Bolsonaro pode ser preso? O que a prisão do general Braga Netto indica sobre futuro do ex-presidente

Bolsonaro pode ser preso? O que a prisão do general Braga Netto indica sobre futuro do ex-presidente


Bolsonaro é apontado pela PF como líder da organização criminosa que planejou um golpe de Estado. (Foto: Marcos Corrêa/PR)

A prisão do general da reserva Walter Braga Netto, homem forte do governo de Jair Bolsonaro (PL), reacendeu as especulações sobre uma possível prisão do ex-presidente, identificado pela Polícia Federal (PF) como líder da organização criminosa que planejou um ataque golpe de Estado para mantê-lo no poder após sua derrota nas eleições de 2022.

Apesar da sensação de que há um cerco da justiça se aproximando de Bolsonaro, peritos criminais dizem que, até o momento, não há elementos que justifiquem sua prisão preventiva —ou seja, uma prisão como medida cautelar, antes de um possível processo criminal com condenação e decisão final e irrecorrível (quando não houver mais recursos disponíveis).

De acordo com a legislação brasileira, a prisão preventiva só pode ser ordenada sob certas condições, como nos casos em que o suspeito continua a cometer crimes, tenta escapar da justiça ou atua para dificultar as investigações.

A prisão de Braga Netto, por exemplo, foi ordenada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes sob a alegação de que ele teria tentado interferir nas investigações, ao buscar obter dados sigilosos do acordo de colaboração de Mauro Cid, ex-ajudante de campo de Bolsonaro.

As acusações contra Braga Netto, porém, não passam automaticamente para Bolsonaro, ainda que ambos tenham sido próximos, destaca Mauricio Dieter, professor da Universidade de São Paulo (USP).

O general foi candidato a vice na chapa presidencial de Bolsonaro pelo PL em 2022 e ministro da Casa Civil e Defesa do ex-presidente.

“Para que uma prisão sem caráter definitivo seja declarada, os investigados devem tomar medidas concretas que impeçam a aplicação da lei penal. Não temos notícias de que Bolsonaro esteja tentando constranger as investigações, suprimir provas ou fugir do país”, observa o professor da USP.

Ele destaca que outras medidas podem ser adotadas para restringir a liberdade dos investigados antes da prisão, o que já ocorreu no caso de Bolsonaro, que teve o passaporte confiscado e foi proibido de se comunicar com outros suspeitos, como o presidente do PL , Valdemar Costa Neto.

“A prisão antes da condenação é uma medida extrema. A regra deve ser a liberdade. A pessoa tem direito de responder em liberdade, principalmente porque quem está preso tem condições menos concretas de se defender. Será mais difícil pagar um advogado, por exemplo”, acrescenta Dieter.

Considerando o que se sabe sobre as investigações, o advogado João Pedro Pádua, professor de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), também não vê elementos que justifiquem a prisão preventiva de Bolsonaro neste momento.

“Devido ao conteúdo da decisão [que determinou a prisão de Braga Netto]nada indica que estejam se aproximando da figura de Bolsonaro”, disse.

Para Pádua, possível prisão preventiva do ex-presidente poderia ocorrer caso novos elementos descobertos na investigação apontem alguma ação para tentar fugir ou interferir nas investigações, por exemplo. Ele lembra que a Polícia Federal ainda analisa o material apreendido na operação que prendeu Braga Netto e também atingiu o coronel Flávio Botelho Peregrino, militar reformado e ex-assessor do general.

Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal e outros 36 investigados em novembro, acusados ​​de tramar um golpe de Estado para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu vice, Geraldo Alckmin.

Segundo as investigações, o plano autoritário envolvia inclusive a intenção de matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

Bolsonaro nega as acusações. Ele reconhece que discutiu com o comando das Forças Armadas a possibilidade de instauração do Estado de Sítio no país após sua tentativa de questionar a validade das eleições de 2022 ter sido rejeitada pelo TSE, mas afirmou que isso estaria dentro das regras constitucionais.

Embora a prisão de Braga Netto tenha sido baseada em sua suposta interferência nas investigações, motivo legal para prisão preventiva, a decisão é questionada pela ala bolsonarista.

O próprio ex-presidente criticou na rede social Bolsonaro e Braga Netto.

“Como alguém pode, hoje, ser preso por obstruir investigações já concluídas?” perguntou Bolsonaro.

A PF, porém, ainda tem investigações em andamento. Na verdade, mais três pessoas foram indiciadas na quarta-feira (11), elevando o total para 40.