Filho de delegado que prendeu Lula na ditadura faz parte da equipe médica do presidente

Filho de delegado que prendeu Lula na ditadura faz parte da equipe médica do presidente


Rogério Tuma é filho do ex-senador Romeu Tuma.

Foto: Agência Brasil

Rogério Tuma é filho do ex-senador Romeu Tuma. (Foto: Agência Brasil)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu alta hospitalar neste domingo (15). Entre os médicos que prestavam atendimento diário no Hospital Sírio-Libanês está o neurologista Rogério Tuma. Ele é filho do ex-senador Romeu Tuma.

Lula e Romeu se conheceram na década de 1970, quando o petista era dirigente sindical e organizava greves no ABC paulista. O delegado chefiou a unidade paulista do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), um dos principais órgãos repressivos da ditadura militar, entre 1977 e 1982. Entre suas atribuições estava a investigação dessas mesmas greves.

No dia 17 de abril de 1980, o metalúrgico foi preso, acusado de subversão. Enquadrado pela Lei de Segurança Nacional, foi encaminhado ao Dops e soube pela rádio que a notícia havia se tornado pública. Esteve preso durante 31 dias, mas não foi torturado e prestou declarações por escrito, segundo contou à Comissão Nacional da Verdade.

O político paulista nasceu em 1931 e faleceu em 2010, aos 79 anos, quando cumpria o segundo mandato como senador e era filiado ao PTB. Deixou quatro filhos, incluindo o médico Rogério. Apesar da posição do delegado, Lula entende que recebeu tratamento digno de Tuma na época.

Ele foi autorizado, por exemplo, a sair algumas vezes da prisão para visitar sua mãe, Dona Lindu, que estava doente e faleceu em maio daquele ano. O petista também relatou que teve acesso a rádios e jornais e que pôde assistir aos jogos do Corinthians pela televisão enquanto esteve detido.

Com a extinção do Dops, em 1983, o delegado passou a ocupar o cargo de superintendente da Polícia Federal em São Paulo e depois diretor-geral da corporação, indicado pelo presidente José Sarney e pelo ministro da Justiça, Fernando Lyra. O grupo “Tortura Nunca Mais” reclamou na época da indicação, acusando-o de ser “um nome conhecido por estar ligado à repressão social e política”, ainda que não tenha sido estabelecida uma ligação direta entre o delegado e os abusos cometidos contra civis. comprovado.

Entre as investigações que Tuma liderava na época estavam as do assassinato do ativista ambiental Chico Mendes e do sequestro do empresário Abílio Diniz, caso que tem como polêmica adicional a possibilidade de ter influenciado as eleições vencidas por Fernando Collor contra Lula, em 1989. grupo de criminosos era formado por militantes do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), do Chile, mas a polícia apresentou, na véspera da votação, camisetas do PT e materiais de campanha de Lula que supostamente teriam sido encontrado em cativeiro.

Depois de atuar como secretário da Receita Federal no governo Collor, foi demitido da Polícia Federal pelo governo Itamar Franco, que assumiu com o impeachment do alagoano. Retornou então à Polícia Civil e tornou-se assessor do governador Luiz Antônio Fleury Filho (MDB), em 1993. No ano seguinte, concorreu e conquistou uma das duas cadeiras no Senado pelo estado de São Paulo, pelo P.L. Passou pelo PSL e pelo PFL, perdeu as eleições para prefeito de São Paulo em 2000, apoiando Marta Suplicy (PT) no segundo turno, e foi reeleito senador dois anos depois.

Nesse ínterim, o sindicalista do ABC ajudou o PT a se firmar como partido de expressão nacional e chegou à presidência da República, sucedendo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 2002.

Ao ingressar no PTB, em 2007, Tuma passou a fazer parte da base aliada de Lula, que estava no segundo mandato e tinha grande popularidade. Nessa época, outro de seus filhos, o ex-deputado estadual Romeu Tuma Júnior, tornou-se secretário nacional de Segurança. Júnior entrou em conflito com o governo e foi demitido, prejudicando novamente o relacionamento.

Prestes a concorrer novamente ao Senado, em 2010, Romeu Tuma começou a sofrer de um quadro infeccioso e depois de problemas de insuficiência cardíaca. Ele faleceu no mesmo Hospital Sírio-Libanês, onde foi atendido pelo filho médico, que ficou abalado com o episódio. O presidente Lula lamentou a perda e, em nota divulgada pelo Palácio do Planalto, disse que o ex-senador “dedicou grande parte de sua vida à causa pública, agindo de forma condizente com sua visão de mundo e, portanto, merece o reconhecimento e o respeito dos brasileiros”.