FOLHAPRESS – A Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), que reúne 340 deputados federais e senadores, defendeu neste domingo (15/12) uma investigação conduzida com urgência e rigor sobre a suspeita de que “gente do agronegócio” tenha financiado um tentativa de golpe em 2022.
O grupo afirmou ainda que “ações isoladas” não podem comprometer a imagem do setor.
Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) em 21 de novembro, o Tenente Coronel Mauro Cid, ex-ajudante de campo de Jair Bolsonaro (PL)mencionou a entrega por Braga Netto de dinheiro obtido “de gente do agronegócio”.
A afirmação consta da decisão sobre a prisão preventiva do general, tomada no sábado (14/12).
Não há detalhes nas investigações sobre a origem exata dos recursos que teriam sido disponibilizados pelo general. O dinheiro, segundo Cid, foi entregue a um soldado sob investigação em uma sacola de vinho.
À Folha, a frente parlamentar que representa os interesses do setor agropecuário, garantidora da bancada ruralista no Congresso, defendeu que “os responsáveis sejam identificados e punidos com o máximo rigor da lei, independentemente da atividade econômica dos envolvidos”.
A frente classificou o suposto financiamento como ações isoladas.
“É inadmissível que sejam utilizadas ações isoladas para generalizar e comprometer a imagem de um setor económico composto por mais de 6 milhões de produtores e que desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do país”, argumentou, exigindo que as investigações sejam conduzidas “de forma legal, transparente, equilibrado e em estrita observância ao disposto na Constituição Federal”.
A reportagem também entrou em contato com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e a ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio), que não responderam ao pedido de comentários até a publicação deste texto.
Alexandre de Moraes
A decisão do Ministro Alexandre de Moraes que autorizou a prisão de Braga Netto relata que os militares forneceram recursos para o plano de matar, em 2022, o presidente eleito, Lula (PT), seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), e o próprio Moraes.
De acordo com Decisão de Moraes neste sábado, esse depoimento de Cid, de 21 de novembro, e documentos obtidos na investigação indicam que “foi Walter Braga Netto quem obteve e entregou os recursos necessários à organização e execução da operação ‘Punhal Verde e Amarelo’?’” .
O Plano Punhal Verde Amarelo previa matar as autoridades. O “evento da Copa do Mundo de 2022” foi a operação para sequestrar Moraes em 15 de dezembro de 2022, segundo a PF.
O documento do STF diz que o tenente-coronel Rafael de Oliveira se reuniu com Braga Netto e, na ocasião, o general entregou a Oliveira dinheiro, guardado em um saco de vinho, para “realizar a operação”.
Os valores, segundo depoimento de Cid, teriam sido obtidos de “gente do agronegócio”.
A participação dos setores do agronegócio foi relevante nos atos antidemocráticos em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília, onde apoiadores de Bolsonaro convocaram a intervenção das Forças Armadas contra o resultado das eleições que deram a vitória a Lula (PT). Foi deste acampamento que saíram os golpistas que vandalizaram as sedes dos três poderes em 8 de janeiro de 2023.
Como mostrou a Folha, ainda em novembro de 2022, parte dos caminhões estacionados em frente à sede eram de empresas do setor. Doze veículos ostentavam o nome da Agritex, revendedora de máquinas, peças e equipamentos agrícolas que atua em sete cidades. A empresa foi posteriormente uma das dez empresas com contas bloqueadas por financiar os atos golpistas.
Os caminhoneiros contaram reservadamente ao repórter, durante os acontecimentos, que foram para a capital federal por decisão de seus patrões e que foram orientados a permanecer na cidade até segunda ordem. Funcionários de uma das empresas disseram que o patrão autorizou o grupo a ajudar financeiramente outros manifestantes acampados.
A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) identificou que 272 caminhões entraram em Brasília a partir de novembro para participar das manifestações.
Aproximadamente metade dos veículos pertenciam a empresas, segundo relatório enviado à CPMI no dia 8 de janeiro. A maior parte da frota restante era nova ou usada e estava registrada em nome de pessoas físicas com participação acionária em empresas de médio porte do setor agrícola.
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A Sipal Indústria e Comércio, de Paranaguá (PR), contava com dez veículos, maior número identificado pela Abin como pertencentes à mesma empresa. A reportagem identificou ainda que um empresário, Alexandro Lermen, era dono de sete caminhões que participaram dos atos golpistas. Eles também tiveram contas bloqueadas.
Na ocasião, as empresas e o empresário citados não responderam.
Outro empresário que teve contas bloqueadas pelo STF, acusado de financiar protestos antidemocráticos em frente a quartéis, Argino Bedin foi intimado a prestar declarações à CPI no dia 8 de janeiro, mas, após habeas corpus do Supremo, não o fez. responder perguntas.
Chegou a chorar na frente de deputados e senadores e recebeu um abraço da senadora Tereza Cristina (Progressistas-MS), ex-ministra da Agricultura de Bolsonaro. Argino foi consolado pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra do mesmo governo.
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