendo e trabalha muito. Fizemos o nosso melhor e é isso que faz as cenas serem o que são. Espero que sejam tão reais quanto possível e tão sensíveis quanto possível. Mas conto com toda a equipe para cenas como essas. Não é um gesto individual, é um esforço coletivo de várias pessoas.

O filme foi aplaudido em Veneza, mas foi proibido em Türkiye. Além das decisões criativas, existe uma posição política na escolha de fazer Queer? Acho que há uma postura política em tudo que é arte. Não creio que seja diferente com este filme, nem para mais nem para menos.

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